No último ato em defesa da democracia antes de sua ida ao Senado Federal, previsto para segunda-feira (29), a presidenta Dilma Rousseff lembrou, na noite de ontem, no Teatro dos Bancários, em Brasília, o simbolismo da data, dia da morte de Getúlio Vargas, em 24 de agosto de 1954. “Getúlio Vargas suicidou-se porque queria preservar a democracia e sabia que ela corria risco. Hoje não tenho de renunciar, não tenho que me suicidar. É outro momento histórico. Esse processo nós construímos”, disse.
Segundo Dilma, os golpistas acreditavam que, por ser mulher, ela não aguentaria ser pressionada. “Acharam que com a pressão eu seria levada a renunciar. Eu não renuncio porque sou incômoda. Como não cometi nenhum crime, a minha presença coloca que há uma ruptura democrática. Para impedir que isso possa acontecer, precisa necessariamente que eu vá ao Senado. Vou defender a democracia, o projeto político que eu represento, os interesses legítimos do povo brasileiro e sobretudo a construção dos instrumentos para impedir que isso nunca mais aconteça no país. Estamos juntos nessa luta”, afirmou.
A presidenta lembrou que o processo golpista nasceu do inconformismo das forças conservadoras diante das quatro sucessivas derrotas do PSDB nas últimas eleições presidenciais, de 2002 a 2014. “A quarta entornou o caldo, quando eu fui reeleita.”
Ela disse que o impeachment tem o objetivo, entre outros, de “acabar com o modelo de partilha” do pré-sal e citou a participação da grande imprensa no processo. “Sabemos que houve participação de setores da mídia oligopolista, e ficou muito claro para a imprensa internacional. Qualquer setor econômico tem que ser regulado. No setor de mídia, isso é mais grave, porque controla informações e não garante acesso democrático às informações.”
A presidenta afirmou que o país passa hoje por “tempos sombrios” e que, passado o processo do impeachment, desencadeado pelo ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha (PMDB-RJ), poderão vir as medidas que norteiam o governo ainda interino, como a adoção da PEC 241, que congela investimentos em educação e saúde por 20 anos. "A PEC 241 significa um golpe grandão", disse.
“Caso eles ganhem, adotarão medidas impopulares. Falam com a maior cara de pau. É muito grave o fato de estarem tentando destruir o Mercosul, esvaziar a Unasul, adotar uma posição de neutralidade em relação aos Brics.”
“Caso eles ganhem, adotarão medidas impopulares. Falam com a maior cara de pau. É muito grave o fato de estarem tentando destruir o Mercosul, esvaziar a Unasul, adotar uma posição de neutralidade em relação aos Brics.”
Dilma mencionou Chico Buarque para dizer que a atual política do Itamaraty é a de “falar fino com os Estados Unidos e falar grosso com a Bolívia”. Em 2010, Chico disse, em um comício da então futura presidenta, sobre a política externa do antecessor Luiz Inácio Lula da Silva: “É um governo que fala de igual para igual: não fala fino com Washington e não fala grosso com a Bolívia e o Paraguai e, por isso mesmo, é respeitado no mundo inteiro”. Mas ela não citou o nome do ministro interino das Relações Exteriores, José Serra, que articula com a Argentina para enfraquecer o bloco econômico.
Créditos: Rede Brasil Atual
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