quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Onde os críticos dos médicos cubanos guardam o seu racismo?



Comparar vocação com opressão é tão estúpido quanto – guardadas as proporções – dizer que Irmã Dulce trabalhava como escrava para a Igreja Católica


Está em todos os jornais desta terça feira (27): os 96 médicos, sendo 79 cubanos, que desembarcaram no Ceará para fazer o curso preparatório para atuar na saúde pública brasileira foram hostilizados e xingados na saída da primeira aula, logo após a Solenidade de Acolhimento. Um grupo de cerca de 50 médicos esperavam os estrangeiros do lado de fora da Escola de Saúde Pública de Fortaleza, vaiando, gritando e xingando os profissionais.
 
Alguns chamaram médicos que são funcionários públicos de carreira do Ministério da Saúde de Cuba de "escravos" ou "semi-escravos". Além da ofensa grosseira à ideologia de vida escolhida por cidadãos cubanos altamente qualificados e pelo desrespeito à autodeterminação dos povos, causa extremo mal-estar a conotação racista, ainda que a intenção não tenha sido essa.
Mas ninguém se superou mais do que uma colunista de olhos azuis de um jornalão paulista, ao dar o título na matéria de sua coluna sobre o assunto de "Avião negreiro", referindo-se aos voos que trazem os médicos cubanos.
Cuba é um país com grande parte da população afrodescendente e, pelo ensino ser totalmente público e igual para todos, há muitos médicos negros, inclusive muitos que estão vindo ao Brasil. Fazer comparações depreciativas com a escravidão é de um absoluto mau gosto.
Pelo contrário, o fato de muitos negros cubanos exercerem profissões consideradas de alto prestígio social, demonstra que aquela nação socialista superou a herança maldita da escravidão há algum tempo.
Além disso, se Cuba tem seus problemas a serem superados, sob muitos aspectos, saúde entre eles, Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de lá é consideravelmente superior ao brasileiro. E são médicos cubanos que estão se dispondo a ir para as regiões mais subdesenvolvidas do Brasil para melhorar este índice. Em vez de esses brasileiros criticarem, deveriam agradece e a eles se juntar.
Outra coisa é a falta de visão fora do modelo consagrado do capitalismo. Por ser uma nação socialista há mais de cinco décadas, quem se forma em medicina em Cuba é porque tem vocação para ser médico, para salvar vidas, acima de interesses financeiros. Comparar vocação com opressão é tão estúpido quanto – guardadas as proporções – dizer que Irmã Dulce trabalhava como escrava para a Igreja Católica.
Felizmente a maioria da população repudiou veementemente esses ataques de xenofobia e preconceito. As próprias cartas de leitores dos jornalões, em grande parte estão dando boas vindas aos que querem atender pacientes do SUS que hoje não tem médicos, sejam brasileiros, cubanos ou de outros países.
por Helena Sthephanowitz
Crédito: Rede Brasil Atual

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Os comentários aqui publicados são de responsabilidade de seus autores.