Madrugada da sexta-feira para o sábado, dia 27 de maio de 2017. O marceneiro Marcos, morador do bairro de COHAB 1, em Palmares, recebe alerta enviado por amigos que moram em Belém de Maria. O recado é de que o nível das águas do rio Una, que corta a cidade da Zona da Mata Sul de Pernambuco, havia subido muito e que seria uma questão de horas até Palmares ser afetada. A casa e marcenaria de Marcos, assim como as moradias de milhares de palmarenses, fica às margens do rio.
Marcos correu para salvar o material que comprara dias antes, subindo boa parte para o primeiro andar de sua casa. “Colocamos tudo para cima. Os vizinhos todos estavam na mesma correria. Todo mundo já está escaldado com isso, já fica em alerta e tenta salvar o que pode”, lembra o marceneiro, que teve perda significativa do seu material de trabalho. “Eu havia comprado R$ 15 mil de material na semana antes da cheia. Consegui salvar uma parte, mas perdi uns R$ 5 ou R$ 7 mil, infelizmente”, lamentou.
A pouco metros dali a mensagem não chegou a tempo. A professora aposentada Maria da Conceição não acreditava que a tragédia, já vivida por ela há sete anos, se repetiria. “Confiei na história da barragem, mas não sabia que ela só evita [a cheia] se tiver outra [barragem]. Eu não sabia disso e agora estou passando por esta situação”, afirma. A casa em que mora com o marido tem um 1º andar, onde mora desde as cheias de 2010. Mas o companheiro, recentemente operado, não podia subir as escadas e, por isso, a casa foi toda reorganizada no térreo.
A idosa perdeu quase tudo em sua casa. “De repente chegou o aviso de que a água iria subir. E quando tirei as duas geladeiras e duas televisões, a água já foi invadindo a casa e eu não pude mais tirar nada. Perdi tudo”, recorda, em lágrimas. “Mas o importante é a minha vida e a do meu marido. Estou com disposição e saúde para trabalhar”, afirma, resignada. Enquanto tenta recuperar o que sobrou de seus móveis, ajudada por parentes e vizinhos, Maria da Conceição se diz desanimada para continuar vivendo no local e pensa em se mudar, possivelmente para outra cidade. “Somos pessoas idosas e essa situação fica muito pesada para a gente”, diz.
Os moradores relatam que a partir das 4 horas da madrugada do domingo (28) caminhões circulavam na cidade resgatando as pessoas nos bairros mais afetados. No município de Palmares, com 65 mil habitantes, cerca de 15% da população ficou desalojada, com as casas atingidas, como o marceneiro Marcos e a aposentada Maria da Conceição. E mais de mil pessoas estão desabrigadas, por terem suas casas arrastadas pelas cheias ou engolidas pelo rio.
A poucos quilômetros da COHAB 1 está o bairro de São Sebastião, também gravemente atingido pela cheia. O empresário Gilvan de Oliveira, proprietário de um depósito de bebidas, afirma ter perdido mercadoria, além de todos os móveis da casa. “As lojas em que a água chegou não estão funcionando ainda. A minha loja foi bastante afetada e ainda não reabri, nem tenho previsão. Tive perda de cerca de R$ 3 mil em mercadorias”, lamenta.
Oliveira encontrou a reportagem no Centro de Convivência de Idosos de Palmares, onde foi dar seus dados para receber auxílio público. “Vim para ver se recupero alguma coisa da minha casa, para diminuir meu prejuízo. Minha casa é atrás do meu depósito. E eu perdi tudo”, lamenta. “Agora é esperar para ver se tem resposta do governo, para ver se eles se sensibilizam com a situação. Merecemos o reconhecimento dos órgãos governamentais. Porque no dia da eleição eles querem voto. Agora queremos que eles ajudem a gente”, cobra.
Catorze cidades entre da Zona da Mata e Agreste declararam estado de calamidade pública e mais 10 cidades, incluindo da Região Metropolitana do Recife, declararam situação de emergência. De acordo com a Defesa Civil de Pernambuco, o número de pessoas desalojadas já chega a 55 mil, dos quais 3 mil estão desabrigados. Situação similar ocorreu há 7 anos em boa parte dessas cidades, quando 80 mil pessoas ficaram desalojadas. Cinco mortes em consequência das chuvas foram registradas em Caruaru, Lagoa dos Gatos e Recife.
Na ocasião, Governo Federal, estado e municípios realizaram a “Operação Reconstrução”, prometendo moradias em locais mais seguros e a construção de cinco barragens para conter as cheias. Mas apenas a barragem de Serro Azul, em Palmares, ficou pronta e ainda está em fase de testes e acabamento hidráulico e elétrico. Com capacidade de 303 milhões de m³, a obra que custou R$ 500 milhões conseguiu conter 80 milhões de m³ e evitou que a tragédia fosse maior. Leia matéria completa aqui.
Créditos:Brasil de Fato
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Os comentários aqui publicados são de responsabilidade de seus autores.