A Pesquisa Nacional do Aborto apresentou números alarmantes sobre a magnitude do aborto no Brasil: uma em cada cinco mulheres aos 40 anos já fez, pelo menos, um aborto – isso significa que 4,7 milhões de mulheres já abortaram.
Em 2015, foi mais de meio milhão. Uma mulher por minuto faz aborto no Brasil. Faça um teste sobre o que isso significa: pare a leitura e ligue o cronômetro. Ao final, transforme os minutos em mulheres. Pense em cada uma delas, em particular nas que já conheceu ou ouviu histórias.
Elas são mulheres comuns. Se não souber a história de segredo de alguma mulher de sua família – ou se não for a sua própria história – a imagine como uma mulher muito próxima de você. Você conhece mais de cinco mulheres de 40 anos. Uma delas já fez aborto e, se quiser oferecer um rosto aos números, pense nela. Ser uma mulher de seus vínculos de afeto ou cuidado, aproximará os números da vida cotidiana.
São milhões de mulheres que importam, mas há algumas que são mais especiais que outras, pois talvez sejam sua mãe, avó, tia, filha, irmã ou vizinha.
Mas a mulher comum que aborta é religiosa; acredita em deuses diferentes, é verdade, mas 88% delas se declara católica, evangélica, protestante, ou espírita. Ela sabe o que é a maternidade, pois a grande maioria delas tem filhos. Talvez, ontem, domingo, tenha ido ao culto ou à missa. Mais de dois milhões e meio de mulheres católicas já abortaram no Brasil: para elas, o papa Francisco ofereceu o perdão.
Imagine agora essa mulher comum de seu círculo afetivo sentindo muito medo: medo de morrer, de arriscar a vida ou de ser presa. Em 2015, foram mais de meio milhão de mulheres comuns que abortaram no Brasil. Elas usaram remédios para abortar, mas não se sabe como ou onde os conseguiram. A verdade é que nem elas sabem exatamente o risco que correram, por isso algumas morreram pela ilegalidade do aborto.
Entre 18 e 39 anos, neste momento no Brasil, são 4,7 milhões de mulheres que já fizeram aborto. Não é exagero – é uma multidão de mulheres comuns aterrorizadas com a lei penal que as ameaça de cadeia. Se todas fossem presas, pois o aborto é um crime com pena de prisão, seriam 6 milhões de filhos sem mães. Um desastre para as famílias brasileiras, grande parte delas chefiada e cuidada por mulheres.
Uma mulher por minuto. Uma mulher comum, católica ou evangélica, jovem, e com filhos, que a cada minuto atravessa a fronteira da legalidade para interromper ilegalmente uma gestação.
Mulheres nordestinas pobres, negras ou indígenas, fizeram mais aborto que as mulheres brancas e com maior escolaridade. Volte agora ao tempo, esqueça os minutos, lembre-se das mulheres. Em particular, das mulheres comuns que conhece – muitas delas são tão comuns que já fizeram um aborto escondido na vida.
A Pesquisa Nacional do Aborto 2016 foi coordenada por Debora Diniz, Marcelo Medeiros e Alberto Madeiro; realizada pela Anis – Instituto de Bioética e Universidade de Brasília; financiado pelo Ministério da Saúde. Os dados foram coletados pelo IBOPE-Inteligência. O estudo foi aprovado para publicação pela revista Ciência & Saúde Coletiva.
Créditos: Carta Capital
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