A Primavera Árabe exige novas vítimas e não apenas de adversários das novas autoridades revolucionárias, mas também de organizadores da “democratização” da região.
O último sinal foi o assassinato do embaixador dos Estados Unidos na Líbia, Christopher Stevens. Será que os “moderadores ocidentais” ouvem estes sinais e será que é possível esperar mudanças na política americana no Oriente Médio? Comenta Vladislav Tkachev, Grande Mestre da Federação Internacional de Xadrez:
“De acordo com uma expressão conhecida, qualquer revolução devora os seus filhos. Mas a Primavera Árabe começou pelos pais. Sem qualquer dúvida, o embaixador americano na Líbia, Christopher Stevens, assassinado por uma multidão enfurecida, pode ser considerado como tal. O pretexto para matar o embaixador e alguns outros funcionários da embaixada foi a divulgação de trechos de um filme norte-americano na internet que, segundo os islamitas, ofendem o Islã e o profeta Maomé.
À primeira vista, é difícil ver uma lógica nestes acontecimentos. É evidente que o próprio embaixador não teve nada a ver com a rodagem do filme, pelo contrário, os seus méritos no derrubamento do regime de Muammar Kadhafi deviam ser bem conhecidos pelos “revolucionários” locais. No entanto, Stevens foi morto apesar do risco de vingança inevitável por parte dos Estados Unidos.
Cria-se a impressão de que os moderadores ocidentais dos processos que ocorrem na região dão passos cada vez menos ponderados. Na Palestina, foi proclamada a primazia das eleições democráticas livres e o Hamas chegou imediatamente ao poder na Faixa de Gaza. Agrediram o Iraque e, em resultado, reforçaram o Irã. Apoiaram a revolta no Egito e o novo presidente do país, Mohammed Mursi, já exige rever as relações com Israel. Uma cadeia de situações confusas levou a uma tragédia em Benghazi, humilhante para os Estados Unidos. É o primeiro embaixador americano assassinado desde 1979.
Nas condições da atual confrontação de civilizações, os esquemas estereotipados de introdução da democracia não garantem, infelizmente, o efeito esperado. Hoje em dia, é muito importante que estes acontecimentos possam levar a mudanças no conteúdo da política americana no Oriente Médio. Será que os “ideólogos” de Washington, que alteram a seu critério regimes regionais, deixarão de acreditar na santidade dos rebeldes de rua?
Receio que tudo já tenha ido longe demais e se limite apenas à punição de culpados imediatos e à queda de polaridade de Obama, porque é muito mais fácil atribuir tudo à selvajaria da multidão e à falta de cultura política da população local, isto é, prever apenas alguns passos em frente em vez de fazer uma análise estratégica sistémica”.
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