Palestinos aproveitam os cinco dias do Fórum Social Mundial, na Tunísia, para chamar a atenção da comunidade internacional sobre as precárias condições de vida na Faixa de Gaza. Além de promover debates sobre temas como refugiados, prisioneiros políticos e ocupação dos territórios, eles montaram tendas e distribuem panfletos para mobilizar delegações de outros países sobre a crise vivida pelo povo palestino.
O diretor da rede de organizações não governamentais da Palestina, Amjad Shawa, mora em Gaza e foi um dos poucos que conseguiram sair do território para participar do fórum. Ele contou que cerca de 100 pessoas de Gaza queriam ir a Túnis, mas não conseguiram permissão de Israel.
Shawa relatou que a situação está dramática em Gaza após três guerras com Israel em menos de seis anos. “A guerra israelense em Gaza acabou com grande parte da infraestrutura, cerca de 120 mil casas foram total ou parcialmente destruídas, 18 hospitais foram destruídos e 150 escolas foram danificadas. Aproximadamente 2,2 mil pessoas foram mortas na última guerra no ano passado, mais 2 mil foram feridas. Israel continua impondo seu bloqueio, impedindo que os suprimentos básicos entrem em Gaza. Não podemos consertar os estragos provocados pelas guerras. Gaza está sofrendo as piores condições humanitárias, com insegurança alimentar, dificuldade de acesso à água potável, pobreza e desemprego”.
Apesar da ajuda de organizações internacionais, Amjad Shawa destacou que os palestinos precisam do fim do bloqueio para viver livremente. “Estamos aqui para lembrar que aproximadamente 2 milhões de pessoas vivem na maior prisão do mundo em Gaza, uma das áreas mais populosas do planeta. É muito pequena e superlotada”. Segundo ele, cerca de 20 mil pessoas estão vivendo em escolas e abrigos. “Gaza é o resultado do fracasso da comunidade internacional. Já que os governos falharam, nós estamos buscando as pessoas e os movimentos sociais para pressionar os Estados a cumprir seus compromissos [com a Palestina]”, disse.
O chefe da delegação palestina no fórum, Yousef Habache, informou que cerca de 400 pessoas participam do evento, entre moradores da Palestina e refugiados no Líbano e na Síria. “Por causa do bloqueio [imposto por Israel] a Gaza, apenas dois moradores puderam sair”. Ele disse que o povo palestino pede solidariedade internacional à sua causa, de independência em relação a Israel, de liberdade e de criação do Estado palestino. “Sem resolver esse problema [o conflito entre Israel e Palestina], não haverá solução na região do Oriente Médio e mesmo no mundo”.
Após o ataque a Gaza, as pessoas têm eletricidade de três a quatro horas por dia, contou Habache. “Estamos em 2015 e as pessoas vivem nessa situação. Não há justiça. Os governos de todo o mundo são responsáveis pelo que está acontecendo em Gaza, porque não param os israelenses”. Para Habache, a reeleição do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, que disse se opor à criação de um Estado palestino, é um recado claro dos israelenses de que não querem uma solução para o conflito, que remonta ao início do século passado.
Além dos confrontos abertos que resultaram em milhares de mortes (a maioria, de palestinos), a relação entre israelenses e palestinos nas últimas décadas tem sido marcada por atentados, conflitos entre militares israelenses e civis palestinos, intifadas (revoltas populares) e tentativas de acordos de paz que sempre são emperradas por algum motivo. Entre os pontos de desacordo estão a divisão de Jerusalém, a retirada dos colonos israelenses de terras palestinas, o retorno de refugiados das guerras árabe-israelenses a suas antigas terras e o reconhecimento da Palestina como Estado independente.
Créditos: Agencia Brasil
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