Essa multiplicação de casos provoca algumas questões: há mais neonazistas no Brasil hoje? Grupos neonazistas estão se articulando? Existe a possibilidade de em breve termos um partido com essa ideologia.
Esse florescimento recente de grupos neonazistas no Brasil e contextualiza o passado e o presente da história dessa ideologia no país.
Nas décadas de 1920 e 1930, o Partido Nazista possuía filiais em várias partes do mundo. No Brasil, o partido teve presença em 17 estados e chegou a ter quase 3.000 membros, afirma a historiadora Ana Maria Dietrich, professora associada da Universidade Federal do ABC, citada pela Folha de S. Paulo.
O Partido Nazista no Brasil era restrito aos alemães que imigraram para o Brasil, excluindo assim os filhos de nacionais da Alemanha nascidos no Brasil, o que restringiu muito o alcance da agremiação.
Já um monitoramento feito pela antropóloga Adriana Dias revelou que, de 2015 a maio de 2021, células neonazistas saltaram de 75 para 530 no país, reporta o jornal Folha de S. Paulo. O jornal paulista também informa que um levantamento da plataforma Safernet Brasil contabilizou um crescimento de mais de 600% de denúncias sobre conteúdo de apologia ao nazismo na Internet: de 1.282 casos em 2015 para 9.004 em 2020.
A recondução do Brasil ao estado democrático de direito, em 1985, após 21 anos de ditadura militar, permitiu que grupos extremistas se articulassem e tentassem criar um partido neonazista. O oficial da Marinha Mercante Armando Zanine Júnior fundou, em 1988 o Partido Nacional Socialista Brasileiro (PNSB), que segundo Odilon Caldeira Neto trazia referências nítidas ao nazismo.
O PNSB teve vida curta e nunca foi oficializado na Justiça Eleitoral. Armando Zanine Júnior ainda tentou mudar o nome do partido, criando a sigla Partido Nacionalista Revolucionário Brasileiro (PNRB). "Um efetivo grupelho [que] tinha algumas dezenas de pmilitantes", como skinheads (cabeças raspadas) e ajudou na criação no Brasil da vertente white power (poder branco), comenta o professor de história contemporânea da UFJF.
Mas o próprio movimento neonazista no Brasil é fragmentado e diversificado, o que dificulta um alicerce estruturante, um ponto de vista programático, afirma Odilon Caldeira Neto. O especialista explica que o que há são pequenos grupos e gangues, que atuam em sites, fóruns, aplicativos de mensagens e operam mais em uma esfera de violência que, normalmente, não tende a ser apenas uma violência física, mas também em diversas roupagens.
"O que me parece importante é que essa grande pluralidade não condiz necessariamente com um grande número de militantes. Não existe nenhuma movimentação mais institucionalizada no âmbito do neonazismo no Brasil [...]. Por mais variadas que sejam as estratégias, as formas de atuação, de arregimentação, de discursos variados, não me parece que exista um eixo aglutinante desses tipos de organização. Isso não é menos preocupante [...] afinal é a reverberação de um discurso abertamente antissemita, racista, homofóbico, xenófobo, assim por diante", assinala o coordenador do Observatório de Extrema Direita. (Editado). Créditos: Sputnik Brasil
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