Duas pesquisas divulgadas hoje (27) dão como certa a vitória do candidato do PT à prefeitura de São Paulo, Fernando Haddad, sobre José Serra (PSDB). Enquanto o Datafolha indica o ex-ministro da Educação com 58% dos votos válidos nas urnas amanhã, o Ibope aponta o petista com 59%. Já o tucano tem, respectivamente, 42% e 41%.
Se confirmada, será a segunda vitória seguida de um novato em eleições indicado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. E, pela segunda vez, a vitória se dará em cima de Serra, que em 2010 foi batido na corrida pelo Palácio do Planalto por Dilma Rousseff, ex-ministra-chefe da Casa Civil.
Paulistano, de 49 anos, Haddad entrou aos 18 na Faculdade de Direito do Largo São Francisco, da Universidade de São Paulo (USP).Também na USP, fez mestrado em Economia e doutorado em Filosofia. Ingressou no PT em 1983, nos primeiros anos após a fundação do partido, e antes desta campanha havia apenas participado de uma disputa eleitoral: a do Centro Acadêmico 11 de Agosto, no curso de Direito.
Desconhecido do público, a exemplo de Dilma, Haddad tinha 3% das intenções de voto em maio, 15 ou 16 vezes menos do que obterá neste domingo, caso os números das pesquisas se confirmem. No primeiro turno, as sondagens demoraram a detectar o crescimento do petista, e chegou-se a cogitar que ele e Serra se vissem forçados a disputar a vaga restante no segundo turno ao lado de Celso Russomanno (PRB).
Mas a queda rápida do então líder nas pesquisas acabou por repetir a polarização PT-PSDB no segundo turno. Contra o mesmo adversário, o mesmo nível de campanha, marcado por duas questões morais centrais. Desde o primeiro dia da fase final, Serra se valeu do julgamento da Ação Penal 470, o chamado mensalão, realizado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) justamente em simultâneo ao processo eleitoral. Na outra ponta, valeu-se do apoio de líderes religiosos e passou a pregar contra o kit didático contra a homofobia, criado por Haddad durante o trabalho no Ministério da Educação.
Para o cientista político Aldo Fornazieri, coordenador do programa de governo do petista, o candidato saiu favorecido da dupla rejeição que pesava sobre Serra: a própria e a do prefeito Gilberto Kassab (PSD), seu afilhado político. “Qualquer dos candidatos que fosse para o segundo turno com Serra, venceria”, afirma. Ele acrescenta que os projetos bem pensados, de renovação da cidade, beneficiaram o ex-ministro: “A consistência desse programa e dessas propostas foi bastante evidente. E em segundo lugar as forças que se articularam em torno dele. A força do PT, a força do ex-presidente Lula, a força da presidenta Dilma, a própria Marta Suplicy.”
Em 2001, Haddad foi convidado por João Sayad, então secretário de Finanças na prefeitura de São Paulo na administração de Marta Suplicy, e assumiu a chefia de gabinete da secretaria. Em 2003, deixou a gestão municipal para se tornar assessor especial no Ministério do Planejamento, sob o comando do então ministro Guido Mantega, atual ministro da Fazenda.
No ano seguinte assumiu o posto de secretário-executivo no Ministério da Educação e em 2005, com a ida do ministro Tarso Genro para a pasta da Justiça, assumiu o comando. Foi então que criou o Programa Universidade Para Todos (Prouni), que atendeu mais de 1 milhão de estudantes desde que foi implantado até o segundo semestre de 2012.
No período em que Haddad esteve no ministério, as vagas no ensino superior público federal passaram de 139,9 mil em para 218,2 mil, foram criados 126 campi universitários federais, 214 escolas técnicas e 587 polos de educação à distância. O número de formandos cresceu 195% nos últimos dez anos. Outra marca de sua gestão foi o fortalecimento e a ampliação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que deixou de servir como um projeto de avaliação e ranqueamento de escolas para se transformar em método de ingresso no ensino superior.
Haddad foi um dos poucos ministros da era Lula mantido pela presidenta Dilma Rousseff, eleita em 2010. Só deixou o posto no início deste ano para participar da disputa pela sucessão paulistana, iniciada após um processo de negociação interno no qual foram preteridos a então senadora Marta Suplicy, o senador Eduardo Suplicy e os deputados federais Jilmar Tatto e Carlos Zaratttini.
Após um processo de atritos internos, o partido se reunificou ao longo da campanha. Para o cientista político Humberto Dantas, professor do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), a força do PT foi a segunda parte da explicação do bom desempenho de Haddad. “Precisamos considerar que a sociedade paulistana apontava nas pesquisas que desejava mudança. Não à toa Haddad carrega consigo um lema de campanha que fala do novo, que bate muito nesta tecla. Mesmo dentro do PT ele é novo, em termos eleitorais principalmente”, afirma.
Serra
De outro lado, Serra sai das eleições em situação mais complicada. Se em 2010 viu sua rejeição saltar ao abordar questões morais e ao não conseguir apresentar-se como novidade, agora o tucano tem um caminho complexo pela frente. Caso se confirme a derrota amanhã, terá um quadro complicado dentro do partido: na disputa presidencial, teoricamente o senador mineiro Aécio Neves é o preferido, e no Palácio dos Bandeirantes o natural é que Geraldo Alckmin lute pela reeleição.
“Existe uma situação bastante embaraçosa dentro do PSDB, que eu acredito que se desenrole em conflitos importantes, desde que o Serra queira se manter no páreo para disputar um cargo majoritário. Teria de haver uma acomodação de forças, de interesses, que eu vislumbro que não será de fácil solução”, aponta Fornazieri.
Mas, para o cientista político Vitor Marchetti, professor da Universidade Federal do ABC (UFABC), não é possível sepultar Serra caso a derrota se confirme. Em parte, vai depender da margem com que Haddad vença. Em parte, da reacomodação interna do PSDB, que, aliás, precisa ficar atento para não minguar após dez anos na oposição ao governo federal.
“O partido tem de forçar a renovação de seus quadros, como fez o PT, que colocou lideranças novas no cenário. Terá de lidar com isso nos próximo anos e com a consolidação de suas propostas. Por exemplo, a privatização faz parte ou não de se suas políticas? O PSDB tem de resolver isso até 2014.”
Se o caminho for o da renovação, Serra, com 70 anos, não é exatamente o que se pode chamar de novo.
Rede Brasil Atual
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