sábado, 5 de novembro de 2016

Tiros ao alto em uma escola rural: a ação policial num símbolo do MST

escola Florestan Fernandes
Agentes da Polícia Civil de São Paulo invadiram a Escola Nacional Florestan Fernandes, a escola de formação do MST (Movimento Sem Terra), em Guararema, região metropolitana de São Paulo. Os policiais pularam a janela, atiraram com armas letais para o alto e para o chão e ameaçaram funcionários na manhã desta sexta-feira, quando cerca de 200 alunos assistiam às aulas, de acordo com relatos de funcionários.


Duas pessoas foram detidas por desacato, segundo a secretaria de Segurança Pública de São Paulo: um senhor de 64 anos, que vive na escola há três anos e realiza um trabalho voluntário na biblioteca, e uma musicista, que não é funcionária da escola, mas estava ali para dar uma oficina. Eles prestaram depoimento e foram liberados em seguida. Apesar dos disparos, ninguém foi atingido, mas o detido teve ao menos uma costela quebrada por socos e pontapés de um policial, segundo o depoimento que prestou na delegacia.
A polícia portava um mandado para a prisão preventiva de Margareth Barbosa de Souza. Segundo a advogada que acompanhou o caso, Alessandra da Silva Carvalho, ninguém na escola conhece Margareth. Além disso, “há fortes indícios” de que o mandado de prisão não tenha validade, segundo a advogada. “O policial nos mostrou o mandado por WhatsApp, depois foi imprimir em um lugar perto da escola”, explicou Carvalho. O documento, ao qual a reportagem teve acesso, não tinha assinatura do juiz.
A ação, realizada pelo Grupo Armado de Repressão a Roubos e Assaltos (Garra), faz parte da Operação Castra, deflagrada no Paraná para prender 14 integrantes do movimento em três Estados: Paraná, São Paulo e Mato Grosso do Sul. Segundo a secretaria de Segurança Pública do Paraná, os suspeitos formam parte de uma organização criminosa e são acusados de furto e dano qualificado, roubo, invasão de propriedade, incêndio criminoso, cárcere privado, lesão corporal, porte ilegal de arma de fogo de uso restrito e irrestrito e constrangimento ilegal. Até o momento, sete pessoas estão foragidas e outras sete foram detidas, dentre elas o vereador Claudelei Torrente de Lima (PT), que foi o mais votado nas eleições deste ano em Quedas do Iguaçu (PR). As duas pessoas detidas em São Paulo não faziam parte da lista das 14 buscas. 
Segundo os relatos de presentes na escola Florestan e imagens do momento da operação, a polícia agiu com truculência. "O senhor detido tem mal de Parkinson. Ele foi se apoiar em um policial, porque ele tem dificuldade de locomoção", conta a advogada Alessandra. "Neste momento, ele é jogado no chão e algemado". De acordo com a advogada, a musicista foi detida ao se desesperar com o tiro que o policial deu pra cima no momento em que algemava o senhor.
Já a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo diz, por meio de nota, que os policiais foram recebidos com violência e que as duas pessoas detidas foram levadas para a delegacia porque foram identificados como agressores dos agentes. “Os policiais ficaram encurralados num espaço do local e, sem que pudessem exercer outra maneira de se defenderem, tiveram que efetuar dois disparos de advertência ao alto, pois cerca de duzentas pessoas vieram em direção a esses policiais e, caso não tivessem agido daquela maneira, certamente seriam desarmados, linchados e quiçá mortos".
Créditos: El País

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