De forma inesperada, os cientistas descobriram que as bactérias são capazes de ver o mundo de forma eficaz, quase da mesma maneira que os seres humanos – com apenas algumas diferenças biológicas -, usando células bacterianas que atuam como globos oculares microscópicos.
Pesquisadores britânicos e alemães fizeram a descoberta por acaso, quando estudavam cianobactérias aquáticas que, por vezes, formam uma película verde em rochas e pedras. Os cientistas já sabiam que as bactérias podiam perceber a posição de uma fonte de luz e mover-se em direção a ela – um fenômeno chamado fototaxia – mas até agora, ninguém entendia como elas fazem isso. “Percebemos isso acidentalmente, porque deixamos células em uma superfície e nós estávamos incidindo luz de um lado, a fim de observar o movimento delas em direção à luz. De repente, vi manchas brilhantes com foco [no interior das células] e pensamos que era bastante óbvio o que estava acontecendo”, disse o microbiologista Conrad Mullineaux da Queen Mary University of London.
O que os pesquisadores descobriram ao estudar as cianobactérias da espécie Synechocystis, encontradas em lagos de água doce e rios, é que seus corpos celulares agem como uma lente. Quando a luz atinge a superfície esférica da célula, ela é refratada em um ponto localizado no outro lado da célula. Isto provoca o movimento a partir do local interno focado, em direção à fonte de luz, e as células utilizam as pequenas estruturas do tentáculo, chamadas pili, para a movimentação.
O que é surpreendente é que os cientistas estudaram as bactérias por séculos e não perceberam essa semelhança funcional do corpo celular como uma lente ocular ou câmera. Além do mais, quando Mullineaux e seus colegas fizeram esta última descoberta por acaso, com um organismo incrivelmente pequeno, de apenas 3 micrômetros (0,003 mm) de diâmetro. “Nossa observação de que as bactérias são objetos ópticos é bastante óbvia em retrospectiva, mas nunca pensei nisso até observarmos este fato e ninguém mais percebeu isso anteriormente, apesar de os cientistas observarem as bactérias sob microscópios pelos últimos 340 anos”, relatou Mullineaux em um comunicado de imprensa.
Os resultados, publicados na eLife, não significam que bactérias percebam o mundo com uma visão igual à dos seres humanos, mas o mecanismo de lente à base de luz funciona da mesma maneira. Segundo os pesquisadores, uma célula Synechocystis é cerca de meio bilhão de vezes menor do que o olho humano, e sua resolução muito menor só iria permitir a imagem de um esboço borrado de objetos. “Os princípios físicos para a detecção de luz por bactérias e a visão muito mais complexa em animais são semelhantes, mas as estruturas biológicas são diferentes”, disse Annegret Wilde, membro da equipe, da Universidade de Freiburg, na Alemanha.
Este é um truque vital para as bactérias, pois sem perceber a luz e sem poder se mover em direção a ela, os organismos não seriam capazes de realizar fotossíntese, crucial para a sua sobrevivência. “É surpreendente. As cianobactérias existem há 2,7 bilhões de anos, por isso são muito mais antigas do que qualquer olho animal. Presumivelmente, este mecanismo já existe há muito tempo”, concluiu Gaspar Jekely, pesquisador do Instituto Max Planck de Desenvolvimento Biológico, na Alemanha, que não estava envolvido com a pesquisa.
Créditos: Jornal Ciência
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