sábado, 18 de janeiro de 2014

Síria: uma calamidade não natural

Síria, guerra na Síria
Nos últimos anos se tem falado muito de as mudanças climáticas no planeta continuarem sendo uma das causas das revoluções e de conflitos armados nos países africanos e no Médio Oriente.

O aquecimento global faz agravar os problemas seculares dos países pobres com um clima quente. Sorcha O'Callaghan, do Instituto Britânico Ultramarino (Overseas Development Institute), declarou em 2007, que "o aquecimento global se tornou um assunto em moda ao ponto de se explicar tudo que se passa à nossa volta". No ano passado, em entrevista ao periódico Washington Post, o chefe do Centro para o Clima e Segurança (Center for Climate and Security), com a sede em Washington, Francesco Femia, anunciou que o aquecimento global teve um enorme impacto tanto na "primavera árabe", como no conflito sírio. No seu parecer, os cinco anos da seca causaram a miséria nas zonas agrícolas e um êxodo de granjeiros que procuraram emprego nas regiões urbanas: "A imigração interna tinha lugar, sobretudo, na periferia, à custa de agricultores que empobrecidos, sem respectivos meios de subsistência. Eles todos se deslocaram para as zonas urbanas economicamente instáveis devido ao afluxo de refugiados iraquianos e palestinos".
Há, no entanto, uma ressalva – não se pode afirmar que as mudanças do clima veio provocar as guerras civis. Mas podemos dizer terem existido condições climáticas severas que levaram à instabilidade. Francesco Femea realçou ainda que o aquecimento global poderá continuar a se repercutir no decurso da guerra na Síria. A seca ali já tinha acabado. Segundo um homem de negócios sírio, uma temporada com tais chuvas como em 2013 podia proporcionar cerca de 4 milhões toneladas de grãos o que teriam sido suficiente para abastecer aquele país durante um ano inteiro. Mas as previsões mais optimistas apontam para apenas 2 milhões de toneladas.
Ora, hoje em dia, não é a natureza, mas sim as pessoas em guerra são os que trazem mais sofrimentos, provocando a fome e a sede. Mesmo tomando em conta que uma parte de agricultores se encontram em cidades cercadas, os sistemas de irrigação foram danificados, um parte de campos está sob o controlo de rebeldes, nas zonas de combates se encontram milhares de toneladas do trigo. Antes da guerra, quase dois terços da safra eram vendidos ao Estado que subsidiava a sua produção. Agora, ninguém quer correr o risco de transportar cereais para as cidades por causa de combates e tributações em numerosos postos militares de passagem e controle. Além disso, os rebeldes não deixam de passar cargas com a ajuda humanitária para os campos de refugiados
Em resultado disso, segundo disse o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, mais de 9 milhões de cidadãos sírios necessitam de ajuda humanitária urgente. Isto ocorre num país que podia ser auto-suficiente em termos de alimentos. Nas avaliações da ONU a assistência se avalia em 6,5 milhões de dólares. Claro que durante a seca a Síria teria precisado de uma soma inferior mas naquela altura esse dinheiro era usado para objetivos diferentes.
A tentativa de afastar da arena politica Bashar Assad e, ao mesmo tempo, estragar a vida dos iraquianos se estima em 130.000 mortos. Seria pouco provável que as forças de natureza insensatas pudessem assestar um golpe como esse. Mas os homens "sensatos" angariaram primeiro os meios para a compra de armas e depois para liquidar efeitos de seu uso.
Resta aclarar se "os amigos a Síria" poderão deixar suas ambições em prol de pessoas simples? Convém lembrar uma declaração publicada em finais de Outubro de 2013 no jornal The New York Times feita então pelo chefe da Casa Civil dos EUA, Denis McDonough: "A situação na Siria é tal que poderá manter ocupado o Irã durante anos. A guerra na Síria entre o movimento Hezbollah e a al Qaeda é capaz de servir os interesses dos Estados Unidos".
Foto: EPA
Créditos: Voz da Russia

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