(RV) - Melgaço, no Arquipélago de Marajó, é o município com menor IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) do país. Em uma escala que vai de 0 a 1, a cidade alcança 0,418. É comum moradores viverem em palafitas, numa realidade em que falta quase tudo: saneamento, educação, saúde de qualidade e policiamento.
O banheiro dos moradores é o rio. A cidade é isolada até mesmo do resto do Estado; para chegar a Melgaço, partindo de Belém, são necessárias pelo menos 16 horas de barco. Mais de 96% desses moradores vivem com renda per capita inferior a meio salário mínimo. São 26 mil habitantes, dos quais 12 mil não sabem ler e nem escrever.
Como Presidente da Comissão Episcopal para a Amazônia, o Cardeal Cláudio Hummes já visitou mais de 30 dioceses na região. Sua última viagem, em março deste ano, foi a Marajó. Levado pelo bispo, Dom José Luis Azcona, Dom Cláudio voltou consciente de que é preciso denunciar esta realidade ao Brasil e ao mundo. É ele mesmo que conta.
“Esta área é muito abandonada pelo poder público estadual e federal; praticamente não há investimentos. Melgaço é o município mais pobre do Brasil. O povo está muito aflito por falta de oportunidade de trabalho, não existe trabalho. O desemprego é colossal, não há investimentos ali. Os municípios não têm condições, porque não têm arrecadação, uma vez que não existe produção. Grande parte deste povo vive da bolsa família e às vezes de um ou outro aposentado que ajuda a sua parentela a sobreviver. Quando andamos por Melgaço, à beira do rio, vemos as pessoas andando, ou sentadas em casa, porque não existe trabalho. É muito triste”.
“Além disso, há uma boa dose de bandidagem, cada vez maior, porque a vigilância policial é pouquíssima ou nula, praticamente a segurança é nula. A própria polícia diz ‘não temos nenhuma infraestrutura, não temos gente, não temos barco, não temos combustível para os barcos; não conseguem atender nada. Os rios são como as nossas grandes estradas. As nossas rodovias, lá são os rios, que fazem todo o transporte. Que se fizesse vigilância de tudo aquilo que ocorre nesses rios, mas não existe nada. Aquilo é um abandono colossal”.
“Uma das coisas piores que existe é a exploração sexual das crianças, o que é feito nas grandes balsas de transporte daqueles rios, e onde a pobreza das famílias que não têm como se sustentar chega a oferecer muitas vezes as suas crianças ou não fazem nada para evitar, porque estas crianças buscam um pouco de comida ou alguma coisa nestas balsas, em troca de serem abusadas sexualmente por este pessoal que passa ali”.
“Também existe uma bandidagem crescente de bandidos que simplesmente assaltam barcos e barquinhos para roubar. E o povo não tem com o que se defender, não tem polícia a quem apelar; e se apela, a polícia diz ‘não temos como chegar lá’. É uma impunidade inaceitável, intolerável. E vai assim... O único que cuida do povo é o bispo local. E o povo aplaude muito; em todo lugar onde Dom Azcona chega o povo aplaude, porque é o único que de fato se interessa por cuidar daquele povo. É a Igreja”. Dom Cláudio Hummes é também Presidente e fundador da Rede Eclesial Pan-amazônica, a REPAM.
Créditos: Rádio Vaticano
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