terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

Problemas da zika vão além da microcefalia

Líquido na cabeça de bebês está escondendo atrofia cerebral, disse a médica paraibana  Adriana Melo. Problema causado por vírus da zika é considerado síndrome congênita.
Exames realizados nos últimos meses mostram que algumas crianças estão se desenvolvendo na barriga das mães e nascendo com o tamanho do crânio normal, mas, na verdade, a cabeça está com mais liquido do que cérebro. Por isso, problemas de atrofia cerebral, possivelmente relacionados a infecção pelo vírus da zika, estão sendocaracterizados como uma síndrome congênita do vírus da zika e não apenas pelo termo microcefalia.
Segundo a pesquisadora e médica paraibana especialista em medicina fetal Adriana Melo, que está a frente de um estudo sobre a relação entre o vírus da zika e a malformação cerebral em bebês, o fato de algumas crianças atingirem o tamanho da cabeça dentro dos padrões considerados normais está fazendo com que o problema da atrofia cerebral seja aparentemente escondido.
Ela diz que o critério de medir a circunferência da cabeça criança não é suficiente, pois os bebês podem nascer com o tamanho normal e sofrer de atrofia cerebral. Atualmente o Ministério da Saúde considera microcefalia quando a criança nasce commenos de 32 centímetros de perímetro cefálico.
“Desde o começo nosso grupo de pesquisa concordou que não fosse usado esse termo microcefalia. A microcefalia significa atrofia cerebral, então o crânio não cresce porque o cérebro fica pequeno. Entretanto, às vezes o crânio pode crescer se dentro da cabeça houver mais liquido, como tem ocorrido agora”, ressalta a pesquisadora.
Somente na semana passada, três crianças acompanhadas pela médica paraibana morreram após nascerem com o cérebro atrofiado. Duas delas tinham o tamanho da cabeça normal e uma tinha microcefalia. A Secretaria de Saúde do município de Campina Grande, no Agreste da Paraíba, onde Adriana atua, está fazendo um levantamento de crianças que nasceram com a cabeça no tamanho considerado normal, mas que sofrem da atrofia.
A preocupação maior da médica paraibana é que o fato das cabeças dos bebês estarem atingido o tamanho normal está criando uma expectativa nas gestantes, mas o problema continua. “Isso preocupa porque a mãe cria uma expectativa de que está tudo bem, porque a cabeça que estava pequena começa a crescer, atingido os 32 centímetros, mas não é bem isso. A atrofia cerebral continua, mas o tamanho da cabeça foi compensada por liquido”, explica Adriana Melo.
Ainda segundo a pesquisadora, os casos estão sendo investigados não pelo tamanho da cabeça, mas pelas alterações que estão sendo percebidas no cerebelo, dilatação dos ventrículos cerebrais e calcificações do corpo. “O que temos é uma síndrome congênita que independe do tamanho da cabeça. Essa atrofia no cérebro pode gerar outros problemas como atrogripose, malformação nos músculos a incapacidade das atividades motoras. Tudo isso ainda exige muito estudo e as respostas podem demorar anos para serem encontradas”, frisa Adriana Melo.
Identificação de mutações

Em algumas gestantes, o vírus da zika foi encontrado no começo da gestação, sendo identificado por meio de uma análise do líquido amniótico no começo e no fim da gestação, agredindo o organismo ao longo do tempo que estava sendo gerando o bebê.
"Isolar o vírus pode ajudar a identificar se há mutações no zika em comparação com outros vírus do zika que já são conhecidos e (saber) como eles agridem o tecido cerebral", afirmou o virologista Rodrigo Brindeiro Laboratório de Biologia Molecular da UFRJ.
Os pesquisadores destacaram que os estudos ainda possuem muito mais questionamentos do que respostas sobre a doença. No entanto, os estudos realizados até o momento mostram que o vírus da zika pode causar várias outras lesões cerebrais, e não somente a microcefalia. Em casos mais graves, as lesões podem gerar alterações em outros órgãos.
"A infecção pelo vírus da zika pode causar uma série de alterações cerebrais, não apenas a microcefalia. Nos casos mais graves, os bebês podem nascer natimortos. A criança pode nascer com o perímetro normal do cérebro e ter alguma alteração. Foram registradas alterações no tálamo, no desenvolvimento do cerebelo, alterações o córtex cerebral, entre outros problemas", afirmou o virologista Amilcar Tanuri.
Créditos: G1 PB

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