Em Meca, na Arábia Saudita, está decorrendo em 14 e 15 de agosto uma cimeira extraordinária da Organização da Conferência Islâmica (OCI). A reunião foi convocada para “amenizar uma série de fortes controvérsias”. A principal fonte de desacordo entre os países islâmicos é atualmente a crise na Síria.
Se espera que a cimeira discutirá a possibilidade de suspensão da filiação da Síria na organização. Na véspera, os ministros das Relações Estrangeiras dos países da OCI discutiram esta questão na reunião preliminar em Jeddah. A esmagadora maioria dos ministros votaram pela suspensão da filiação da Síria. Mas esta solução é apenas uma recomendação.
Contra a decisão votaram apenas os representantes do Irã, que é um aliado coerente do regime da Síria e da Argélia. Após a discussão, o ministro das Relações Estrangeiras iraniano, Ali Akbar Salehi, disse que a suspensão não serve para a solução do problema. Agir dessa maneira significa tentar fugir da solução, acrescentou o ministro.
Observadores acreditam que os participantes da cimeira estão tentando encontrar um terreno comum entre aqueles que apoiam o presidente Bashar al-Assad, e aqueles que prestam toda a assistência à oposição.
No entanto, quase nenhum dos participantes está pronto para compromissos nessa questão de princípio, acha o analista político jordaniano Yasser Qubailat. Em qualquer caso, falando dos patrocinadores dos rebeldes sírios, eles de certeza não vão abandonar o seu objetivo original – destruir o regime secular republicano na Síria.
"O principal problema dos insurgentes na Síria é que desde o início do conflito eles foram incapazes de conseguir o apoio do povo. Presumivelmente, os países que estão por trás da insurgência irão alterar sua posição devido ao fato de que os rebeldes estão sofrendo derrota após derrota. Mas o caso poderá ser que eles não rejeitarão a ideia de mudança de regime, mas desenvolverão novas formas de apoiar os rebeldes."
Entretanto, a Síria é simplesmente a maior fonte de contradições na OCI, lembra o analista Semion Bagdasarov:
"O mundo muçulmano está passando por mudanças muito sérias. O Ocidente está intervindo ativamente nestes processos. Israel, por sua parte, está também fazendo tudo para que o mundo islâmico esteja dividido. Assim, presumivelmente, as contradições entre os muçulmanos só irão crescer com o tempo. E por isso é pouco provável que a reunião em Meca dê maiores resultados que expressões gerais na declaração final."
O perito explicou em quê ele vê armadilhas que podem impedir a cimeira da OCI de alcançar o objetivo desejado.
"A Turquia está desenvolvendo uma posição particular. Ela fala de solidariedade islâmica, de evitar uma intervenção militar no Irã. Ao mesmo tempo, ela toma uma posição pró-americana quanto à Síria. E isso resulta já em contradições entre a Turquia e o Irã. A Arábia Saudita, por sua vez, também quer dominar o Oriente Médio, apoiando os salafistas. Em contraste com esta, a posição de Teerã está ligada a uma forte consolidação de estruturas xiitas no Iraque e na Síria, e do movimento Hezbollah no Líbano."
Um novo desafio para a OCI é que representantes de diferentes comunidades religiosas estão começando a olhar uns para outros não como bons vizinhos, mas como inimigos. Sabemos, entretanto, quando e onde este processo começou ganhando impulso – no Iraque após a ocupação americana.
É evidente em quê isso pode terminar. Mas por enquanto ainda é difícil de compreender se os líderes dos países islâmicos irão utilizar a chance remanescente de evitar na região uma guerra de “todos contra todos”. Outra coisa está clara – quanto mais tempo a OCI permanecerá dividida de acordo com este princípio, tão menos chances ela terá de desenvolver uma posição consolidada sobre a Síria.
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