domingo, 10 de maio de 2015

Internet faz sala de aula perder o sentido na formação

A Professora Doutora Ana Elvira Steinbach Torres, do DHP/CE/UFPB, está entre os docentes do Mundo a defender a tese de que a Sala de Aula de concreto, como sempre foi empregada ao longo dos séculos na formação estudantil, está com dias contados depois do advento da Internet que afetou fortemente o currículo, enciclopédia e a biblioteca – esteios da educação.
Não vejo mais sentido para a “sala de aula” de concreto na formação em cursos de graduação no Brasil depois dos tablets. Não vejo sentido em passarmos calor ou frio, falta de recursos para dar aulas, insegurança nos transportes e acesso, violências do sistema, para ficar em contato com um conhecimento representado pelo professor, quando na internet o conhecimento está disponível dessa forma mais personalizada, propagada e portabilizada (mais um neologismo necessário).
Considerando as formas de classificação do conhecimento, três formas são abordadas: o currículo, a enciclopédia e a biblioteca.
O currículo é o percurso, o curso realizado para o desempenho formativo de um determinado campo profissional ou área do conhecimento humano. Tende a ser uma especialização do conhecimento.
A enciclopédia é a pretensa reunião de todo o conhecimento humano rigorosamente capitalizado de forma a servir de bastião tradicional do conhecimento acumulado, válido e representativo do poder de erudição humana e de reunião de verbetes relevantes para o conhecimento em sua forma generalizada.
A biblioteca é a coleção lógica do conhecimento, uma distribuição das estantes por hierarquia de valor e de mérito, uma vez que o conhecimento que ascende às bibliotecas é motivo de julgamento permanente por parte da sociedade, de ser válido, relevante, e rigoroso. Chegar a ter uma obra digna de pertencer a uma biblioteca é luxo para poucos. Assim como nos museus, estar lá em obra é sinal de imortalidade. A biblioteca também é uma classificação generalista, onde se pretende ter o conhecimento devidamente catalogado e salvaguardado.
Porém, essas formas de classificação, com a internet e a abertura dos sistemas online, mudam radicalmente agora. O currículo passa, de ser uma especialização, a ser uma personalização. Cada um pode escolher, na internet, qual conhecimento é mais adequado para a sua formação, expandindo assim o critério de currículo que temos na área educacional e na noção de escolarização. A enciclopédia deixa de ser um material de colecionadores, pesado, cuja renovação se dava em décadas, para ser uma construção coletiva, móvel, errática, criativa, revisionista, mais democrática, porém menos rigorosa. 
A Wikipédia é o exemplo da enciclopédia na era da informação online. Qualquer um, de qualquer parte, pode criar um verbete, modificar versões, até o infinito, basta conectar-se com um computador e uma rede de internet. A "enciclopédia" da era online é pura propagação. 
Já a biblioteca, de lugar-espaço físico, passa a ser pertencente aos portais online, através dos quais o acesso ao conhecimento se torna globalizado de maneira rápida, ou seja, o conhecimento contido na biblioteca passa a ser portabilizado, acessível ao toque de um dedo. Posso frequentar através dos portais as maiores bibliotecas do mundo.
A internet, no limite, assim como modifica a classificação do conhecimento, reclassificando-o, coloca também em xeque o nosso espaço físico da sala de aula. Para que a sala de aula convencional, para onde vêm estudantes que viajam 1 hora em transporte coletivo sem conforto, para chegarem já cansados depois de uma jornada de trabalho diurno, para frequentarem cursos noturnos na universidade, em salas de aulas que às vezes sequer são bem iluminadas? (Quero defender aqui a mesma ideia econômica aplicada à saúde no atendimento domiciliar às pessoas idosas (reduz os custos de internação, otimizando-os no domicílio), assumindo a defesa de que aplicar os recursos que temos para a educação na própria casa das pessoas, tornaria o processo de formação profissional de adultos muito mais eficiente e barato). 
Não vejo mais sentido para a “sala de aula” de concreto na formação em cursos de graduação no Brasil depois dos tablets. Não vejo sentido em passarmos calor ou frio, falta de recursos para dar aulas, insegurança nos transportes e acesso, violências do sistema, para ficar em contato com um conhecimento representado pelo professor, quando na internet o conhecimento está disponível dessa forma mais personalizada, propagada e portabilizada (mais um neologismo necessário).
O professor não pode personalizar o ensino na sala de aula com classes cada vez maiores, 40, 50, 60 estudantes; não pode portabilizar o conhecimento em si desconsiderando seus limites humanos, não pode propagar mais do que para a sua audiência localizada. A sala de aula é um espaço público por excelência, comum, igualitário. Requer um discurso comum para ser comutado entre as pessoas que estão tendo a experiência da sala de aula convencional. Mas não pode sobreviver com carências enquanto a internet a supera. 
O espaço virtual na internet também pode prestar esse serviço, através de salas de aula virtuais, e os professores e professoras devem migrar, no futuro, para o Youtube, entre outras mídias digitais. Os professores e estudantes não podem mais transportar o mundo para dentro da sala de aula porque a pós-modernidade e seus artefatos nos desalojaram dessa função, o mundo está sendo por uma tela de computador. Muitos critérios educacionais, então, devem ser modificados. Como a vivemos hoje, ainda estática, imóvel e tradicional (às vezes até protegida por grades), o fim da sala de aula está bem mais próximo do que imaginamos. Ana Elvira Steinbach Torres Professora DHP/CE/UFPB. Foto: Paula Giollito.
Créditos:WSCOM

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Os comentários aqui publicados são de responsabilidade de seus autores.