A oposição diz que obstruirá qualquer votação no Congresso Nacional até o acolhimento de algum dos oito pedidos de impeachment do presidente Michel Temer. Aliados e empresários consideram o governo “no fim da linha” e o julgamento da chapa Dilma-Temer pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) deve se realizar no dia 6 de junho. Mesmo assim, várias pessoas se perguntam os motivos pelos quais Michel Temer resiste e ainda não renunciou.
Podem até estar certos os argumentos de que tudo consiste em birra pessoal. Mas o presidente da República, segundo alguns assessores e políticos mais próximos a ele, faz uso de uma verdadeira estratégia de guerra junto aos ministros da sua equipe política, advogados e assessores mais antigos com o intuito de manter a base aliada e evitar a debandada de deputados e senadores. Ele acredita que, se conseguir isso, terá forças para se segurar no cargo.
Um líder ligado ao governo, com quem a RBA conversou esta manhã em reservado, afirmou que apesar de não ter como negar o desânimo da equipe, a principal intenção agora é fazer o Executivo ganhar tempo até o curso da investigação contra Temer e tentar evitar um processo de impeachment em caráter imediato – que dependeria, em parte, da força do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que não tem a liderança observada em alguns dos seus antecessores.
“Tudo pode mudar a qualquer instante. Não sabemos o teor das próximas delações que vêm por aí, que partidos e políticos vão atingir, se as informações a serem reveladas não podem reduzir o tamanho da crise. Na quarta-feira (17) o clima era de fim de jogo, ontem houve um certo alívio. Ainda não é o momento de se jogar a toalha. O negócio é trabalhar porque nada está perdido”, disse.
O trunfo apresentado por esse parlamentar e também por assessores de Temer – e que tem sido utilizado como discurso – é que o governo conseguiu reverter a saída dos ministros do PSDB depois das conversas realizadas ontem e, com isso, tende a evitar a debandada de outras siglas da mesma forma. O que não anima integrantes do governo espalhados pela Esplanada dos Ministérios, uma vez que se sabe que os tucanos estão divididos. Além disso, já anunciaram a retirada da base aliada os partidos PPS e Podemos (ex-PTN).
Neste xadrez, a avaliação de oposicionistas é que pode ser retomada a cultura de oferecimento de novos cargos nos estados e até de reforma ministerial numa renegociação com os partidos. O presidente também vai, conforme contaram assessores, chamar governadores com quem mantém bom relacionamento para pedir a eles ajuda junto às bancadas.
A versão oficial no Palácio do Planalto e entre peemedebistas do círculo mais próximo do presidente é de que os conselhos a Temer para que renuncie do cargo cessaram depois das recusas dele. Já no Congresso, o que se diz em reservado é que a base está rachada e muitos aliados continuam achando que a renúncia é a melhor opção, insistindo em tratar sobre o tema com Temer.
Uma dúvida que paira entre os caciques do governo, internamente, diz respeito à postura de Rodrigo Maia (DEM-RJ) – também diferente do pensamento que tem sido manifestado por Temer. “O presidente tem dito que confia amplamente em Maia e acha que, sendo bem orientado, ele será capaz de segurar o acolhimento de algum pedido de impeachment e conversar com os parlamentares. Considera que a batalha é política e tem que partir da Câmara, mas muitos têm ponderado que Maia não terá força suficiente para tanto”, disse esta fonte.
No Congresso, o clima entre os oposicionistas é de não permitir que isto aconteça. O senador Humberto Costa (PT-PE) afirmou durante a manhã de Recife, onde se encontra, que “o governo se esgotou”. Segundo ele, “não há muito o que fazer”. “Temos uma crise política talvez na dimensão da de 1964. A solução é criarmos um mecanismo jurídico para convocarmos eleições gerais”, disse.
O deputado Alessandro Molon (Rede-RJ) afirmou que depois que ouviu o áudio das conversas entre Temer e o empresário Joesley Batista considerou a situação “mais grave do que esperava”. “O que vimos foi um presidente que tem conhecimento jurídico orientando um dos maiores empresários do país a continuar cometendo crimes e dando-lhe alguns cuidados para não ser preso. Isso é gravíssimo, não há dúvidas de que é um caso para impeachment”. Molon avalia ainda que “a cada dia que permanece à frente do país, Temer vai aprofundar a crise econômica e a instabilidade política”.
O líder do PV no Senado, senador Álvaro Dias (PR), por sua vez, disse considerar que “a não renúncia tem o sentido da preservação desse guarda-chuva protetor do foro privilegiado”. “É ruim para o país e faz a nação continuar sangrando”, ressaltou.
Entre os aliados do presidente, o discurso é de que é preciso fazer o país “continuar a andar”. O deputado Baleia Rossi (PMDB-SP) defendeu hoje o que chamou de “funcionamento das instituições democráticas em favor do povo”. “O que queremos é investigação célere sobre este caso, mas temos que continuar com as votações importantes”.
O líder do governo no Congresso, senador Romero Jucá (PMDB-RR), destacou a importância de se começar a discutir, a partir da próxima semana, a retomada das reformas – que tiveram tramitação suspensa pelos seus relatores nos últimos dias. E o vice-presidente do Senado, João Alberto de Souza (PMDB-MA), afirmou que serão mantidas as votações na Casa, conforme a agenda definida pela mesa diretora.
Os oposicionistas já deixaram claro: nem mesmo matérias que precisam de votação em segundo turno serão votadas. A intenção deles, tanto na Câmara como no Senado, é obstruir tudo. A briga será pelo acolhimento de um dos pedidos de impeachment. “Sobre um governo que não conseguiu estabelecer nenhuma melhoria para o povo brasileiro, que chegou ao poder por meio de um golpe e ainda por cima é pego nestas circunstâncias não há mais o que dizer. Este presidente da República já passou da hora de ir embora”, acrescentou o deputado Carlos Zarattini (PT-SP).
Créditos: Rede Brasil Atual
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