A lógica do voto útil, contestada por eleitores cujos votos são mais ideológicos, marca um movimento natural em eleições disputadas de maneira acirrada por setores progressistas e conservadores. A opção por um candidato com mais chance de evitar uma derrota antecipada do campo progressista não deve ser descartada e é legítima, avalia o cientista político Vitor Marchetti, da Universidade Federal do ABC.
“Não tem muito cabimento discutir se o voto útil deve ser admitido ou não. No processo, o eleitor raciocina e começa a avaliar, no cenário, quem tem mais chance. O voto útil é sempre uma estratégia”, afirma.
O cientista político destaca três das principais capitais do país onde “a lógica do voto útil está imperando” nas eleições municipais de 2016: Porto Alegre, Rio de Janeiro e São Paulo. “No fundo, essa lógica está reportando que hoje há dois campos em disputa no país: um campo da esquerda e um campo da direita. Quem está no campo da esquerda começa a fazer um cálculo mais racional sobre quem tem mais chance de liderar o setor progressista”, diz.
Marchetti observa que as pesquisas indicam, no Rio, esse movimento sendo “capitaneado pelo Psol”, cujo candidato, Marcelo Freixo, aparentemente, tem mais chance do que Jandira Feghali (PCdoB) de ir ao segundo turno contra Marcelo Crivella (PRB).
Em São Paulo, o atual prefeito, Fernando Haddad, é o único nome da esquerda com possibilidade de disputar a decisão contra o tucano João Doria, candidato do governador Geraldo Alckmin que parece liderar a corrida eleitoral. Na capital paulista, de acordo com a “lógica” do voto útil, Luiza Erundina (Psol) deve ver boa parte de seus votos se transferir para Haddad. Pelo menos segundo as pesquisas e trackings dos partidos, o petista disputa a segunda vaga, cabeça a cabeça, com Celso Russomanno (PRB). Marta Suplicy estaria para trás de ambos os candidatos.
Já no Rio Grande do Sul, Raul Pont (PT) é eleitoralmente mais credenciado a disputar o segundo turno contra Sebastião Melo (PMDB), sugando os votos progressistas que, no caso, se transfeririam de Luciana Genro para a candidatura petista, como movimento para desbancar Nelson Marchezan Júnior (PSDB), que disputa a segunda vaga.
Apesar de considerar natural o voto útil, principalmente numa conjuntura como a atual, após o impeachment de Dilma Rousseff, em que o país está fortemente dividido entre dois campos, o voto ideológico “mais forte” é inerente ao processo. “É também normal que haja uma parcela do eleitorado da Erundina que fique com ela”, diz Marchetti. “Seja como for, a lógica do voto útil está disseminada pelo país. Na minha opinião, vai fazer a diferença do ponto de vista do resultado.”
Na quarta-feira (28), em evento de campanha de Haddad realizado na Casa de Portugal, centro da capital, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu o tom sobre o que está em jogo e é a principal motivação do voto útil: "Precisamos ter um prefeito sério e responsável governando a cidade mais importante da América Latina para fazer frente aos pacotes do Temer para tirar dinheiro da educação e saúde".
No mesmo evento, o escritor Fernando Morais pediu união de PT e Psol para evitar que dois candidatos de direita cheguem ao segundo turno em São Paulo e Rio. “Estamos correndo o risco de entregar as duas maiores cidades do país aos golpistas. Está na hora do PT e do Psol se entenderem”, afirmou. Na capital fluminense, o PT não tem candidato e apoia Jandira Feghali.
Sobre a opinião de que a candidatura de Erundina é uma irresponsabilidade e um fator de divisão do eleitorado de esquerda, o candidato a vereador pelo Psol em São Paulo Douglas Belchior a considera equivocada. “Não é justo jogar nas costas do Psol e nas costas da candidatura da Erundina a responsabilidade por uma possível não chegada do Haddad ao segundo turno”, disse à RBA. “A posição da nossa campanha é: a nossa candidata é a Erundina e nós vamos com essa candidatura até o fim, porque é a melhor candidatura, tem a melhor plataforma.” Foto: EBC
Créditos: Rede Brasil Atual
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