Depois de ter exibido um programa com tons islamofóbicos na campanha que o levou à Casa Branca, Donald Trump negou qualquer choque de religiões e civilizações para convocar o mundo muçulmano a combater por si próprio o “extremismo e o terrorismo islâmicos” sem esperar que os Estados Unidos se encarreguem de todo o trabalho.
Em seu esperado discurso em Riad, na Arábia Saudita, diante de cerca de 50 líderes de países do Oriente Médio, africanos e asiáticos, neste domingo, o mandatário republicano fez um apelo para que se empreenda “uma batalha contra selvagens criminosos que tentam aniquilar seres humanos e pessoas decentes de todas as crenças que protegem a vida (...) Não é um combate entre diferentes cultos, seitas ou civilizações: é uma batalha entre o bem e o mal”, disse o texto de sua intervenção.
Essa mensagem reconciliadora lançada na capital saudita – onde foi recebido obsequiosa e grandiosamente pela dinastia reinante – não oculta o acentuado viés isolacionista com que Trump busca definir um mandato que começou há apenas quatro meses. “O objetivo dos Estados Unidos é a construção de uma coalizão de nações que compartilhem a meta de esmagar o terrorismo”, alertou aos dirigentes islâmicos. Uma aliança na qual cada país deve “cumprir com sua parte e assumir a carga que lhe corresponda, sem esperar que seja o poder (militar) norte-americano quem destruirá esse inimigo”.
O discurso em Riad ao mundo islâmico pretende construir pontes entre os Estados Unidos e um quinto da população do planeta, mas deixa claro que cada civilização seguirá seu próprio caminho. “Não viemos aqui dar lições nem para dizer aos outros como devem viver ou para quem devem rezar”, enfatizou Trump. “As nações do Oriente Médio devem decidir que tipo de futuro querem para seus filhos (...) Estamos aqui para oferecer uma aliança baseada em valores comuns e interesses compartilhados”.
Oito anos depois, Washington está revisando sua estratégia para lidar com os mais de 1,2 bilhão de muçulmanos do planeta. Diante do discurso de Barack Obama no Cairo, em 2009, que pedia abertamente reformas democráticas, Trump agora oferece doses cavalares de realpolitik. “Nossos amigos (islâmicos) devem avançar por meio da segurança e da estabilidade, e não mediante rupturas radicais”, defendeu o presidente republicano, em uma nada velada alusão às convulsões derivadas da Primavera Árabe, que brotou das palavras de mudança de seu predecessor democrata na capital egípcia.
“É preciso tomarmos decisões baseadas no pragmatismo, assentadas no mundo real, não em ideologias inflexíveis. Devemos nos guiar pelas lições da experiência, não por um pensamento rígido”, detalhou diante de uma audiência integrada majoritariamente por autocratas. “E, quando for possível, devemos propiciar reformas graduais, não intervenções repentinas”, afirmou.
O presidente norte-americano insistiu que cada país deve suportar sua própria carga diante da ameaça do jihadismo, e “enfrentar com sinceridade a crise do extremismo islâmico e os grupos terrorista que ele gera”. “Isso implica em permanecer unidos diante do assassinato de mulheres inocentes, a opressão das mulheres, a perseguição aos judeus e as matanças de cristãos”.
Em Riad, capital de um país dominado pela visão mais rígida do islamismo e de onde procedia a maioria dos terroristas do 11 de Setembro, Trump recordou ainda que “frente às mensagens de proselitismo do jihadismo, os líderes religiosos devem deixar bem claro que o caminho do terrorismo selvagem não conduz à glória, mas sim a uma vida vazia e curta, e à condenação”. FOTO: MANDEL NGAN /AFP
Créditos: EL País
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