A polêmica “reestruturação” dos serviços de saúde proposta pelo prefeito João Doria (PSDB) tem causado aflição nos moradores do Parque Paulistano, distrito de São Miguel Paulista, zona leste da cidade de São Paulo. A razão é a ameaça de fechamento da Unidade Básica de Saúde (UBS) e da Assistência Médica Ambulatorial (AMA) que atende a localidade, rumor que os moradores escutam desde novembro do ano passado e que motivou uma reunião, semana passada, com a supervisora de Saúde da região, Nilza Piasse. Segundo a prefeitura, a justificativa para o fechamento de mais de 100 unidades de saúde é a ampliação do atendimento com equipes de saúde da família.
A explicação do governo Doria e, consequentemente, da supervisora de saúde do Parque Paulistano, entretanto, não tem convencido a população. “Apesar da boa vontade que ela teve em participar da reunião, não ficou claro para a população os reais motivos pelos quais vão fechar as unidades”, disse Adriano Oliveira, gerente-diretor da ONG Sociedade de Ensino Profissional e Assistência Social (Sepas), em entrevista nesta segunda-feira (2) à jornalista Marilu Cabañas na Rádio Brasil Atual.
Adriano Oliveira explica que a AMA do Parque Paulistano é uma conquista decorrente de mais de 20 anos de reivindicações. Uma luta que, ainda assim, se concretizou de modo não satisfatório, pois o projeto original previa uma construção de dois andares, mas a gestão do ex-prefeito José Serra (PSDB)/Gilberto Kassab (PSD) construiu uma unidade “de latinha”, feita com material de contêiner.
“Quando o ar condicionado não funciona, é impossível atender no local. Como era algo provisório, fomos esperando e já se passaram mais de 15 anos com essa estrutura. É lamentável. Uma coisa que deveria ter sido provisória, não foi, e agora essa proposta de fechar”, critica o gerente da Sepas.
A reunião no bairro da zona leste ocorreu no mesmo dia da audiência realizada pelo Ministério Públicopara analisar a “reestruturação” da área da saúde proposta por Doria. Segundo Adriano Oliveira, a audiência pública foi importante para a população expor, em nível municipal, o que está acontecendo. Porém, assim como na reunião com a supervisora da área no Parque Paulistano, no encontro promovido pelo Ministério Público também não ficou clara a justificativa do governo municipal em fechar dezenas de AMAs e substituir por Unidades de Pronto Atendimento (UPAs).
“Se fosse só mudar de nome, do ponto de vista prático muda muito pouco pra população, porque UPA e AMA têm semelhanças”, avalia o gerente da ONG, ponderando que por trás do argumento de criação das UPAs, há também o fechamento de UBSs. Ele explica que o maior problema no território é o pronto atendimento e que a proposta da prefeitura prevê que 50% do público será atendimento de forma agendada.
“Então quer dizer que eu estou passando mal, chego na unidade e a cota de hoje já foi atendida? Para onde vou? Todo mundo que está no território sabe que é uma verdadeira epopeia procurar um médico”, questiona. “Falar de fechamento como uma forma de melhorar o serviço... Tem algo que não está claro nessa proposta. O governo precisa explicar o quê, de fato, ele quer. Melhoria na saúde? Fico com um pé atrás e ousaria dizer que essa proposta não é a verdadeira.”
Tanto na audiência pública como no encontro no Parque Paulistano, a prefeitura se comprometeu a apresentar os estudos e dados que embasam a proposta de “reestruturação” das unidades de saúde. Foto: João Luiz g. Silva/Secom.
Créditos: Rede Brasil Atual
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