O ministro da Fazenda, Guido Mantega, concedeu entrevista coletiva na tarde de ontem (27), em Brasília, na qual falou sobre a condução da política econômica do país após as eleições que reelegeram a presidenta Dilma Rousseff (PT) para um novo mandato de quatro anos. Ao longo da campanha contra o senador Aécio Neves (PSDB) e a ex-senadora Marina Silva (PSB), a política econômica do governo do PT foi um dos principais pontos de crítica: enquanto a presidenta defendia as conquistas de seu governo, como a continuidade do processo de distribuição de renda, criação de empregos e valorização do salário mínimo durante um período de crise econômica mundial, seus adversários insistiam em fazer projeções sombrias para o futuro.
Em meio a ataques dos adversários e do mercado financeiro, que pede abertamente a demissão do ministro desde 2012, quando o governo deu início a uma política de redução acentuada dos juros básicos e reforçou os investimentos nos bancos públicos, Dilma sentiu-se até obrigada a anunciar, precocemente, que mudaria a equipe econômica do governo a partir de 2015.
Em contraponto ao discurso que foi repetido inúmeras vezes nas propagandas eleitorais nos últimos meses, Mantega destacou que o próximo ciclo econômico não deve se distanciar da essência do projeto petista, que espera, por meio de políticas voltadas para a redução das desigualdades sociais e regionais do país, orientar toda a economia para o crescimento, independentemente de quem seja o próximo titular da Fazenda.
"Mantemos o compromisso de continuar gerando empregos e, portanto, de manter o mercado interno em expansão, o que vem ocorrendo o tempo todo. É claro que para você aumentar os empregos no país, você tem que manter o estímulo ao investimento, criar condições para que o investimento continue crescendo no país. Significa que nós temos que fortalecer as empresas brasileiras e estimular o mercado de capitais, que tem de continuar expandindo”, afirmou. Mantega destacou ainda que, para alcançar esses objetivos, é necessário "fortalecer os fundamentos fiscais e manter um bom resultado para que a dívida pública fique sob controle".
Questionado sobre quais seriam nomes indicados para substituir o ministro, que poderiam "acalmar os mercados", Mantega respondeu que não cabia a ele fazer nomeações, mas sim encaminhar orientações. "Essa pergunta não tem que ser feita a mim, mas tem que ser feita à presidenta."
Ele ressaltou ainda que o governo mantém sua linha de atuação na área econômica. "Para além dos nomes, existem as políticas, aquilo que deve ser feito para que nós possamos continuar nessa trajetória de recuperação da economia e de implementação de um novo ciclo de crescimento. E eu acabei de mencionar quais são os passos que devem ser dados para que nós possamos nos mobilizar e entrar nesse novo ciclo."
Mantega, que está em seu 12º ano consecutivo de governo petista, onde passou pelo Ministério do Planejamento e pela presidência do BNDES antes de assumir a Fazenda, em 2006, destacou que o resultado que garantiu o quarto mandado presidencial para o PT mostrou que "a população está aprovando a política econômica que nós estamos praticando" e que "fica tudo mais fácil" depois do fim do período eleitoral. "É uma época de conflito e de confronto. Os pessimistas ficam mais pessimistas, e os otimistas, mais otimistas. Mas terminada a eleição, esse cenário tende a acalmar."
"É claro que a eleição provoca alguma volatilidade nos mercados, e essa volatilidade se deve também a fatores externos. Hoje, nós estamos vendo que todas as bolsas estão caindo. E vocês não vão me dizer que é por causa do processo eleitoral no Brasil, nós ainda não temos essa força toda", brincou. A Bolsa de Valores de São Paulo recuou hoje 2,77%, com expressivo recuo das ações de bancos públicos e da Petrobras.
Mais uma vez perguntado sobre a possibilidade do governo Dilma conceder independência ao Banco Central para tomar decisões que hoje dependem do governo federal, outro reflexo de uma discussão que tomou o primeiro turno das eleições presidenciais, o ministro da Fazenda foi enfático: "Essa questão da autonomia do Banco Central não faz o menor sentido em relação a tudo que nós dissemos durante a campanha", afirmou. "Independência é uma coisa, autonomia é outra. Independência é poder. Isso vai soar muito agressivo no ouvido de todo mundo que defende independência. E aí, o quarto poder não podem ser os bancos."
Créditos: Rede Brasil Atual
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