Ontem, logo após a execução do Hino Nacional Brasileiro, integrantes da área vip da Arena Corinthians, presentes na estreia da seleção brasileira contra a Croácia, resolveram mostrar a (falta de) educação ao mundo ao xingar a presidenta Dilma Rousseff com gritos de “hei, Dilma, vai tomar no c...”.
Não, ali não era o tão mal falado pessoal das torcidas organizadas que dava esse bom exemplo aos filhos, mas, sim, uma parte do público que era ou convidado do evento ou que havia pagado muito caro para estar ali. Vaiar é normal, faz parte do jogo democrático. Xingar também faz, ainda mais em uma partida de futebol. No entanto tal comportamento também pode e deve ser analisado à luz daquilo que é, e de quem o promove.
Os comentaristas da ESPN Arnaldo Ribeiro e Juca Kfouri falaram a respeito do ocorrido. Kfouri lembrou uma contradição curiosa: a mesma cidade e o mesmo estado jamais xingaram Paulo Maluf dessa forma, além do que, segundo ele, 95% dos funcionários com os quais teve oportunidade de conversar não concordavam com aquele tipo de atitude. Ou seja, a vaia combinada a xingamentos podem ter muito mais um caráter de manifestação de classe do que de crítica política.
O episódio remete a outro, também acontecido em um campo de futebol e já retratado no Futepoca. No livro Sem medo de ser feliz (Scritta Oficina Editorial) o então assessor de imprensa de Lula nas eleições de 1989, Ricardo Kotscho, fala a respeito do que considerava o pior momento de toda a campanha, que, segundo ele, ocorreu em um estádio de futebol.
Kotscho descreve assim o episódio:Era um sábado, véspera da votação do segundo turno, e havia a final do Brasileiro entre São Paulo e Vasco, no Morumbi. Kotscho sugeriu a Lula que fosse assistir à final in loco. “Estávamos num dia tranquilo, eu tinha uma coletiva no sindicato, fomos tomar cerveja com os aposentados, num clima muito festivo. Aí seguimos para o Morumbi. Ah, minha gente, foi a coisa mais degradante que aconteceu na minha vida!”, contou Lula.
Acontece que as cabines de rádio e TV ficam nas cadeiras cativas do Morumbi, o covil do que há de mais reacionário no país. Nem deu para ouvir a torcida do Vasco e parte da torcida do São Paulo cantando o “Sem medo de ser feliz” nas arquibancadas quando souberam da sua presença no estádio. Aos urros, histéricos, os elegantes senhores da mais fina sociedade paulistana reagiram como animais diante da passagem de Lula, dando uma ideia do que seriam capazes de fazer em caso de vitória da Frente Brasil Popular. Chegaram até a cantar o Hino Nacional, junto com as palavras de ordem de Collor, mas só com algumas estrofes, já que esqueceram a letra, e voltaram a gritar palavrões com todos os preconceitos de classe imagináveis. (...)
Devido ao horário, as cenas de collorismo explícito do Morumbi tiveram quase repercussão nenhuma na imprensa, mas calaram fundo na já abalada alma do candidato, habituado a ser aclamado e não vaiado por onde passara nos últimos dias, semanas e meses.
Se a presidenta merece críticas e até vaias pela condução de algumas políticas, certamente não foi isso que motivou a maioria que a hostilizou ontem, mas, sim, essa mesma raiva da qual Lula foi vítima em 1989. Certas coisas, infelizmente, parecem não mudar.
Se a presidenta merece críticas e até vaias pela condução de algumas políticas, certamente não foi isso que motivou a maioria que a hostilizou ontem, mas, sim, essa mesma raiva da qual Lula foi vítima em 1989. Certas coisas, infelizmente, parecem não mudar.
Créditos: Rede Brasil Atual
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