Milhares de civis e rebeldes enfrentam fome e frio enquanto aguardam a retomada das operações de retirada dos últimos redutos controlados pelos insurgentes em Alepo, na Síria. Um deputado da oposição afirmou ontem (17) que um novo acordo para a evacuação havia sido negociado, mas as autoridades do regime sírio não confirmaram a informação.
Pelo menos 40 mil civis e entre 1.500 e 5 mil combatentes com suas famílias continuam cercados no ponto rebelde da segunda maior cidade síria, de acordo com o enviado especial da ONU para a Síria, Staffan de Mistura.
No bairro de Al-Amiriyah, controlado em parte pelos insurgentes, e de onde começa o périplo da população a ser evacuada, milhares de pessoas, entre elas crianças, passaram a noite de sexta-feira (16) para sábado em meio às ruínas dos imóveis. Durante a madrugada, a temperatura no local atingiu 6 graus negativos.
Os moradores estão sem água potável e alimentos e muitos deles sobrevivem comendo tâmaras. Segundo um correspondente da agência France Presse, muitos moradores queimaram seus pertences para evitar que sejam tomados pelas forças do regime de Bashar Al-Assad.
A fome por fim levou Mohammead, de 16 anos, e sua família a abandonarem a casa onde viviam em Alepo, esquivando-se das balas dos atiradores enquanto corriam para salvar suas vidas.
"Estávamos morrendo de fome no leste de Alepo, tivemos que partir", contou Mohammad à Agência da ONU para Refugiados (Acnur), depois que ele e vários membros de sua família encontraram segurança no oeste da cidade.
"Costumávamos ganhar sacos de pão, mas então não recebemos mais essa ajuda e restou apenas arroz. Depois que o arroz acabou e o preço dos alimentos subiu, não conseguimos mais arcar com os custos".
À medida que se aproximavam das artilharias em ruas devastadas, correndo de esconderijo em esconderijo, o pai de Mohammad se separou do grupo, forçando o jovem a escolher entre procurá-lo ou seguir com o resto da família para um local mais seguro.
Eles conseguiram chegar à fábrica de algodão Mahalej, um abrigo temporário para os recém-chegados, onde o Acnur está fornecendo roupas de inverno, cobertores, colchões, sacos de dormir, água e comida para os necessitados. Enquanto sua irmã Ahlam – que significa “sonhos” em árabe – brincava ao fundo, Mohammad disse que ainda não sabe o que aconteceu com seu pai.
Mohammad está entre os vários residentes recentemente deslocados de Alepo oriental que descreveram o sofrimento e o terror da vida no meio do enclave, enquanto o Acnur pede repetidamente que todas as partes envolvidas no conflito garantam a segurança de dezenas de civis que ainda se encontram na cidade.
Semanas de intensos combates custaram caro aos civis em Alepo, que antes do conflito da Síria era o centro comercial e a maior cidade do país.
A feroz batalha pelo lado oriental da cidade, que esteve sob o controle da oposição durante grande parte dos últimos quatro anos, forçou os civis a buscarem segurança no oeste controlado pelo governo nas últimas semanas, embora os números não sejam precisos e possam ser ainda maiores.
Homens, mulheres e crianças que recentemente chegaram a abrigos contaram detalhes angustiantes sobre semanas de bombardeio e da escassez de alimentos, de cuidados médicos e de combustível para aquecimento. A provação foi agravada pelo fato de que a luta impediu a ajuda humanitária de chegar ao leste durante os últimos cinco meses.
Além de fornecer itens de socorro essenciais, o Acnur também está oferecendo serviços de aconselhamento e proteção aos recém-chegados traumatizados, incluindo muitas crianças. Bader, de 12 anos, que perdeu sua mãe antes do início da crise, estava encolhido dentro do abrigo junto de seu pai, sua madrasta e seis irmãos.
"Senti muito frio e fome nos últimos 10 dias", disse Bader, com os olhos brilhando com lágrimas. "Tínhamos uma casa, mas foi completamente destruída. Foi muito chocante ver nossa casa em ruínas".
Aziza, mãe solteira na casa dos trinta e poucos anos, chorava num canto de um dos grandes hangares transformados em abrigos, sentada no chão com suas duas filhas. Ela conversou com membros do Acnur e disse: "Quando chegamos aqui, percebi que estávamos amaldiçoados com o deslocamento. Tenho muito medo do que o futuro nos reserva, especialmente para minhas filhas".
O Acnur e seus parceiros estão ampliando a resposta humanitária em Alepo para atender às necessidades dos recém-deslocados, bem a dos deslocados anteriormente no oeste da cidade. Além de alimentação, água e proteção, uma das necessidades humanitárias mais urgentes é encontrar abrigo seguro para os recém-deslocados.
O início do inverno torna ainda mais vital que as famílias sejam mantidas em locais secos e aquecidos – um pequeno conforto depois de meses vivendo em constante medo. Com Agência Brasil e Agência da ONU para Refugiados (Acnur)
Créditos: Rede Brasil Atual
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