domingo, 12 de maio de 2013

Refugiadas sírias são vendidas para ser noivas na Jordânia


Refugiadas sírias (Reuters)

Antes do início da guerra civil síria, Kazal estava apaixonada por seu vizinho, na cidade de Homs.
"Ele tinha 20 anos e eu sonhava em me casar com ele", diz ela. "Nunca imaginei que fosse casar com alguém que eu não amasse, mas eu e minha família passamos por momentos difíceis desde que viemos para Amã."Kazal diz ter 18 anos, mas parece muito mais nova. Ela acaba de se divorciar de um saudita de 50 anos que pagou cerca de US$ 3,1 mil (cerca de R$ 6,2 mil) para se casar com ela. O casamento durou uma semana.
"Vivi com meu marido em Amã (capital da Jordânia), mas não éramos felizes. Ele me tratava como uma empregada e não me respeitava como esposa. Era muito rígido comigo. Estou contente que tenhamos nos divorciado."
Seus olhos azuis se enchem de lágrimas quando ela fala sobre o casamento.
"Concordei (em me casar) para ajudar minha família. Chorei muito quando fiquei noiva. Nunca mais casarei por dinheiro. No futuro, espero me casar com um garoto sírio que tenha a minha idade."
Seu escritório, no centro de Amã, está cercado por centenas de refugiados recém-chegados, fazendo longas filas para se registrar e pedir ajuda. Ele diz que agentes da UNHCR já intervieram em alguns casos, em que famílias estavam oferecendo suas filhas para casamentos.Andrew Harper, representante da agência de refugiados da ONU (UNHCR) na Jordânia, se diz preocupado com o fato de os 500 mil refugiados sírios no país estarem cada vez mais recorrendo a medidas drásticas como a de Kazal. "Não temos recursos suficientes para ajudar todos os que precisaam", diz ele. "A grande maioria dos refugiados são mulheres e crianças. Muitas não estão acostumadas a sair para trabalhar, então o sexo para a sobrevivência acaba virando uma opção."
"Não consigo imaginar nada mais asqueroso do que pessoas que buscam mulheres refugiadas. Você pode chamar isso de estupro, de prostituição, do que quiser, (o fato é que) isso é usar as (pessoas em situações) mais fracas como presas."'
"A vida aqui é muito difícil e temos pouca ajuda", queixa-se. "Temos um bebê que precisa de leite diariamente e não temos dinheiro para o aluguel. Então tive de sacrificar Kazal para ajudar o resto da família."Acredita-se que casamentos rápidos entre homens do golfo Pérsico e meninas sírias já aconteciam mesmo antes do início da guerra na Síria. Mas a mãe de Kazal, Manal - que, como sua filha, se veste de forma conservadora, com vestimentas muçulmanas que a cobre dos pés à cabeça - diz que, no passado, nunca teria aceitado um casamento arranjado para sua filha.
Ela diz que o casamento foi arranjado por uma ONG jordaniana chamada Kitab al-Sunna, que dá dinheiro, comida e medicamentos aos refugiados. Seu trabalho é financiado por indivíduos ao redor do mundo árabe.
"Quando fui à ONG pedir ajuda, eles pediram para ver minha filha. E disseram que iriam encontrar um marido para ela."
O diretor da Kitab al-Sunna, Zayed Hamad, diz que ele às vezes é abordado por homens interessados em se casar com mulheres sírias.
"Eles pedem garotas com mais de 18 anos. Sua motivação é ajudar essas mulheres, especialmente as que perderam seus maridos como mártires na Síria. Os homens árabes veem as mulheres sírias como boas donas de casa, acham elas bonitas, então elas são muito desejadas."
"Os homens têm entre 50 e 80 anos e pedem por garotas de pele e olhos claros. Eles querem garotas muito novas, de no máximo 16 anos."Um Mazed é uma refugiada síria de 28 anos que começou a ganhar dinheiro arranjando casamentos entre suas compatriotas e homens árabes. Em um quarto cheio de mofo em Amã, ela fica no telefone conversando com potenciais noivas e noivos.
Ela diz ter apresentado mais de cem jovens sírias a esses homens, que lhe pagam uma taxa inicial de US$ 70 e, se o casamento se concretizar, mais US$ 310.
"Se os casamentos acabam em divórcio em pouco tempo, não é problema meu. Sou só o 'cupido'. Para mim não é prostituição, porque há um contrato entre o noivo e a noiva."
Um Mazed é um nome falso. Ela não quer divulgar sua identidade porque diz ter vergonha do que faz, mas afirma não ter escolha.
"Como podemos viver se as ONGs nos ajudam tão pouco? Como vamos pagar o aluguel? Não recebemos ajuda o suficiente para viver decentemente, por isso faço o que faço - para que eu e minha família possamos sobreviver."
Da BBC Brasil 

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