Os neurônios do hipocampo desempenham um papel fundamental na capacidade de criar com rapidez novas lembranças sobre os eventos e experiências da vida diária, segundo um estudo publicado nesta semana pela revista “Neuron”. Esta descoberta dá informações básicas que podem levar a entender os mecanismos patológicos envolvidos na doença de Alzheimer e outros transtornos neurológicos vinculados à perda de memória.
Um estudo feito por Matias Ison e pelo professor Rodrigo Quian Quiroga, da Universidade britânica de Leicester, junto ao doutor Itzhak Fried, da Universidade da Califórnia, revelou como os neurônios no hipocampo – região do cérebro vinculada à memória – respondem de maneira diferente quando uma lembrança é criada. É a primeira vez que se demonstra em estudo com humanos o mecanismo neuronal da criação de lembranças episódicas (as que são formadas com nossas vivências pessoais).
A memória episódica se baseia em formar associações entre conceitos e a hipótese do novo estudo era que os neurônios do hipocampo estavam envolvidos neste processo. Na pesquisa, os especialistas gravaram a atividade de mais de 600 neurônios usando eletrodos implantados no lóbulo temporal medial de 14 pacientes afetados por uma epilepsia grave. Eles usavam o dispositivo para uma possível cura de sua doença com cirurgia.
Aos pacientes foram mostradas fotografias de famosos, perante as quais um neurônio respondia. Imagens de lugares como a Torre Eiffel, a Torre de Pisa e a Casa Branca também foram apresentadas e outro neurônio respondia ao estímulo. Depois, foi realizada uma montagem de imagens combinando essas pessoas e lugares, para que os pacientes criassem uma associação, por exemplo Julia Roberts na Casa Branca.
Uma vez que a pessoa criasse essa associação -indicou Quian Quiroga- os especialistas comprovaram que o neurônio que respondia ao ver a fotografia de Julia Roberts também começava a “disparar” ao ver a Casa Branca. Em algumas ocasiões bastou que o paciente visse a associação de pessoa e lugar apenas uma vez para que os neurônios respondessem, disse Quian Quiroga, que considera essa rapidez “fundamental”, pois na vida diária um fato pode ser vivido ou presenciado uma só vez.
Este estudo “evidencia muito bem os processos neuronais que geram a formação de lembranças”, disse o especialista, para quem, a partir daí, foi aberto “um leque de perguntas”, entre elas quanto duram no cérebro ou como se consolidam.
Créditos: Focando a Notícia
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