Segundo o secretário extraordinário da Copa em Pernambuco, Ricardo Leitão, a escolha por São Lourenço da Mata teve como objetivo promover a desconcentração metropolitana para uma área considerada carente. “Nós fizemos isso para usar a arena como um vetor de atração para o crescimento metropolitano para o oeste. Nós temos aqui uma concentração de população e atividade econômica muito grande no litoral da região metropolitana e um relativo vazio espacial, econômico e demográfico no oeste”, disse ele.
Com isso, para facilitar o acesso dos turistas, a principal via de chegada à cidade da Copa, a BR-408, precisou ser duplicada e ganhar um conjunto de viadutos. A linha Centro do metrô recebeu mais uma estação, a Cosme e Damião, localizado a 2 quilômetros da arena, integrada a um terminal de ônibus metropolitano. A 3 quilômetros da arena, já funciona o terminal de ônibus interestadual e metropolitano integrado à estação de metrô (rodoviária). Há também o ramal da copa, via que atravessa um terreno de 252 hectares, no qual está localizada a arena (que ocupa 35 hectares no restante do terreno).
Foram executadas para a Copa das Confederações, no total, 13 obras. Outras quatro obras, entre as mais importantes, no entanto, têm expectativa de ficarem prontas apenas para a Copa do Mundo. São elas: os Corredores Metropolitanos Norte/Sul e Leste/Oeste de transporte coletivo, a Via Mangue, que prevê a expansão da malha viária para o lado sul da cidade, e a uma passarela que permitirá o acesso dos passageiros que desembarcam no Aeroporto Internacional dos Guararapes à estação do metrô mais próxima.
Mesmo diante das melhorias, o secretário extraordinário não considera que elas possam solucionar os entraves do transporte no Recife. “Nós não estamos, de forma nenhuma, alimentando a ilusão de que os investimentos que estão sendo feitos no sistema viário metropolitano em decorrência da Copa vão solucionar os problemas de mobilidade da capital. Isso demanda investimentos muito maiores”.
Evanildo Barbosa da Silva, membro do Comitê Popular da Copa em Pernambuco, lembra ainda a questão das famílias desapropriadas em função das obras de mobilidade. Para a construção do terminal de Cosme e Damião, entre 70 e 80 famílias tiveram de deixar suas casas, e está em curso a desapropriação de mais 800 famílias no Recife e Camaragibe, município próximo. “O projeto Via Mangue também significou um número razoável de desapropriações, mas uma boa parte foi para conjuntos habitacionais, e a outra parte está com aluguel social”, disse ele.
Comerciantes da avenida Belmino Correia, centro econômico de Camaragibe, também temem perder seus imóveis. “Está prevista a instalação de um terminal: isso acontecendo, um número razoável de comerciantes teria seus negócios transferidos para outras áreas”, disse Evanildo.
As famílias que já deixaram suas casas reclamam, segundo Evanildo, principalmente sobre a forma como estão sendo tratadas pelo poder público e quanto aos valores que estão sendo acordados para os processos de indenização. “A maior parte dos depoimentos diz respeito ao rebaixamento do valor. O governo vem com uma lógica de que o valor é do IPTU (Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana), mas eles [moradores] querem o valor de mercado, que é bem superior. Eles reclamam também da forma como é feito o diálogo, com imposição de valores, de prazos”, relatou.
O membro do Comitê defendeu a criação de uma ouvidoria pública específica paras assuntos ligados a obras da Copa. “Não existe um lugar, apesar de Ministério Público (MP) e da Secopa, onde essas famílias possam desembocar suas demandas. A gente quer propor para o MP ou para a Secopa, que constituam um espaço para que as famílias possam dialogar, elas não têm onde [a quem] recorrer”.
Agência Brasil
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