domingo, 26 de março de 2017

Projeto coordenado pelo MST alfabetiza mais de 7 mil pessoas

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O Maranhão tem cerca de um milhão de analfabetos, quase 20% de sua população, segundo os mais recentes dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A situação se agrava no meio rural, onde o índice sobe para aproximadamente 40%. 
Estes números deixam o estado atrás apenas do Piauí e Alagoas na taxa de analfabetismo no Brasil, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2013. Porém, foi sob este cenário que o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) coordenou um curso de alfabetização de jovens adultos no estado do Maranhão ao longo de todo o ano de 2016, desenvolvido por meio de uma parceria com o governo do estado a partir de uma proposta do próprio MST, tornando-se a principal referência da Jornada de Alfabetização desenvolvida pelo governo Flávio Dino (PCdoB).
Ao longo desse período, mais de 7 mil pessoas foram alfabetizadas por meio do método do cubano “Sim, eu posso!”. O projeto se propôs a atuar nos 30 municípios com o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) mais baixos do Maranhão. A parceria com o MST se deu inicialmente em 8 destes municípios: Aldeias Altas, Água Doce do Maranhão, Santana do Maranhão, Governador Newton Bello, São João do Caru, São Raimundo do Doca Bezerra, Jenipapo dos Vieira e Itaipava do Grajaú.
Em termos absolutos, foram muitas as pessoas alfabetizadas nesse processo. Mas quase nada em termos percentuais, já que representa menos de 1% da demanda maranhense. Por isso, a meta é dobrar a quantidade de pessoas alcançadas no estado em 2017, já que no final de fevereiro os representantes do governo do Maranhão garantiram essa ampliação.
“Eu nunca tinha estudado, nunca tinha tido a oportunidade, agora eu quero mais”, afirma Manoel Vieira de Sousa, 67 anos. Seu Manoel, com os olhos iluminados, entre feliz e orgulhoso, fez questão de escrever algumas palavras para demonstrar o seu recente aprendizado. Porém até chegar a este momento, muito esforço teve que ser empenhado. “No começo, a dificuldade foi grande, eu não sabia nada, não conhecia as letras”, explica o camponês, falando das primeiras aulas, comentando também sobre a alegria de sua esposa, ao vê-lo lendo. “Ela ficou muito, muito animada”, conta.
Essa foi apenas a segunda vez que a experiência do Sim, eu posso ocorreu no Brasil fora dos assentamentos do MST. A primeira foi no Ceará, na periferia da cidade de Fortaleza. Segundo Simone Silva Pereira, dirigente do MST no estado, esse tipo de trabalho, fora das bases do movimento, “é um passo num processo de emancipação da classe” como um todo.
Simone explica que o programa não se resume apenas ao processo de alfabetização. “As pessoas discutem sobre alimentação saudável, o problema da violência contra a mulher, a necessidade de todos continuarem estudando. No processo foi construído toda uma pauta de reivindicações”, destaca. Para ela, as pessoas envolvidas “vencem uma descrença e recuperam uma esperança”.
É o que conta, por exemplo, a educadora Alexandrina Silva Lima, do município de Santana do Maranhão, que neste processo alfabetizou a mãe de 65 anos, uma tia, além de outras 13 pessoas. Alexandrina diz que o sentimento de vergonha é comum entre as pessoas que não sabem ler e escrever, e esse é um dos primeiros obstáculos a ser superado. “É o medo de virar chacota”, explica. No seu caso, ela montou a sala de aula em casa, com mesas e cadeiras que não estavam sendo utilizadas por uma escola. Isso facilitou o acesso das pessoas de sua família. “Em casa eles ficaram mais à vontade”, disse a educadora.
Para a execução do projeto foram contratadas 702 alfabetizadores e 71 coordenadores, que formaram 628 turmas e trabalharam sob o comando político pedagógico do MST. Na pareceria realizada, o governo entrou com a estrutura e a logística, enquanto o movimento garantiu o método, a mobilização e a coordenação geral. Em cada um dos oito municípios havia, permanentemente, dois representantes do MST, acompanhando de perto cada detalhe do processo.
No entanto, nem tudo caminhou conforme o planejado. Alguns obstáculos colocaram maiores desafios no desenvolvimento do programa, como a própria dificuldade de se chegar aos povoados. Em alguns casos só é possível chegar por meio de moto ou carro traçado, o que dificultava inclusive o transporte dos aparelhos de TV, utilizados nas aulas. 
Soma-se a isso as chuvas, estradas ruins, ausência de local adequado para instalar salas de aula, a necessidade dos educandos de conciliar o estudo com o trabalho, os filhos pequenos de alguns, o cansaço pelo ofício na roça, a descrença generalizada no serviço público, a desmotivação inicial de muitos, entraves burocráticos e, no caso de alguns indígenas, até a comunicação entre educadores e educandos por conta do idioma.
O relato de algumas educadoras aponta que alguns tinham dificuldade até para segurar o lápis. Além da dificuldade de ler e escrever, muitos têm problemas de vista. O planejamento previa começar as aulas somente após a chegada dos óculos. Houve atraso na entrega, por parte do poder público. Em alguns casos, a espera durou quatro meses, e algumas aulas tiveram que começar sem os óculos, com os alunos reclamando de dor nos olhos ao forçar a vista durante os estudos.
Todavia, o saldo positivo superou as dificuldades enfrentadas das mais diversas formas. Em Itaipava do Grajaú, por exemplo, o pedreiro Emanoel Alves dos Santos, de 37 anos, conta que sua alfabetização serviu de grande estímulo para seus dois filhos que estão cursando o ensino médio e fundamental.
A intenção central do programa, porém, é que essa política de educação, somada à políticas de saúde e geração de trabalho dê mais qualidade de vida à população local. “Se o agricultor estiver alfabetizado, melhor ele aprenderá a usar as tecnologias e terá maiores condições de aumentar sua produtividade e melhorar sua renda”, explica o secretário de estado de agricultura familiar, Adelmo Soares.
Créditos: Revista Forum

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