Fernando Lugo, presidente cassado no Paraguai na sexta-feira, disse nesta segunda que objetiva voltar ao poder, reunindo aliados em casa e no exterior para forçar o Congresso a reverter uma votação que o destituiu do poder na sexta e que ele caracterizou como quebra da democracia.
Lugo criou um gabinete paralelo, atacando a legitimidade do governo que o substituiu, e disse que faria suas reivindicações no cenário internacional nesta semana durante a reunião do Mercosul em Mendoza, Argentina, assim como desafiaria os novos líderes sobre o papel do Paraguai em uma aliança mais ampla das nações sul-americanas.
"Solicitamos à presidente Argentina Cristina Kirchner (anfitriã da cúpula do Mercosul) ter uma presença nessa reunião para poder explicar pormenorizadamente o que aconteceu aqui na semana passada", afirmou depois de reunir-se com seu ex-gabinete no centro de Assunção. Lugo reiterou que também prevê assitir à reunião da Unasul (União de Nações Sul-Americanas), que, a princípio, será realizada em Lima.
Lugo afirmou que seu gabinete continuará em vigor para fiscalizar o novo presidente Federico Franco, que, por sua vez, deu posse a novos ministros no Palácio Presidencial.
"Queremos virar fiscais, observadores e monitorar tudo o que farão os novos ministros", disse o presidente destituído. A reunião aconteceu na sede do Partido País Solidário, integrante da coalizão que o respaldava no poder, no centro de Assunção.
Entre os ex-ministros estavam o ex-chanceler Jorge Lara Castro e o ex-ministro do Interior Carlos Filizzola, cuja substituição após o massacre de Curuguaty (nordeste) - que deixou seis policiais e 11 camponeses mortos- desatou a atual crise política. Em resposta ao governo paralelo, o novo chanceler paraguaio, José Félix Fernández Estigarribia, afirmou que a iniciativa de Lugo é uma “piada” e que, se ele a levar adiante, poderá responder na Justiça.
Ao mesmo tempo, Franco deu posse nesta segunda-feira a vários ministros na sede do governo. Entre os principais nomeados estão o ministro das Relações Exteriores José Félix Fernández Estigarribia, Partido Liberal, e o ministro do Interior Carmelo Caballero, Partido Colorado.
Também nesta segunda-feira, a Suprema Corte do Paraguai rejeitou a ação de inconstitucionalidade apresentada por Lugo na sexta-feira para tentar impedir seu julgamento político no Senado.
Reação na América Latina
Um dia depois de o Mercosul ter suspendido a participação do Paraguai do encontro desta semana, os governos latino-americanos continuaram tomando medidas de pressão contra o Paraguai pelo impeachment relâmpago de Lugo na sexta-feira.
Os governos do México e do Peru chamaram para consultas seus embaixadores. Ao tomar a medida, o governo mexicano disse que está "muito atento" à evolução dos eventos no Paraguai, ao mesmo tempo em que realiza consultas com outras nações da região "para examinar ações que possam contribuir para uma solução num marco de legalidade".
Outros países da região, como Brasil, Argentina, Equador, Venezuela, Uruguai, Chile e Colômbia retiraram ou chamaram para consultas seus embaixadores, diante do que consideram a falta de garantia de defesa no processo no julgamento do ex-presidente.
A Organização dos Estados Americanos (OEA) convocou nesta segunda uma reunião extraordinária na quarta para estudar eventuais medidas pelos acontecimentos no
Paraguai. O secretário-geral da OEA, José Miguel Insulza, afirmou no sábado que a comunidade internacional observou um "desrespeito" ao devido processo durante a destituição de Lugo.
Paraguai. O secretário-geral da OEA, José Miguel Insulza, afirmou no sábado que a comunidade internacional observou um "desrespeito" ao devido processo durante a destituição de Lugo.
Os EUA, que têm mantido uma posição mais cautelosa do que os outros países do continente, declararam-se "bastante preocupados" com a rapidez do processo de impeachment de Lugo, disse a porta-voz do Departamento de Estado americano, Victoria Nuland. Washington faz consultas com os outros membros da OEA para determinar "qual será a reação" juntamente com seus parceiros na entidade, disse.
Além da OEA, o presidente peruano, Ollanta Humala, está coordenando convocações para os presidentes da América do Sul para um encontro da Unasul (União de Nações Sul-Americanas) nos próximos dias em Lima para discutir a situação do Paraguai.
*Com AP, EFE, AFP e Reuters
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