Como distinguir uma relíquia da Igreja de uma boa falsificação? Em Moscou será inaugurado em breve um centro de estudo de relíquias cristãs. O centro será instalado na Universidade Ortodoxa Russa de São João Evangelista. Aliás, nesta universidade, já é feito ativamente um trabalho de pesquisa de relíquias e outros artefatos da Igreja.
A necessidade de separar “o trigo do joio”, ou seja, os verdadeiros originais históricos de cópias, ainda que de boa qualidade, surgiu nos últimos decênios. Depois de longos anos de estagnação religiosa, as relíquias da Igreja começaram a voltar aos templos e mosteiros da Rússia e, às vezes, é muito difícil estabelecer a sua origem e autenticidade, diz o reitor da Universidade Ortodoxa, Piotr Eremeev:
“Depois da revolução de 1917 muitas relíquias e outros objetos valiosos da Igreja foram retirados dos templos. As suas descrições perderam-se e hoje é preciso estabelecer por diferentes sinais, pedaços, partículas conservadas e restos de inscrições a quem pertence esta ou aquela relíquia. Nós esperamos que, depois da fundação desse centro, possamos ser úteis não apenas às igrejas moscovitas, mas também a nossos irmãos na fé de outras cidades.”
O centro da capital será dirigido pelo teólogo Mikhail Arteev, formado pela Universidade de Genebra. Ele se dedica há anos ao estudo de relíquias e artefactos da Igreja, e começou sua atividade de pesquisa científica ainda na Universidade de Voronej:
“Inicialmente decidimos tratar da coleta de informações sobre relíquias cristãs conhecidas e sua sistematização pois verificou-se que muitas relíquias cristãs veneradas nas igrejas ortodoxas e por muitos crentes não têm uma descrição histórica razoável. Trata-se, por exemplo, de vestes e partes do manto da Nossa Senhora – o lenço que a Virgem Maria usava em vida. Ao fundar o centro em Voronej, nós pensamos que semelhante sistematização da informação será a nossa principal tarefa, mas, verificou-se que a tarefa vital hoje não é a descrição de relíquias, mas sua avaliação pericial. Em virtude da perda da fé no Ocidente começaram a chegar à Rússia, junto com relíquias autênticas, muitas outras duvidosas.”
Até hoje, Mikhail Arteev já revelou dezenas de segredos. Entretanto, o caso mais memorável está relacionado não com a prova de autenticidade mas, pelo contrário, com a revelação de uma falsificação:
“Nós encontramos a pista de um diácono grego que trouxe à Rússia supostas relíquias, que falsificou pessoalmente. Retirou de um cemitério grego ossos, colocou-os em relicários, trouxe-os para a Rússia e apresentou-os como relíquias de santos. Agora este diácono está preso, acusado de fraude e saque de cemitérios da Grécia mas, infelizmente, estas falsas relíquias até agora estão em algum lugar na Rússia.”
A verificação de relíquias é uma prática científica mundial. No Ocidente, semelhantes pesquisas são feitas por cientistas com os aparelhos mais modernos. Assim, por exemplo, a pedido do Vaticano, especialistas laicos no campo da arqueologia, antropologia e análise de radiocarbono estudaram o sudário de Turim e examinaram a relíquia de São Nicolau de Mira. Também a relíquia do apóstolo Lucas, que se encontra em Pádua, foi objeto de estudo. A análise genética feita na altura estabeleceu que os restos mortais pertenciam a um sírio, e Lucas era justamente sírio, segundo a tradição da Igreja.
No Centro de Estudo de Relíquias Cristãs, por enquanto não colocam tarefas tão ambiciosas, diz Mikhail Arteev:
“Para nós, o principal é estabelecer a autenticidade documental. O primeiro e fundamental método é estabelecer o caminho da relíquia, pois se ela é autêntica, o seu caminho poder ser seguido. Em particular, conseguimos encontrar uma partícula da Santa Cruz onde Cristo foi cruxificado, cuja história remonta diretamente à imperatriz Helena de Constantinopla. Sabe-se que a cruz foi adquirida justamente por ela. Nós seguimos o caminho de nossa relíquia até às igrejas romanas e até ao local onde ela se encontra agora na Europa. Este é o método de exame histórico. No que se refere a métodos dispendiosos – genético e análise de carbono, temos a possibilidade de usar essas técnicas, mas não colocamos para já tais tarefas. Aqui serão realizadas mais pesquisas históricas e documentais.”
Os especialistas russos no campo das pesquisas de relíquias cristãs colaboram estreitamente com especialistas análogos tanto de diferentes universidades europeias e americanas laicas, como também do Vaticano. Graças ao trabalho escrupuloso conjunto de profissionais, foram descobertas tais falsificações como, por exemplo, a insígnia falsa do bispo de Versalhes do final do século XIX, Pierre-Antoine-Paul Goux e o carimbo falsificado do vicariato de Roma.
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