Guilherme Loureiro Werneck, dos institutos de Medicina Social da UERJ, de Estudos em Saúde Coletiva da UFRJ e coordenador da nota, afirma que o documento apresenta dados gerais sobre vacinação para um comparativo entre o Brasil e outros quatro países com maior número de óbitos, além da análise da distribuição e cobertura vacinal para avaliar o andamento da vacinação nos grupos prioritários.
Werneck aponta a insuficiência de imunizantes como um dos aspectos críticos no plano brasileiro. “O Brasil perdeu muitas oportunidades de negociar vacinas e chega no ano de 2021 com apenas duas vacinas disponíveis”, afirma. O coordenador também cita a falta de transparência no planejamento, que apresenta apenas intenções, sem metas e especificações claras sobre a cobertura vacinal e a definição de grupos prioritários. Além disso, o País lida com uma série de problemas de gerenciamento que interrompem a produção de vacinas nos institutos brasileiros.
Há também um problema relativo aos números divulgados pelo Ministério da Saúde, que prioriza a quantidade de doses administradas e não a cobertura vacinal para primeira e segunda doses. “A meta de vacinação, do ponto de vista epidemiológico, não é baseada no número de vacinas distribuídas”, afirma Werneck. “O que nós queremos é conseguir vacinar completamente as parcelas das populações mais vulneráveis”, completa. De acordo com o pesquisador, o Ministério não publica os dados que são realmente relevantes para a avaliação das coberturas vacinais.
Mesmo entre os grupos mais prioritários, a cobertura da vacinação ainda é baixa. De acordo com o coordenador, esse grupo representa cerca de 22 milhões de pessoas, cerca de 15% da população que precisa ser vacinada. “Olhando só para esses 22 milhões, a cobertura vacinal é de cerca de 30%”, afirma, o que indica a lentidão do processo de vacinação.
Segundo Werneck, é necessário garantir o acesso à vacina e a transparência das negociações e previsão de entrega. “Além disso, é preciso ter uma gestão do plano coordenada pelo Programa Nacional de Imunizações e que esse programa seja assessorado por uma comissão que envolva os diferentes entes federativos”, comenta.
Entre as principais conclusões do documento, estão a ineficiência na gestão da pandemia, com o baixo suprimento de vacinas, ausência de critérios adequados e diversos impasses nos prazos e negociações. Apesar de a vacina ter eficácia comprovada na imunização individual, é preciso que cerca de 90% da população seja vacinada para garantir maior segurança na imunização coletiva, número muito distante dos menos de 5% que receberam ao menos uma dose.
As principais recomendações do documento incluem a criação de um comitê com participação do Congresso, SUS, comunidade científica e sociedade civil, o estabelecimento de parâmetros claros sobre a cobertura vacinal em cada um dos grupos prioritários no plano de vacinação e a disponibilização de um sistema de informação unificado, com dados claros e atualização diária da cobertura em primeira e segunda doses aplicadas.
A nota também propõe a criação de um painel com detalhes sobre os contratos, preços e cronogramas e a adoção de uma campanha de comunicação e combate à desinformação. Créditos: Jornal da USP
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