sábado, 22 de outubro de 2016

Parlamento alemão debate impeachment de Dilma

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Na noite de quinta-feira, 20 de outubro, o Brasil entrou em debate no Bundestag, o Parlamento Federal alemão. O pedido da entrada do país e de sua situação atual na pauta foi feito pelo partido Die Linke, manifestando preocupação pela democracia em nosso país, depois do golpe de estado parlamentar que depôs a presidenta Dilma Rousseff.
Não houve votação, apenas debate, em que os partidos presentes no Parlamento expuseram sua posição a respeito. Foi muito elucidativo sobre o posicionamento e as preferências ideológicas de cada partido em relação à América Latina como um todo.
Um dos partidos – a União Democrata Cristã, da chanceler Angela Merkel (representando também a União Social Cristã da Baviera) – defendeu o governo de Michel Temer, por meio de seu representante, o deputado Andreas Nick. Ele sustentou que não ocorreu um golpe no Brasil. Afirmou que o governo de Dilma perdeu credibilidade, que era necessário respeitar as decisões das duas Casas do Congresso brasileiro. Disse ainda que a crise política e econômica brasileira está sendo debelada pelo novo governo. Elogiou ainda o governo de Mauricio Macri na Argentina e manifestou esperança de que o chavismo chegue ao fim na Venezuela.
Todos os outros partidos – a Linke, o Verde e o Partido Social Democrata – se posicionaram contra o impeachment de Dilma Rousseff, embora utilizando diferentes conceitos para caracterizá-lo.
O deputado Wolfgang Gehrcke falou pela Linke. Fez um preâmbulo, referindo-se à aproximação dos Estados Unidos e de Cuba e ao processo de paz na Colômbia, que veio para “curar uma ferida” do continente. Quanto ao Brasil, caracterizou o impeachment como um putsch (palavra clássica em alemão para “golpe de estado”), sendo portanto, um ato ilegal. Referiu-se também ao protesto dos representantes de esquerda no Parlamento Europeu, reiterando que seria desejável que este fórum se manifestasse como um todo.
O deputado dos Verdes – Omid Nouripur – se posicionou contra o impeachment, mas ressaltou que para ele não houvera putsch propriamente, mas sim uma “conspiração” (Verschwörung, em alemão). Sublinhou o reconhecimento de que durante os governos brasileiros liderados pelo Partido dos Trabalhadores houve significativos avanços em termos de respeito e promoção dos direitos humanos, inclusive na luta pela igualdade de tratamento dos gêneros, e progressos notáveis nas relações com os países africanos.
O deputado Klaus Barthel, que falou pelo SPD, usou ainda um outro termo alemão para caracterizar o impeachment, que também criticou: streich, que em português também se pode traduzir por “golpe” ou “pancada”, de qualquer modo, conotando “violência”. Foi quem fez o pronunciamento mais amplo, contundente e atualizado sobre a crise brasileira. Defendeu que a presidenta Dilma era melhor que o parlamento que a condenou ao ostracismo. As acusações de corrupção que pesam sobre a maioria dos que a condenaram terminam por sugerir a absolvição da presidenta. Referiu-se ao fato de o mentor do impeachment, Eduardo Cunha, ser réu de acusações sobre corrupção, e estar preso. Segundo ele, o governo Temer não se sustenta. Está afundando numa crise que é a ponta do iceberg de uma crise do sistema político brasileiro como um todo. E concluiu fazendo uma crítica à política de privatizações indiscriminadas levada em frente pelo governo de Michel Temer.
O discurso de Barthel aponta para uma contradição: por meio de seu porta-voz oficial, o governo de Angela Merkel declarou que a situação brasileira era “normal”. Franz-Walter Steinmeier, do SPD, é o ministro de Relações Exteriores do governo alemão. A bancada do SPD no Parlamento já tinha se manifestado preocupada com o estado da democracia no Brasil depois do impeachment.
Ou seja, apesar da coalizão (aqui definida como “Grande Coalizão”, entre o SPD e a CDU, sempre que ela ocorre) o Brasil demonstrou que há fissuras nela. Que, esperemos, se ampliem. Pelo bem do Brasil e do SPD.
Créditos: Rede Brasil Atual

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