RBA - Enganam-se os que acham que entre os senadores pró-impeachment o ambiente desta quinta-feira (25), no plenário do Senado, tem sido apenas de defesa do processo do clima de “já ganhou”. Comentários do dia passaram por uma espécie de “pacto” entre os grupos que compõem a base do governo provisório até o fim da votação do processo. Mas, por outro lado, eles têm mantido posições firmes que mostram que não existe consenso sobre o teor das matérias legislativas encaminhadas nos últimos 100 dias ao Congresso – referentes ao ajuste fiscal.
“Como é que eles podem trabalhar para aprovar o impeachment se têm um presidente cujas propostas não apoiam?”, provocou o líder das minorias no Senado, Lindbergh Farias (PT-RJ), diante do semblante fechado do senador Fernando Bezerra Coelho (PSB-PE), que tinha tentado se esquivar do assunto poucos minutos antes, quando indagado por jornalistas.
As supostas divergências são comentadas há dias: o PSDB já se pronunciou por meio do líder do governo, Aloysio Nunes (SP), que não votará as medidas de ajuste se Michel Temer insistir em aprovar aumentos salariais para servidores. “Estamos tentando tirar uma presidenta por ter cometido atos irresponsáveis no trato das contas públicas e não podemos apoiar um governo que quer seguir no mesmo caminho”, teria dito Nunes a colegas.
O DEM, por meio do líder Ronaldo Caiado (GO), foi outro a dizer que precisa sentar, antes, para verificar vários itens dos textos que estão em tramitação, principalmente em relação à Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 241, que limita o teto dos gastos públicos. No início da semana, o presidente em exercício resolveu pedir aos líderes que o apoiam a suspensão da votação do texto referente ao reajuste do salário de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) para amenizar o clima conturbado.
Pacto
Na madrugada desta quinta-feira, Temer participou de um jantar com vários parlamentares. O objetivo foi não apenas dar orientações sobre a sessão que teve início hoje, como também pedir apoio e traçar uma espécie de acordo, para que todas estas questões sejam pautadas somente após a votação final do impeachment.
Mas articulações sobre indicações de cargos, nova reforma ministerial e apreciação desses textos legislativos não deixaram de ser comentadas ao lado das cadeiras onde se encontram os senadores, no plenário. “Imagine o nível de governabilidade desse homem”, criticou um deputado do PSB contrário ao afastamento da presidenta Dilma Rousseff.
Entre os integrantes da base de apoio de Temer, mesmo peemedebistas, a justificativa é de que, passado o processo de votação, seja qual for o resultado, será virada uma página no país. “E aí temos de ser pragmáticos: ou volta tudo a ser como estava no governo do PT ou o PMDB tem de assumir as rédeas da situação e ver o que é preciso para ter a coligação definitiva das outras legendas da base”, disse em caráter reservado outro senador, que foi ministro de Dilma e deixou o cargo para seguir com o vice-presidente.
Ele argumentou que há uma reclamação dos parlamentares sobre troca de cargos no Executivo e que, a seu ver, “o governo está engessado”.
Siglas menosprezadas
“Estão contando como certo um fato que ainda não aconteceu, e menosprezando o poder de fogo de legendas como o PSDB e o DEM e, pior ainda, a característica do próprio PMDB, que possui alas fortes sem afinidade com Temer, como é o caso do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL)”, avaliou o cientista político Alexandre Ramalho.
Ramalho se refere a notícias divulgadas hoje de que, até a tarde de ontem, parlamentares do PSDB e do DEM ameaçaram deixar a base aliada do governo Temer e passar a ter postura de “partidos independentes”.
Entre os parlamentares do PT, os comentários sobre o assunto são feitos, em tom de ironia, no sentido de que o interino e sua base agem como “noivos”. Mas, se o casamento vier a ser consolidado, não se sabe como será o destino deste relacionamento. Embora saiam vez por outra do plenário, os senadores favoráveis ao impeachment (principalmente do PSDB e do DEM) tentam se esquivar e até rir das ironias dos petistas. Mas têm evitado dar novas declarações a respeito. Por Hylda Cavalcanti, da RBA
Créditos: Rede Brasil Atual