domingo, 19 de maio de 2013

Assad afirma que não renunciará e prevê um possível ataque do Ocidente


Damasco (Télam) - Horacio Raña, enviado especial da agência Télam, foi recebido no Palácio do Povo, sede do governo sírio, onde foi realizada a entrevista de quase uma hora e meia de duração com o presidente Bashar Al Assad, em que foram abordados todos os temas relacionados à crise, às acusações que pesam sobre o chefe de Estado sírio e à possível conferência de diálogo proposta por Estados Unidos e Rússia.
Assad não descartou que o Ocidente prepare uma guerra contra seu país e afirmou que não renunciará como condição para que avance o diálogo e reiterou que os insurgentes são terroristas que não tem autonomia porque são armados e enviados por outros países como Turquia, Qatar e Arabia Saudita.
Uma das acusações mais fortes feitas pelos EUA e aliados, é de que seu governo está usando armas químicas contra o povo. Você pode demonstrar o contrario?
As armas químicas são armas de destruição em massa e se fossem usadas sobre uma cidade ou subúrbio com um saldo de dez ou vinte vítimas seria crível? Não, porque seu uso significaria a morte de milhares ou dezenas de milhares de pessoas em questão de minutos. Quem pode ocultar algo semelhante?
Teme que com essas denúncias estejam preparando o terreno para uma intervenção militar direta na Síria?
É provável, como já fizeram no Iraque, o Ocidente mente e falsifica para desatar guerras, é seu costume e nós não podemos descartar essa possibilidade. É uma grande probabilidade e supomos que em algum tempo pode acontecer algum tipo de intervenção militar direta, ainda que seja limitada.
A política exterior de Barack Obama para a região é similar à de Ronald Reagan ou Geroge W. Bush?
As administrações norte-americanas são similares na maioria das coisas e as diferenças são mínimas. O que mudou (com Obama) foi o discurso e que não tem valor, o que importa são os fatos no terreno.
Por que o Ocidente iria apoiar um governo extremista como o que propõe elementos salafistas (fundamentalistas islâmicos do wahabismo sunita) que estão combatendo com os rebeldes?
Ao Ocidente importa ter governos leais como os que existiam na América Latina, que exploravam o povo a entregar seus bens. E eles são extremistas, os usam agora e os combatem depois. Ainda que o Afeganistão tenha refutado: apoiaram aos Taliban e no 11 de setembro pagaram um preço altíssimo. Na Síria temos um Islã moderado e por isso resistimos ao fundamentalismo com todos os meios.
Qual é a cifra de mortos nessa crise? A ONU fala de mais de 70 mil
Primeiro tem que perguntar a quem divulga estes números, suas fontes e a credibilidade que eles têm. Muitos dos mortos que falam são estrangeiros que vieram para matar o povo sírio e há muitos desaparecidos, por isso não podemos dar um número preciso.
Houve um uso desproporcional da força por parte das tropas sírias?
Como definir se houve excesso de força ou não? Qual é a fórmula? É pouco objectivo falar deste ângulo porque cada um responde de acordo com o tipo de terrorismo que enfrenta. O exército e as forças de segurança têm a obrigação de retribuir garantindo limpar a área e ao mesmo tempo proteger os civis.
Havia a possibilidade de alcançar um diálogo na Síria para impedir que se produzisse uma interferência estrangeira e a persistência da crise?
As demandas a princípio eram reformistas, ainda que essa postura fosse um disfarce, porque nós havíamos feito reformas e, a cada passo que dávamos aumentava o terrorismo. Que relação tem um terrorista da Chechênia, do Iraque, do Líbano ou do Afeganistão com as reformas na Síria? Estima-se que há terroristas de 29 nacionalidades combatendo na Síria, é ilógico. A base de qualquer solução política é o que o povo sírio quer, e isso é regido pelas urnas. Não há outra forma. O terrorismo golpeou EUA e Europa, e nenhum governo dialogou com os terroristas.
Como avalia a possibilidade de uma conferência de diálogo entre distintos países proposta por EUA e Rússia?
Apoiamos qualquer gestão que conduza a uma solução política, mas acreditamos que muitos países que apoiam o terrorismo não a querem realmente.
Não a querem os opositores ou as potências?
É que  são uma coisa só, porque na prática essas forças opositoras vivem fora da Síria e estão vinculadas a outros países, portanto, não têm uma decisão própria. Portanto, o aspecto básico a tratar é  deter o fluxo de dinheiro e armas para a Síria e o envio de terroristas que vêm basicamente através da Turquia  e com financiamento do Qatar e de outros países do Golfo, como a Arábia Saudita.
Avalia a possibilidade de renunciar para solucionar a crise tal como propõem certas potências como condição na conferência de diálogo?
Que alguém diga que o presidente sírio tem que ir porque o querem os EUA, outros países ou os terroristas é inadmissível. Fui eleito pelo povo e o povo sírio decidirá minha permanência e as urnas serão o árbitro nas próximas eleições em 2014. O país agora está em crise e quando o narco está no meio da tempestade, o capitão não foge. E renunciar seria fugir.
Como acha que avaliam a situação os 15 milhões de descendentes sírios que vivem na América Latina?
Sempre olhamos a numerosa coletividade síria da Argentina e América Latina como uma ponte cultural entre duas regiões distantes.  Por esta razão, essas pessoas entendem o que está acontecendo em nossa região melhor que os europeus que vivem tão perto do mundo árabe. Essas comunidades estão em melhor posição  para compreender esta questão e transmitir a imagem correta adiante.
Faz alguma autocrítica por toda esta situação em que está imerso seu país?
É preciso fazer autocrítica diariamente, mas é ilógico fazê-la antes do final do processo. Quando alguém se autoavalia não pode ser neutro e talvez seja difícil ser objetivo sobre as responsabilidades, já que a avaliação correta vem dos cidadãos.
EBC.

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