terça-feira, 20 de março de 2018

Água mais cara, escassez, desastre ambiental

Se o mercado continuar mandando nas políticas e nos padrões de produção, distribuição e consumo de bens, as perspectivas em termos de mudanças climáticas e escassez de água no planeta são as piores possíveis. O alerta é do planejador ambiental Renato Tagnin. 
"Segundo cientistas, a pior hipótese para o meio ambiente é o mercado tomar conta. Evidências, pesquisas e projeções mostram que esse formato de exploração dos recursos naturais para a reprodução do capital, da água principalmente, vai deixar um grande prejuízo, o chamado passivo ambiental, para esta e futuras gerações. Quando uma corporação se apropria de um recurso natural, seja qual for, não se preocupa com o que decorrerá dessa apropriação. Insere esse recurso em uma estratégia, na produção e distribuição de bens, e deixa para a sociedade o passivo. Vai ficar pra alguém resolver os problemas deixados por atividades econômicas", alertou.
Integrante da comissão técnico-científica do Movimento em Defesa da Vida do ABC e consultor do Ministério do Meio Ambiente para a elaboração da Estratégia Federal de Gestão Ambiental Urbana, Tagnin participou da mesa-redonda em defesa da água realizada na noite de ontem (14) pela Frente Parlamentar em Defesa da Billings, na Assembleia Legislativa de São Paulo.
O debate marcou a semana em que terão início dois grandes eventos internacionais para debater o tema. No sábado (17), terá início o Fórum Alternativo Mundial da Água (Fama 2018). Com o tema Água é um Direito e não Mercadoria, o evento realizados por movimentos e sindicatos visam a construção de uma aliança de resistência e uma agenda de lutas contra as privatizações e a mercantilização da água. E no domingo (18) começa o 9º Fórum Mundial da Água, que reúne representantes de governos e empresas – daí estar sendo chamado de "balcão de negócios" do setor, de olho no mercado e nos recursos hídricos do Brasil. Os dois encontros serão em Brasília.
Tagnin lembrou que sempre que o assunto é escassez e a desigualdade no acesso à água, o mercado logo se apresenta como "a solução que conseguirá regular e racionalizar o uso", o que é uma falácia, segundo ele. "A escassez e a degradação ambiental são iniciativas planejadas pelo próprio modus operandi das empresas e das grandes corporações."
E destacou a impunidade que beneficia o setor empresarial, que teria de vender seus produtos por preços "inimagináveis" e abrir mão de lucros para pagar multas relativas aos danos que causa. E que, ao contrário disso disso, além de não reconhecer o passivo social e ambiental, ficam com o "filé da lucratividade".
"Levantamentos em diversas partes do mundo mostram que, em geral, é muito mais compensador correr o risco de ser multado por uma inadequação, um problema, ou mesmo uma tragédia como a de Mariana ou de Barcarena, do que incluir no processo produtivo os cuidados para prevenção, as chamadas externalidades, que exigem mudanças nas margens de lucro. Preferem correr o risco de uma eventualidade, de uma multa, cujo valor comparado com os prejuízos causados é ridículo. Correr o risco e infringir a lei valem a pena e por isso se tornou regra".
Conforme lembrou o especialista, a concentração empresarial em todas as atividades que exploram os recursos naturais, com forte presença do capital financeiro, torna essas corporações ainda mais fortes e imunes.
"Temos hoje em dia em torno de 60 empresas que detêm a maior parte dos recursos. Uma concentração de renda, de poder, diante da qual os governos podem muito pouco em termos de regulação. Tanto que na crise de 2008, ninguém foi preso naquele grande estelionato financeiro. Os grupos são muito grandes para falhar e para botar na cadeia, alegam eles. Por isso, quando a Justiça e o estado reconhecem a impossibilidade de controlar, imaginem como será com nossos recursos essenciais, como a água, que mantém a vida, serem apropriados por essas corporações. É uma temeridade que esse poder de controle seja transferido a quem tem as práticas que tem, que estão documentadas e alertadas por cientistas há tempos", disse.
Tognin lembrou ainda que, ao considerar a iniciativa privada na regulação do chamado mercado da água, como defende o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) em seu Projeto de Lei do Senado (PLS) 495, de 2017, que altera a Lei nº 9.433, de 8 de janeiro de 1997, para introduzir os mercados de água "como instrumento destinado a promover alocação mais eficiente dos recursos hídricos". Isso significa negar tragédias ambientais, como fontes exploradas até secar pela Nestlé, em São Lourenço, no sul de Minas Gerais, entre outras abafadas pela mídia comercial e pelos milhões que essas empresas investem em publicidade e propaganda. 
"Estamos em um momento decisivo no país em relação a seus recursos hídricos. Em 2014 e 2015 sofremos os efeitos da crise hídrica com a ausência de chuvas e o descaso com o que são tratadas questões relacionadas à água, que deveria ser tratada como direito e não como mercadoria", disse o diretor de relações externas da Associação dos Profissionais Universitários da Sabesp, Amauri Pollachi. 
Ele lembrou que a falta de investimentos na gestão dos recursos hídricos do governo de Geraldo Alckmin, que praticamente secou reservatórios que ainda não se recompuseram e expôs a insuficiente disponibilidade de água à população, em torno de 130 metros cúbicos por habitante por ano. "Uma disponibilidade tão pequena que para continuar o abastecimento é necessário importar água de outras bacias.
"Há projetos para trazer água da represa Jurumirim, em Avaré, do rio Itapanhaú, em Bertioga, além de outros, que enfrenta resistência das populações locais, que com razão temem o desabastecimento. Mas há dez anos se espera a regulamentação do uso da água pela agricultura, falta incentivo para outras formas de irrigação", disse.
Pollachi alertou ainda para retrocessos com a reforma regulatória do setor de saneamento, em que o governo de Michel Temer pretende alterar a lei de criação da Agência Nacional de Águas (ANA) e o Marco Regulatório de Saneamento. A ideia é para trazer o setor privado para o controle do setor, que virá por meio de medida provisória. O temor é que o saneamento, e o tratamento de água, sejam priorizados por essas empresas apenas em regiões mais lucrativas. 
O diretor do Sindicato dos Trabalhadores em Água, Esgoto e Meio Ambiente do Estado de São Paulo (Sintaema) José Mairton Pereira Barreto criticou sobretudo a gestão estadual, que sem consultar a população, prioriza grandes projetos de transposição. "Para evitar 'problemas futuros', busca-se trazer água do Paraíba do Sul, do São Lourenço, retirando água de outras bacias, com todo o impacto ambiental, social, quando se perde muita água com fissuras e vazamentos".
Ele destacou experiências de re-estatização do setor. "No mundo todo são mais comuns casos de volta do controle estatal da água, 267 casos no total. Só na França foram 106 casos recentes, e nos Estados Unidos, 51. Com essas experiências frustradas, que pioraram os serviços e aumentaram as tarifas, as empresas vêm para o nosso país".
Participaram ainda do debate o integrante do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) e da Frente Brasil Popular Gabriel Gonçalves, o presidente da CUT São Paulo, Douglas Izzo, e os deputados da bancada do PT Luiz Fernando, Teonílio Barba, Marcos Martins e Ana do Carmo, coordenadora da Frente Parlamentar em Defesa da Billing, que presidiu a mesa. Foto: Portal Correio.
Créditos: Rede Brasil Atual

segunda-feira, 19 de março de 2018

Atividade econômica cai 0,56% em janeiro

A atividade econômica iniciou o ano em queda. De acordo com dados divulgados hoje (19) pelo Banco Central (BC) na internet, o Índice de Atividade Econômica do BC (IBC-Br) dessazonalizado (ajustado para o período) registrou retração de 0,56% em janeiro, comparado a dezembro.
Na comparação com janeiro de 2017, houve crescimento de 2,97%, de acordo com os dados sem ajustes já que a comparação é entre períodos iguais. Em 12 meses encerrados em janeiro, houve expansão de 1,2% nos dados sem ajustes. 
O IBC-Br é uma forma de avaliar a evolução da atividade econômica brasileira e ajuda o BC a tomar suas decisões sobre a taxa básica de juros, a Selic. O índice incorpora informações sobre o nível de atividade de três setores da economia: indústria, comércio e serviços e agropecuária, além do volume de impostos.
Mas o indicador oficial sobre o desempenho da economia é o Produto Interno Bruto (PIB), –  a soma de todas as riquezas produzidas no país -, calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Fonte: Agencia Brasil.

Desembargadora que acusou Marielle será processada

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Juliano Medeiros, presidente nacional do PSOL, informou que o partido vai ingressar com uma representação no Conselho Nacional de Justiça (CNJ) para que o órgão tome providências contra a desembargadora Marília Castro Neves, que em sua página da rede social Facebook acusou a vereadora Marielle Franco, assassinada na noite de quarta-feira (14), de envolvimento com o crime organizado.
"As declarações da desembargadora são inaceitáveis. Elas são parte da onda de boatos mentirosos que grupos de extrema-direita passaram a disseminar nas redes sociais. Trata-se de uma representante do Poder Judiciário e isso não pode ficar sem punição. É uma afronta à luta da Marielle e de todos os defensores dos direitos humanos", afirmou Juliano.
Ao comentar postagem de um advogado no Facebook, Marilia Castro Neves, do TJ do Rio de Janeiro, afirmou que Marielle Franco teria sido morta por conta de um acerto de contas com a facção criminosa Comando Vermelho. "A questão é que a tal Marielle não era apenas uma 'lutadora', ela estava engajada com bandidos! Foi eleita pelo Comando Vermelho e descumpriu ‘compromissos’ assumidos com seus apoiadores. Ela, mais do que qualquer outra pessoa 'longe da favela' sabe como são cobradas as dívidas pelos grupos entre os quais ela transacionava", escreveu. Após perceber a grande quantidade de críticas que recebeu, a desembargadora apagou o material.  FOTO: UNE. 
Créditos: Rede Brasil Atual

Conta de luz pode subir mais de 20%

Em um ano de inflação baixa, a conta de luz deve ter um peso extra no bolso dos consumidores. Segundo estimativas da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), o reajuste médio nas contas ficará acima de 10% este ano. Em alguns casos, a alta deve superar a casa dos 20%. As razões para esse aumento, muito acima do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) previsto para o ano, são a falta de chuvas, que levou ao acionamento de usinas térmicas, muito mais caras que as hidrelétricas, mas também os subsídios embutidos na conta de luz, que não param de crescer, e segundo executivos do setor, erros de planejamento.
De acordo com Romeu Rufino, presidente da agência, os aumentos da conta de energia devem ter comportamento semelhante aos autorizados para os clientes fluminenses da Light e Enel Rio. Nesta semana, a Aneel autorizou um aumento tarifário médio de 10,36% nas tarifas da Light, que atende a cidade do Rio e outros 30 municípios do Estado. Na Enel Rio, que fornece energia para Niterói e outras 66 cidades fluminenses, a alta, em média, foi de 21,04%.
A diferença entre os índices autorizados para cidades tão próximas tem explicação. Na Light, houve reajuste ordinário, que é feito todos os anos. Já para a Enel Rio foi realizada a revisão tarifária, processo que é realizado de quatro em quatro anos para manter o equilíbrio econômico-financeiro dos contratos. Nas revisões, as empresas são reembolsadas por investimentos feitos na expansão da rede e na melhoria dos serviços.
Segundo Rufino, os consumidores, de forma geral, devem esperar comportamento semelhante ao verificado nos casos da Light e da Enel Rio. Os reajustes anuais devem ser da ordem de 10%. É o caso de empresas como Eletropaulo (São Paulo) e Copel (Paraná), por exemplo. Mas, para aqueles atendidos pelo grupo de empresas que vão passar por revisão tarifária, a alta deve ser de cerca de 20% – caso da Cemig (Minas), RGE Sul (Rio Grande do Sul) e Energisa (em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul), entre outras.
Gestão
Diversos fatores explicam o aumento, mas há uma avaliação de que falhas cometidas na gestão do setor elétrico no passado têm causado impacto nas tarifas até hoje. O presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Luiz Barroso, lembra que principalmente nos últimos anos da gestão Dilma Rousseff foram realizados leilões para contratação de novas usinas e linhas em nível bem acima do necessário, por conta da recessão. Segundo ele, somente no ano passado o consumo de energia voltou aos patamares registrados em 2014.
“Perdemos três anos de crescimento por causa da recessão. Parte desses custos da tarifa hoje serve para pagar reforços nos sistemas de geração e transmissão que vieram para atender a um mercado que não se concretizou”, afirmou Barroso.
O secretário executivo do Ministério de Minas e Energia (MME), Paulo Pedrosa, reconhece que o aumento tarifário desagrada à população, mas reafirma que o governo não adotará nenhuma medida intervencionista para maquiar os preços. “Já se enganou muito o consumidor a respeito do custo da energia. Infelizmente, só agora a verdade apareceu”, afirmou.
Rufino, da Aneel, faz fortes críticas aos subsídios, cobrados por meio de encargos setoriais. Os subsídios vão custar R$ 18 bilhões neste ano, 30% mais que no ano passado, e serão integralmente pagos pelos clientes. Isso significa que o consumidor residencial paga uma conta mais cara para que seja possível oferecer descontos para agricultores, irrigantes, produtores de carvão, geradores de energias renováveis, além de distribuidoras no Norte, que utilizam termoelétricas a diesel e óleo combustível. “Todas as empresas já estão condenadas a um aumento de 2,5 pontos porcentuais por conta dos encargos setoriais. Os subsídios não param de crescer e já têm peso de 20% nas tarifas”, disse Rufino.
O presidente da Aneel destacou ainda que, além da seca, que reduziu o uso de hidrelétricas e levou ao acionamento das termoelétricas, mais caras, a decisão do governo Temer de cobrar bônus de outorga das usinas que foram licitadas também elevou os custos de geração, pois as empresas que compram os empreendimentos em leilão repassam essa cobrança à tarifa final. “Só o leilão das usinas da Cemig teve impacto de 1 ponto porcentual nas tarifas.”
Pedrosa, do MME, admite que isso encarece as tarifas, mas disse que parte do ganho vai gerar abatimentos futuros na conta de luz. Ele destacou que a pasta enviou à Casa Civil um projeto de lei com o novo modelo do setor elétrico, que busca resolver passivos do passado, reduzir o peso dos subsídios e promover a competição e a eficiência no setor. Com informações do Estadão Conteúdo. Foto: EBC.
Créditos: WSCOM

sexta-feira, 16 de março de 2018

Em todo país, manifestantes vão às ruas para denunciar execução de Marielle

Milhares de pessoas saíram às ruas para expressar luto e revolta pelo assassinato da militante e vereadora Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Pedro Gomes. Os atos ocorreram em todo o país ontem (15). 

Pela manhã, as plenárias e tendas do Fórum Social Mundial, que ocorre em Salvador (BA), foram utilizadas para lembrar a luta da militante. As atividades foram interrompidas em diversos momentos para falas de protesto contra o assassinato de Marielle e Anderson, executados a tiros na noite desta quarta (14) no Rio de Janeiro. Em seguida, os presentes marcharam pelas ruas da capital baiana.

Presente no Fórum, a ex-presidenta Dilma Rousseff (PT) lamentou o ocorrido em uma das mesas da conferência. "Não há golpe sem barbárie e sem violência. O que aconteceu com a Marielle Franco foi um assassinato, uma execução", disse a ex-presidenta. "Este bárbaro assassinato e essa indignidade que aconteceu hoje têm que causar em nós a mais profunda indignação", completou.

No Rio de Janeiro, cidade onde Marielle viveu e atuou por toda a vida, os cariocas se reuniram para se despedir da vereadora e do motorista Anderson em frente à Câmara Municipal do Rio de Janeiro. Por volta das 14h, durante o velório, a emoção tomou conta dos presentes, em sua maioria mulheres negras. No final da tarde, a manifestação ultrapassou a marca dos 50 mil participantes.

Em Brasília, Marielle foi homenageada em uma sessão solene no Congresso Nacional. Os presentes seguravam girassóis e faixas pretas para marcar o luto. Companheiras de partido, como a deputada Luiza Erundina (PSOL-SP), e outros parlamentares exaltaram a trajetória política da vereadora carioca. No início da noite, um ato com movimentos populares ocorreu na praça Zumbi dos Palmares.

Na capital paulista, os servidores públicos municipais, em luta contra a reforma da Previdência, expressaram apoio e solidariedade com um minuto de silêncio em memória de Marielle e Anderson. Alguns professores seguiram do centro de São Paulo para a Avenida Paulista, onde ocorreu o  “Ato Contra o Genocídio Negro - Marielle Presente” no Museu de Arte de São Paulo (Masp). 

Lá, milhares de manifestantes caminharam em direção à Rua da Consolação e entoaram palavras de ordem contra a militarização da Polícia Militar e pelo fim da intervenção federal no Rio de Janeiro. Lideranças de movimentos populares e de partidos políticos, como a vereadora Sâmia Bomfim (PSOL-SP), participaram do protesto. Ela ressaltou a importância da união da esquerda na atual conjuntura. 

"Marielle foi assassinada pelo Estado e pelo poder, a mando daqueles que não admitiam ver uma mulher negra e favelada no comando. Eles fizeram isso para tentar calar a voz das mulheres, mas escutem aqui: olhem para este Masp lotado, olhem para o mundo todo. Vocês vão ter que calar milhões de pessoas", disse emocionada a vereadora paulistana.

Também presente na manifestação, Iara Bento, militante da Marcha das Mulheres Negras, afirmou que Marielle é símbolo de uma juventude que está sendo exterminada. 
"Hoje a Paulista lotada significa que a nossa juventude não aguenta mais, ela não quer mais ser morta. E se nós queremos mudar o que hoje está acontecendo no sistema político do nosso país, é dessa juventude que nós precisamos. E nós não podemos nos calar diante do que está acontecendo no Brasil. Marielle, presente!", conclamou.

Em Curitiba (PR), cerca de 2,5 mil pessoas participaram de uma vigília em solidariedade aos familiares e amigos da vereadora Marielle e Anderson na Praça Santos Andrade. Militantes também saíram às ruas em Belo Horizonte (MG) contra o genocídio da população negra. O ato ocorreu na Praça da Estação. Já na capital alagoana, as homenagens ocorreram em frente à Câmara Municipal de Maceió.

Em Pernambuco, o ato público tomou conta da frente do portão de entrada da Câmara dos Vereadores de Recife, onde houve falas de representantes de partidos de esquerda e movimentos populares. Daniela Portela (PSOL-SP), se solidarizou com a companheira de partido. "Mariella trazia voz às pessoas que foram silenciadas e invisibilizadas ao longo da história do Brasil. Não temos como desvincular sua morte com as denúncias que vinha fazendo contra os desmandos da intervenção militar", afirmou. Aconteceram atos em Florianópolis, Porto Alegre, Fortaleza, Londrina, Santos e outras cidades. 

As manifestações de solidariedade não se restringiram ao Brasil e também ganharam eco no Parlamento Europeu, onde eurodeputados pediram a suspensão das negociações comerciais entre a Europa e o Mercosul.  "Pedimos para a Comissão uma suspensão imediata das negociações com o Mercosul até que haja o fim da violência e intimidação contra a oposição política e defensores de direitos humanos", declararam os partidos que compõem a aliança Esquerda Europeia Unida. Foto: Mídia Ninja.
Créditos: Brasil de Fato

Brasil pode voltar ao Mapa da Fome

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 "Vamos correr juntos por um mundo sem fome. Sistema alimentar saudável, dieta saudável, vida saudável. Corra com isso!", convida o velocista jamaicano Usain Bolt, ganhador de 19 medalhas de ouro em olimpíadas e campeonatos mundiais, em mensagem criada pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO). Divulgada no último dia 8, a campanha demonstra que a fome está no centro das preocupações da Organização das Nações Unidas (ONU).
Frequentemente associada a fenômenos climáticos, como a seca – em vez de à necessidade de democratização do acesso à terra, à produção e distribuição de alimentos – a fome é um flagelo que afeta mais de 800 milhões de pessoas em todo o mundo. Embora mais da metade dessas pessoas estejam em países asiáticos e africanos, há famintos na América Latina, Europa e também nos Estados Unidos, em bolsões de pobreza extrema, especialmente entre a população negra dos estados do sul.
No Brasil, a seca que chegou a matar mais de 500 mil pessoas no semiárido entre 1877 e 1879 – mais da metade da população na época –, e outras 100 mil no período entre 1915 a 1917, durante a grande seca, sempre rondou a população nordestina e de bolsões localizados nas periferias e centros de grandes cidades, em cortiços e nas ruas. A situação inspirou Josué de Castro a mapear as principais carências nutricionais existentes no país e publicar em 1946 em seu clássico Geografia da Fome no Brasil.
No entanto, só começou a ser enfrentada a partir de 2003, com a criação do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate a Fome, que  articulado a diversas outras ações, como a construção de escolas técnicas no semiárido e construção de cisternas, entre outras. Em 2014, depois de reduzir em 82,1% o número pessoas subalimentadas, o Brasil finalmente deixou o vergonhoso mapa da fome da ONU.
Menos de quatro anos depois, o golpe que destituiu a presidenta Dilma Rousseff impôs uma agenda perversa, que afetou sobretudo a população mais pobre. Cortes em benefícios e programas sociais excluíram do Programa Bolsa Família 1,1 milhão de famílias, o que representa 4,3 milhões de pessoas, a maioria crianças. Com o aprofundamento da crise pela política econômica, cresceu o desemprego e vieram mais cortes em ações como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA). Como a fome voltou a rondar milhões de pessoas, a Ação da Cidadania contra a Fome, a Miséria e pela Vida retomou em 2017 a campanha Natal sem Fome. 
Foram arrecadadas 900 toneladas de alimentos – quase 400 mil quilos a mais do que a meta estimada – distribuídos por todo o país. Sem ter a pretensão de solucionar o problema no Brasil, a campanha visa chamar a atenção para o problema e mobilizar a população para a luta por direitos.
O tema foi destaque de capa da edição de março da revista Radis Comunicação e Saúde, da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, ligada à Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Em o Ronco da Fome, os editores destacam o fato de o Brasil ser um dos maiores produtores mundiais de alimentos em razão de sua grande extensão territorial e capacidade agrícola. E que apesar disso, um contingente estimado pelo IBGE em 3% de nossa população ainda não tem o suficiente para sua nutrição.
A desigualdade social, a histórica concentração fundiária, a monocultura para exportação e nutrição animal são apontados como elementos que impedem o acesso de alimentos para todos, principalmente entre os camponeses nordestinos, que ainda enfrentam grandes secas, cujos efeitos tendem a se agravar com uma política de congelamento dos gastos públicos por 20 anos. 
À Radis, a antropóloga e pesquisadora  Maria Emília Pacheco, integrante da Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional (Fase), afirmou que "o curto período de experimentação positiva nem bem começou e já está sendo desconstruído". E o agrônomo José Graziano, presidente da FAO, afirmou que a crise "terminou por impedir que se consolidasse uma política de segurança alimentar" e que na recessão econômica os investimentos em programas sociais precisam ser aumentados. 
O retorno ao mapa da fome da ONU, que ronda o Brasil, foi tema de aula inaugural nesta segunda-feira da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca (ENSP/Fiocruz). Na avaliação dos participantes, o país pode sim retornar ao vergonhoso mapa: de 2014 a 2016, o número de pessoas em extrema pobreza no Brasil saltou de 5.162.737 para 9.972.090. No mundo, de 2015 para 2016, os conflitos armados e crise econômica provocaram crescimento da fome, atingindo mais de 800 milhões de pessoas. 
"Enfrentar a fome é enfrentar a pobreza extrema. Na medida em que se coloca a questão da alimentação no âmbito da saúde pública, trilhamos o caminho certo", disse o economista Francisco Menezes, coordenador do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase).
"A segurança alimentar deve ser uma política de Estado. Se o Natal Sem Fome, uma organização não-governamental, tinha condições de arrecadar alimentos e doar à população, o poder público teria possibilidades de fazer muito mais", protestou Daniel de Souza, filho do sociólogo Herbert de Souza, o Betinho e presidente daquela ONG.
Conforme dados apresentados, a situação extrema de pobreza afeta 4,2% da população brasileira, especialmente no Nordeste e Norte. "O desmonte das políticas de assistência social vitima a população mais pobre. E a situação é de agravamento. Denunciamos a possibilidade de o Brasil entrar no mapa da fome. Não pode haver ajuste fiscal que viole os direitos humanos como a Emenda do Teto de Gastos. Deixo aqui duas perguntas: Que país teremos se prosseguirmos assim? Tudo isso aconteceria se a democracia brasileira tivesse sido preservada? Isso indica qual deve ser nosso campo de luta", refletiu Francisco Menezes, do Ibase. Com informações da ENSP. Foto: Arquivo EBC.
Créditos: Rede Brasil Atual

quinta-feira, 15 de março de 2018

Após acordo de R$ 10 bi com EUA, Petrobras tem prejuízo de R$ 446 milhões

A Petrobras registrou um prejuízo líquido de 446 milhões de reais em 2017, ante prejuízo de 14,824 bilhões em 2016, impactado pelo acordo para o encerramento da "class action" nos EUA e por adesão a programas de regularização de débitos federais.
O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) ajustado do ano em 2017, por sua vez, foi de 76,557 bilhões de reais, ante 88,693 bilhões de reais no ano anterior. Por Marta Nogueira e Roberto Samora.
Créditos: Brasil 247