A Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) aprovou na manhã desta quinta-feira (3) pedido da Oxitec do Brasil para a liberação planejada no meio ambiente de cepas do mosquito Aedes aegypti OX5034. Com aval da maioria dos integrantes do colegiado vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicações (MCTIC), a empresa poderá soltar uma nova linhagem de insetos geneticamente modificados, ainda em fase experimental, sobre a população de bairros do município de Indaiatuba, na região de Campinas, interior de São Paulo. O objetivo da experiência é reduzir a população selvagem do Aedes transmissor do vírus causador da dengue, Zika e Chickungunya.
Pronta para ser testada a campo, essa nova linhagem tem como novidade a inserção de um gene defeituoso que será transmitido à prole e será fatal para as fêmeas, que terão morte prematura ainda na fase larval. Ou seja, elas estão marcadas para morrer depois da eclusão dos ovos – a fase aquática do ciclo de vida do mosquito, quando ainda não se transformou em inseto alado.
"Permitir que apenas os machos cheguem à fase adulta é uma inovação, uma evolução. É o aperfeiçoamento da linhagem anterior, que vai permitir um controle mais efetivo, mais rápido, usando menos mosquitos transgênicos. Isso vai permitir que, futuramente, a gente consiga diminuir a quantidade de mosquitos que serão soltos para copular e transmitir para a sua prole o gene defeituoso que causará a morte do inseto antes da fase adulta", explica o gerente de negócios da Oxitec, Claudio Fernandes.
Na linhagem atualmente comercializada pela empresa – OX513A –, os mosquitos carregam proteínas que provocarão sua morte antes que atinjam a idade reprodutiva. Essa característica é transmitida aos seus descendentes a partir do acasalamento com fêmeas selvagens.
Sem parâmetros
Para cientistas, a novidade não é propriamente uma evolução, mas o reconhecimento, pelo fabricante, de que a tecnologia não funciona. “Se eles estão lançando essa versão nova, é porque perceberam que a primeira tem defeito que precisa ser corrigido; não serve para coisa nenhuma. E o lançamento dessa nova linhagem é mais um ato antiético e desonesto da empresa, que mesmo reconhecendo falhas na primeira versão, continua colocando à venda”, afirma o professor do Departamento de Biologia da Unicamp e integrante da CTNBio, o entomologista Mohamed Mostafa Habib, que apresentou hoje parecer contrário à liberação do novo mosquito transgênico.
“Como podem estar pedindo autorização para um produto supostamente melhor e continuar vendendo esse que apresenta problema? Isso é desrespeito à população brasileira, à academia brasileira; é uma postura antiética empresarial que não podemos aceitar”.
Com 53 anos de experiência na pesquisa de insetos, inclusive pernilongos, Mohamed considera que essa nova linhagem, assim como a primeira, está cheia de problemas. Mas destaca que o principal deles, básico, já é suficiente para desqualificar a produção de todos esses mosquitos e sua liberação, em grandes quantidades, em bairros habitados, trazendo incômodos e provocando reações alérgicas em pessoas sensíveis a asas de insetos.
"Eles querem reduzir a população selvagem de Aedes a partir do método da competição no acasalamento. Adotado em todo o mundo há mais de 50 anos, mostrou bons resultados apenas em áreas insulares, como ilhas, oásis, vales cercados de montanhas por todos os lados, em áreas isoladas geograficamente. Mas não funciona em extensas áreas abertas, como faz a Oxitec em Piracicaba, por exemplo, em que é impossível controlar a migração dos insetos de um local para outro", afirma.
Esse descontrole, segundo ele, desmente a propaganda da empresa sobre os supostos resultados obtidos com sua tecnologia. Isso porque faltam parâmetros confiáveis para avaliar os possíveis impactos sobre a população de mosquito selvagem. "A eficiência na disputa pela fêmea depende da relação numérica entre os machos silvestres existentes no local e os machos transgênicos a serem liberados", afirma.
“Se uma fêmea de Aedes, que copula apenas uma vez, está em um quarto fechado com um macho selvagem e um transgênico, a chance de cada um é de 50%. Se forem nove machos transgênicos e um selvagem, a chance de cruzar com um inseto silvestre é menor, de 10%. E se forem 99 geneticamente modificados ou estéreis, essa chance cai para 1%. Essa matemática simples é para mostrar que eu tenho de saber qual é a população selvagem no ambiente. Se a Oxitec não sabe, como saberá a eficiência que terá com o método?”, questiona Mohamed.
“É baboseira tudo o que eles estão dizendo, porque não há avaliação do tamanho da população de insetos selvagens; e porque é impossível controlar o fluxo migratório de mosquitos em áreas geográficas abertas. Logo, esse controle vai ter zero de eficiência. É um projeto falido, é papo furado”, afirma o cientista.
Créditos: Rede Brasil Atual
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Os comentários aqui publicados são de responsabilidade de seus autores.