Passados cinco dias do anúncio de rompimento do PSB com o governo federal, praticamente tudo continua como antes. A expectativa é de que a indicação dos nomes que vão suceder os dirigentes do partido nos cargos só deva ser iniciada, de fato, a partir da próxima segunda-feira (30). Isso porque, embora já estejam sendo articulados futuros postulantes para esses cargos, informações do Palácio do Planalto e de diretores do PSB dão conta de que a própria presidenta Dilma Rousseff t
eria pedido um tempo ao governador de Pernambuco, Eduardo Campos, também presidente nacional da legenda, para que pudesse ser realizada uma boa transição.
A ideia é fazer as substituições dos atuais ocupantes por técnicos que, ao mesmo tempo em que consistam em indicações políticas e reforcem as alianças existentes, também estejam sintonizados com tais pastas e os programas em curso. A demora, por um lado, surpreende quando se pensa no jogo político que envolve a troca de cadeiras nos ministérios – uma vez que é comum, após a saída de ministros e secretários com status de ministro, as funções serem ocupadas interinamente pelos respectivos secretários-executivos. Neste caso, Fernando Bezerra e Leônidas Cristino já deveriam ter deixado a Integração Nacional e a Secretaria dos Portos, respectivamente, mas ainda não têm data para fazê-lo.
O vai-não-vai reflete a oposição de parte importante da cúpula do PSB ao projeto pessoal de Campos, que forçou rompimento de uma aliança que vem desde 1989 para trabalhar sem amarras sua candidatura à Presidência da República em 2014. A RBA soube que a decisão da Executiva socialista na semana passada, pela saída do governo, esteve longe de ser unânime. De 13 dirigentes presentes ao encontro, cinco teriam se posicionado contra, entre eles o governador do Ceará, Cid Gomes, um dos principais adversários internos de Campos. Também teriam rejeitado a proposta o governador Renato Casagrande (ES) e os senadores João Capiberibe (AP), Lídice da Mata (BA) e Antônio Carlos Valadares (SE).
Os sinais de racha na cúpula do PSB teriam chegado ao conhecimento da presidenta Dilma Rousseff e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que passaram a trabalhar pela manutenção da aliança, ainda que contra a vontade de Campos, tanto no campo federal como nos governos locais onde PT e PSB estão juntos.
De outro lado, a demora, conforme informações da Casa Civil, decorre do fato de o governo Dilma ter adotado, desde o início, a estratégia de entregar ministérios e estatais com praticamente todos os cargos para livre escolha do PSB – procedimento que não era observado em governos anteriores, quando determinada sigla tinha direito a indicar o ministro e alguns assessores somente (e os demais cargos ficavam na cota de outras siglas). Sendo assim, deverão sair do Executivo não apenas os titulares de cada órgão, como seus assessores mais diretos.
“Uma coisa é o PSB deixar o governo, outra coisa é deixar o governo a ver navios”, afirmou um dos integrantes do diretório nacional da legenda, ao comentar a situação e a necessidade de respeito ao período de escolha dos novos dirigentes, para que se efetive a troca de cadeiras. Por trás desse jogo de cena entre governo e PSB, no entanto, estaria ainda a tentativa dos dois partidos de esfriar os ânimos que levaram ao rompimento da última semana, de modo a evitar que a ruptura seja marcada por hostilidades nos estados. A nota divulgada por Eduardo Campos, dizendo que o partido seguiria apoiando o governo do PT no Congresso, e a visita do governador a Dilma foram sinais importantes neste sentido.
Um sentimento que também está sendo observado por parte do PT. Após reunião hoje (23), em São Paulo, a Executiva petista divulgou nota enfatizando que não retirará os cargos ocupados por integrantes do partido nos governos estaduais e municipais comandados pelo PSB, deixando a cada diretório a decisão de optar pela saída ou não dos técnicos, de modo programático “embora mantendo a diretriz de que os cargos estão sempre à disposição”.
No documento o PT ressaltou ainda que “tanto agora quanto nas eleições de 2014, está em jogo a mesma disputa de projetos que marcou as eleições de 2002, 2006 e 2010”. O comunicado manda um recado a Campos ao recordar que as eleições colocarão novamente dois campos distintos em disputa: um representado pelos governos Lula e Dilma e outro, representado pelos governos do PSDB, DEM e PPS. “Esperamos que o PSB se mantenha ao lado do projeto de mudanças que estão em curso no país”, conclui a nota – mostrando a preocupação por parte das duas siglas.
Por parte do PSB, quem melhor expressou esse sentimento de dar mais tranquilidade ao processo de transição, de forma implícita, foi o presidente do partido socialista em Sergipe, deputado estadual Valadares Filho. "Continuaremos ajudando a presidenta na governabilidade. A entrega dos cargos não nos leva para a oposição e não nos faz aliados da direita. Não faremos mais parte do governo, mas também não vamos prejudicar um governo que ajudamos a construir", ressaltou.
Critérios técnicos
Para além da questão política, outro fator envolve a escolha de nomes técnicos indicados por socialistas para o governo, de 2010 até agora. “Temos cargos de engenheiros renomados que foram nomeados pelos titulares do PSB, mas nada têm a ver com o partido. Não sabemos como isso fica”, colocou Renato Alencar, um dos técnicos da Companhia Docas, do Ceará.
Diante disso, informações de bastidores do Ministério da Integração Nacional e de algumas companhias são de que estão sendo avaliados os casos de diretorias e secretarias nos órgãos até então pertencentes ao PSB que estão ocupados hoje por pessoas não vinculadas ao partido propriamente, mas que ao mesmo tempo foram levados por socialistas e estão realizando trabalhos considerados importantes para o Executivo. Alguns, inclusive, podem até vir a ser mantidos, dependendo do critério a ser estabelecido nos próximos dias.
São tidos como cargos do PSB o Ministério da Integração Nacional, a Secretaria Nacional dos Portos, três diretorias da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), bem como as presidências da Superintendência de Desenvolvimento do Centro-Oeste (Sudeco) e da Companhia Hidrelétrica do São Francisco (Chesf). Além da presidência da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) e da presidência da Companhia Docas, do Ceará.
Estimativas do Ministério do Planejamento, ainda em andamento, são de que perto de 80 cargos do primeiro escalão destes órgãos foram indicados pelo PSB. Há, no governo, de acordo com assessores, ministros que defendem a permanência da equipe tida como mais técnica, como forma de possibilitar uma ruptura sem maiores desavenças, mantendo-se a intenção de, num segundo turno e nos estados onde for possível, ser retomada a parceria entre PT e PSB nas eleições de 2014. Mas há, também, uma ala do PT que considera que a ruptura deve ser relacionada a todos os cargos, sem restrições.
Arrumando mesas
Enquanto a questão é avaliada os ministros e presidentes das companhias já arrumam suas mesas e papeis. Fernando Bezerra Coelho disse que ficará até uma segunda conversa com a presidenta, que lhe pediu que aguarde até a chegada do sucessor. Leônidas Cristino, por sua vez, está no Panamá em encontro oficial de ministros ibero-americano para discussão de acordos marítimos entre os países, desde a última semana. O ministro dos Portos só retorna ao Brasil no sábado, quando deverá conversar com a presidenta.
Os dois ministros tinham dado sinais anteriormente de que poderiam continuar no governo, fazendo a opção de migrar para outro partido, caso houvesse rompimento por parte do PSB. Mas na última semana confirmaram seu apoio à decisão adotada pelo colegiado nacional do partido.
Também consiste em fator de peso nas articulações o reforço a ser dado aos partidos que possuem alianças com o governo – caso do PMDB. Já foi antecipado que os peemedebistas deverão receber o aval para sugerir nomes do partido para boa parte dos cargos que estão hoje com o PSB. Mas a presidenta, antes de viajar aos Estados Unidos, deixou claro que é preciso a indicação de postulantes de consenso no partido – uma vez que a sigla é conhecida por disputas isoladas em vários estados.
O mais mencionado para ocupar o Ministério da Integração Nacional, nos últimos dias, tem sido o senador Vital do Rêgo Filho (PMDB-PB). O senador, ex-presidente da Comissão de Orçamento, preside a Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania e é, atualmente, o corregedor-geral do Senado. Sua nomeação ajudaria, sobretudo, a suprir uma lacuna com o PMDB da Paraíba, que nos últimos tempos tem se posicionado mais junto ao PSDB que ao PT.