O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que o maior mal que a administração petista causou ao país foi forçar a direita a evoluir. “Prefeitos de direita, e até de extrema direita, por mais que eles odeiem o PT, eles têm o partido como paradigma das políticas públicas que são feitas nas cidades periféricas deste país”, disse. Lula fez uma comparação com a revolução Russa de 1917, dizendo que quem ganhou com ela foi a Europa ocidental, onde se chegou a um Estado de bem-estar social que não foi atingido na própria Rússia.
“E que bom que seja assim, que bom que todo o mal da humanidade seja a esquerda obrigar a direita evoluir. Duro é quando a direita faz a esquerda evoluir. Aí se vê o desastre. Que é o que está acontecendo em alguns países do mundo hoje”, criticou Lula, em referência às medidas tomadas contra a crise econômica em vários países do mundo.
O ex-presidente participou da cerimônia de encerramento do 3º Fórum Mundial de Autoridades Locais de Periferia, realizado na cidade de Canoas, no Rio Grande do Sul, que reuniu prefeitos de 200 cidades, de 50 países, para discutir os problemas que afetam as cidades de periferia. Na mesma cidade, Lula também participou do encontro estadual de catadores de materiais recicláveis. Antes, em conversa com jornalistas, ele criticou a postura da oposição de explorar o tema da inflação como tentativa de desgastar a presidenta Dilma Rousseff.
Lula destacou a importância da criação do Ministério das Cidades, logo no primeiro ano de sua gestão. “Os prefeitos não tinham a quem procurar. Eu queria que eles chegassem em Brasília e tivessem onde tratar seus problemas. Somente após a nossa posse é que foram criadas estruturas para atendê-los. Criamos espaço na Caixa Econômica Federal para recebê-los e orientar projetos”, afirmou.
Segundo o ex-presidente, isso acabou com a dependência de favores políticos de que sofriam os prefeitos. “Por oito anos recebemos em todo mês de março as pautas de reivindicação dos prefeitos. Nenhum prefeito pode dizer que o presidente Lula não recebeu ou não ajudou essa cidade”, afirmou. E garantiu que a presidenta Dilma Rousseff dá sequência a esta trabalho. “A Dilma sabe que não é possível o Brasil estar bem se as cidades estiverem mal, porque isso é conjunto gerencial e administrativo”, afirmou.
O ex-presidente aproveitou o momento para fazer uma crítica àqueles que questionam o número de ministérios existentes. “Por que eu posso ter o ministério da Indústria e não posso ter um para a mulher? Por que não posso fazer com que a sociedade seja representada em suas condições de gênero, raça e outras, dentro do governo?”, questionou. E prosseguiu: “Só um governo que não quer ter cara coloca uma pessoa para cuidar da mulher, do negro, do índio, pobre. E que não cuida de nada. Tem que colocar as pessoas específicas para cuidar de cada um deles.”
Ele exemplificou lembrando que o Ministério da Pesca era uma secretaria na pasta da Agricultura. “Ou o cara vai a Brasília discutir tomate, ou vai discutir peixe. Um dá na terra, o outro na água. Não precisa ser doutor honoris causa para entender isso, com um país que tem 12% da água doce do mundo e uma costa marítima de 8 mil quilômetros não tinha sentido não ter o ministério”, disse.
Aproveitando a presença de tantos prefeitos e ex-prefeitos, Lula fez um apelo pela antecipação de políticas sobre o espaço urbano. Segundo ele, nos anos 1970 houve uma explosão populacional nas cidades que não foi bem administrada, permitindo a ocupação de áreas de risco e locais de difícil urbanização. “Os prefeitos hoje são vítimas da falta de responsabilidade nestes anos”, afirmou. “Uma vez instalado e com tudo que acarreta a regularizar essa situação, fica mais caro cuidar deste cidadão na cidade do que fazer investimento para ele ficar morando adequadamente onde está”, argumentou, pedindo que os prefeitos de áreas que estão em expansão cuidem da cidade, para evitar o caos social, de saúde, segurança e mobilidade em que vivem as capitais.
O governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, afirmou que o ex-presidente sintetiza a vanguarda das grandes mudanças ocorridas no país. “Isso foi possível porque ninguém como ele compreendeu o entendimento do povo brasileiro na luta por uma pais mais justo”, afirmou. Genro afirmou que Lula incorporou a periferia no jogo político e no estado, colocando a população em condições iguais de disputa política, “muito diferente dos governos anteriores”.
Nesta edição, o Falp reuniu cerca de 2.200 autoridades locais de 200 cidades, de 50 países da América Latina, África, Oriente Médio e Europa, para discutir temas como identidade e multipolaridade, governança e participação, igualdade e políticas de gênero. Além dos debates políticos, haverá atividades culturais tradicionais dos países participantes e seminários paralelos sobre temas diversos. O evento se encerra hoje.
O fórum foi idealizado em 2003, durante o processo do Fórum Social Mundial (FSM) e do Fórum de Autoridades Locais pela Inclusão Social e a Democracia Participativa. Propõe a criação de novos paradigmas para o espaço urbano, baseado no estabelecimento de novas centralidades, na solidariedade, na sustentabilidade, na valorização das diferentes culturas, na inclusão social e na defesa dos direitos. Desde então foram realizadas duas edições, a primeira em 2006, na cidade francesa de Nanterre, e a segunda em 2010, em Getafe, na Espanha.
Créditos: Rede Brasil Atual.
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