sábado, 7 de setembro de 2013

Sonho de jogar futebol na Europa pode se tornar pesadelo

Jogadores brasileiros estão sujeitos a exploração no futebol português 
Com o inverno mais ameno da Europa e o mesmo idioma, Portugal é visto pelo senso comum como a melhor porta de entrada para jogadores brasileiros no futebol do continente. Mas o sonho de participar das principais competições internacionais pode se tornar um pesadelo. Jogadores e outros profissionais do ramo alertam para diferentes riscos de exploração, desde a captação irregular de talentos na origem até o atraso recorrente de salários no futebol português - onde os brasileiros são os estrangeiros mais constantes nos gramados. 
No recrutamento de novos atletas no Brasil, alguns agentes (empresários) se aproveitam do alto interesse dos jogadores, convencem os pais, e se apropriam do dinheiro da família creditado antecipadamente para tentar uma suposta oportunidade em Portugal. Como na maioria dos casos a vinda dos jogadores sai a custo zero para os clubes portugueses, são os próprios atletas e pais que pagam passagens, bancam a alimentação e hospedagem e taxa de inscrição, além da remunerar o agente.
Ao chegarem em Portugal, geralmente meses antes das janelas de transferência (janeiro, julho e agosto, habitualmente), os atletas são instalados em casas e dormitórios dos clubes (geralmente pequenos, de base) onde se apresentarão. Esses jogadores, segundo relatos “trazidos em dezenas”, treinam nos clubes com a expectativa de serem aproveitados ali ou convidados por times adversários.
“Os meninos põem em causa a sua vida e a dos seus pais para vir para Europa. [Aqui] são colocados em condições sub-humanas com 20 a 30 [pessoas hospedadas] numa casa. [Nos clubes] fazem jogos de treino com equipes portuguesas para ver se algum jogador interessa”, denuncia o presidente do Sindicato dos Jogadores Profissionais de Futebol de Portugal (SJPF), Joaquim Evangelista.
Passado algum tempo, e sem conseguir contatar mais o empresário, muitos jogadores descobrem que não serão aproveitados e que o dinheiro da transferência, alimentação, hospedagem e remuneração foi desviado pelo agente, e que o clube (que não irá contratá-lo) precisará da sua vaga no dormitório ou na casa para abrigar outro atleta.
Sem dinheiro, sem perspectiva de contratação e sem destino, o atleta deverá sair brevemente. “Se tiver uma oportunidade tudo bem, mas se não tiver, depois fica aí abandonado”, descreve Evangelista ao acrescentar que já denunciou “o tráfico de jovens” iniciado no Brasil. Segundo ele, “quando o jogador deixa de ser opção, retiram da casa e proíbem que os jogadores comam nos restaurantes que são do clube”
. De acordo com o agente brasileiro registrado na FPF, Marcelo Silva, há em Portugal (como em outros em outros países) um “mercado paralelo” de empresários que não são cadastrados oficialmente e por isso há mais dificuldade para serem punidos. Também são mais difíceis de localizar para apurar o desvio de dinheiro ou quebra de acordo. “É um mercado onde há muito agente não licenciado e não está apto a exercer a profissão” alerta Silva.

Leia mais em; Portal EBC

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