A presidente brasileira já disse que vai contribuir para o debate sobre os temas polêmicos da atualidade colocando na mesa a questão da espionagem americana, da qual ela própria foi vítima junto com ministros do seu governo e a Petrobras. Espera-se que a presidente critique os Estados Unidos e peça ações para garantir as liberdades fundamentais nas comunicações globais e na internet.
O tema foi incluído em uma lista de oito razões listadas pelo jornal Washington Post para argumentar que, neste ano, a reunião de líderes nas Nações Unidas pode ter mais relevância que em anos menos agitados.
"Os governos precisam proteger de forma efetiva a privacidade online por meio de políticas e leis mais fortes, dado o aumento da vigilância eletrônica generalizada", sublinhou na segunda-feira a organização Human Rights Watch em um comunicado emitido em Genebra.
A entidade assina, junto com cerca de outras 250 organizações não governamentais, uma carta de princípios internacionais com recomendações para que os governos não façam uso de práticas de vigilância ilícitas e abusivas nas comunicações globais.
Exemplos dessas práticas revelados por documentos vazados da Agência Nacional de Segurança (NSA) dos Estados Unidos foram alvo de declarações preocupadas da Alta Comissária das Nações Unidas para Direitos Humanos, Navi Pillay, e do relator especial para Liberdade de Expressão da ONU, Frank La Rue.
Mas, em comparação com outros temas, a bandeira da espionagem levantada por Dilma recebe atenção limitada no país que ela criticará em seu discurso.
Às vésperas da abertura do debate de líderes, a maior expectativa é para o anunciado encontro entre o ministro do Exterior do Irã, Mohammed Javad Zarif, com o secretário de Estado americano, John Kerry — o contato de mais alto nível entre iranianos e americanos em mais de três décadas. Os dois se sentarão à mesa do grupo de seis países (Estados Unidos, Rússia, China, França, Grã-Bretanha e Alemanha) que negocia com o Irã o programa nuclear bancado por Teerã.
Analistas buscarão sinais de retribuição à abertura manifestada pelo presidente iraniano, Hassan Rouhani, no discurso que o americano Barack Obama fará logo após o de Dilma, assim como a estratégia de Obama para assegurar Israel de que está ao lado do povo israelense na tensão com os iranianos.
Outro tema "quente" será o conflito sírio, cujo mais recente desenrolar foi o acordo negociado por Estados Unidos e Rússia pelo qual o presidente sírio, Bashar al Assad, se compromete a eliminar o seu arsenal de armas químicas.
França, Grã-Bretanha, países do Golfo, Turquia e outros devem dar seus pontos de vista na Assembleia Geral.
Nesta questão, o Brasil também deve expor sua visão, que consiste em se opor a uma ação militar e defender discussões políticas na conferência internacional Genebra 2, em referência à primeira conferência sobre a Síria realizada na cidade suíça no ano passado. É de interesse do Brasil participar destas discussões.
Finalmente, a questão das redes extremistas internacionais deve ser tratada no discurso de Obama e em discussões às margens do encontro da ONU, após o ataque a um shopping center em Nairóbi, no Quênia, que originou confrontos com as forças de segurança locais e deixou um saldo de mais de 60 mortos.
Na segunda-feira, o conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca, Ben Rhodes, disse a jornalistas que a milícia islâmica Al-Shabab, que perpetrou o ataque — segundo a milícia, por causa das operações do governo queniano contra seus enclaves de poder na vizinha Somália – "é precisamente o tipo de tema com o qual estamos nos confrontando cada vez mais".
"À medida que o núcleo da (rede extremista) Al-Qaeda se desfaz no Afeganistão e no Paquistão, vemos afiliadas criar bases em diferentes partes do mundo", disse o conselheiro.
Além de abrir o debate na plenária na manhã da terça-feira, a presidente Dilma Rousseff participa no meio da tarde de uma sessão de alto nível para encaminhar as resoluções da Rio+20, realizada no ano passado.Na lista de temas que serão tratados na Assembleia também se inclui o desenvolvimento sustentável, tema da 68ª sessão do debate geral deste ano.
A conferência procurou sentar as bases de um modelo de desenvolvimento sustentável que os governos devem buscar a partir de 2015, em substituição às metas básicas de redução da pobreza e elevação de indicadores sociais contidas nos Objetivos do Milênio — oito metas estabelecidas pela ONU para serem alcançadas por 191 países membros até 2015.
O novo Fórum de Alto Nível sobre Desenvolvimento Sustentável, que reúne governos e chefes de Estado, se reunirá a cada quatro anos na Assembleia Geral da ONU, com reuniões em nível ministerial uma vez por ano.
Suas deliberações se traduzirão em declarações governamentais acordadas pelas partes. A partir de 2016, a instância acompanhará a implementação das metas de desenvolvimento sustentável pelos países da ONU.
"O Fórum é uma plataforma crucial para examinar os desafios de hoje de maneira holística e integrada", disse o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon.
Em preparação para os dois eventos, a presidente Dilma Rousseff passou a segunda-feira, seu primeiro dia em Nova York, encerrada em reuniões com ministros, "recebendo subsídios" para finalizar seus discursos, segundo a comunicação do Planalto.
À tarde, ela recebeu o ex-presidente americano Bill Clinton, presidente de uma fundação que leva o seu nome e que realizará no Rio, no fim do ano, um evento para discutir "os problemas mais urgentes do mundo".
Segundo a ministra-chefe da Secretaria de Comunicação Social, Helena Chagas, Clinton convidou a presidente brasileira para participar do evento.
Dilma também recebeu a presidente argentina, Cristina Kirchner. Ao fim do encontro, a presidente argentina disse à imprensa que ambas conversaram sobre temas da atualidade, como espionagem americana, questões econômicas discutidas na última reunião do G20 — o grupo de principais países emergentes e avançados — e a crise na Síria.
Sobre Síria e a espionagem americana, a presidente argentina manifestou posição semelhante à da colega brasileira.
Créditos; BBC Brasil
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