A dois dias da votação na Câmara dos Deputados sobre o acolhimento ou não da denúncia contra o presidente Michel Temer por corrupção passiva, o Congresso está esvaziado. A maioria dos parlamentares preferiu chegar à cidade da noite de hoje ou nesta terça-feira (1ª), quando começa, de fato, o trabalho legislativo deste semestre. Já estão agendadas várias reuniões de bancadas.
Entre os oposicionistas, discute-se a tentativa de não garantir quórum para a sessão de quarta (2), de forma a atrasar a votação por mais algumas semanas. Se houver votação agora, é grande a chance de Temer vencer, porque são necessários difíceis 342 votos favoráveis ao acolhimento de denúncia, enquanto 172 bastam para rejeitar a denúncia.
O acordo que está sendo firmado entre várias legendas da oposição é para que grupos de até 15 deputados compareçam ao plenário para registrar presença com o objetivo de garantir espaço para discursos, mas desde que se retirem logo depois.
Por parte do governo, embora integrantes da base aliada deem declarações otimistas sobre os votos a favor do presidente, o dia está sendo de "boca de urna". Pelas contas dos dois lados, existem aproximadamente 40 nomes ainda indecisos. Informações divulgadas hoje por parlamentares da base aliada são de que o Palácio do Planalto está trabalhando, desde sábado, por votos do PSB. Assessores do governo, calculam em 14 os parlamentares da legenda que ou não se decidiram ou dão a entender que podem rever posicionamento. Por isso, estão sendo chamados para conversas em vários ambientes.
A líder do PSB na Câmara, deputada Tereza Cristina (MS), evita falar a respeito, mas tem declarado desde maio voto pró-Temer. Integrante da mesma sigla, o deputado Júlio Delgado (MG), é completamente contrário. “Não podemos deixar de votar para que Michel Temer não seja investigado. Devemos isso ao Brasil”, disse. Na semana passada, Delgado acusou a colega do Mato Grosso do Sul de abusar da condição de líder e de conspirar contra a própria bancada.
O parlamentar imagina que, até o último momento, muitos colegas ainda vão pensar muito antes de dar seu voto diante de todo o país. “Essas pessoas sabem que terão de prestar contas à população depois e está mais do que claro que os brasileiros rejeitam esse presidente”, ressaltou.
O deputado Sílvio Costa (PTdoB-PE) conclamou colegas da oposição a não comparecer à votação. "Será a melhor forma de darmos uma resposta ao país, não marcando presença no plenário. O país precisa investigar Michel Temer", afirmou.
A avaliação dos oposicionistas é que a adesão a Temer despencará à medida que a crise agravar a sua desaprovação. Além disso, é esperada nova denúncia contra a ser apresentada pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot.
A base do governo repetiu as afirmações feitas nos últimos dias em público, mas em privado, não para de telefonar para os deputados próximos e de tentar mudar o voto dos colegas. Darcísio Perondi (PMDB-RS) foi o primeiro a falar a respeito. “Continuamos com as negociações sim, mas acredito que não há mais como não conseguirmos 172 votos para derrubar esse pedido (de denúncia contra o presidente)”, disse.
Outra especulação feita durante o final de semana foi de que houve aumento dos pedidos feitos pelos parlamentares integrantes dos grupos de ruralistas, evangélicos e armamentistas – a chamada bancada BBB (boi, bíblia e bala).
Para o líder da oposição, deputado José Guimarães (PT-CE), a principal estratégia adotada pela oposição é a sua unidade. “Esse governo acabou e só tem uma forma de ele sair, que é votando a autorização da denúncia para o Supremo Tribunal Federal afastá-lo, porque não reúne mais condições de continuar governando o Brasil. É um governo que não tem e não merece credibilidade. Não receberá nenhum gesto de apoio dos oposicionistas”, afirmou.
Mesmo diante dessa dúvida sobre se haverá ou não quórum suficiente na quarta-feira, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), primeiro nome para sucessão de Temer, caso ele venha a ser afastado, afirmou que está firme no sentido de trabalhar para que a votação aconteça no prazo previsto. “Nosso papel é votar e considero muito grave se a Câmara não tomar uma decisão, que seja para aprovar ou não a denúncia. É uma decisão de cada deputado que precisa ser tomada”, disse.
Rodrigo Maia também lembrou que a pauta da semana está repleta de outras matérias. No momento, três medidas provisórias trancam a pauta de votações: uma que aumenta de R$ 15 mil para R$ 500 mil o valor máximo de multa a ser aplicada a frigoríficos que infringirem a legislação sanitária: outra que altera a Lei 7.889/89, referente a inspeção sanitária e industrial de produtos de origem animal; e outra que autoriza estados, Distrito Federal e municípios a usar dinheiro da regularização de ativos no exterior para cumprir o limite constitucional de gastos com educação.
A sessão para votação da denúncia da PGR contra o presidente Michel Temer está programada para começar às 9h desta quarta. O relatório que foi aprovado pela Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania da Câmara é um substitutivo que dá parecer favorável a Temer. O texto será lido na tarde de amanhã, no plenário, em preparação para a votação.
Créditos: Rede Brasil Atual
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