“Ciência é debate”. A frase é do epidemiologista brasileiro Eduardo Franco para rebater uma expectativa frequente de que o conhecimento científico apresente certezas e respostas definitivas. Ele é um dos nomes mais esperados para o Next Frontiersto Cure Cancer - Próximas Fronteiras para Cura do Câncer -, um congresso organizado pelo centro de tratamento A.C.Camargo, em São Paulo, entre os dias 13 e 15 de junho. A palestra do especialista que dirige a Divisão de Epidemiologia do Câncer do Canadá e chefia o Departamento de Oncologia da McGillUniversity acontece nesta sexta. Para ele, consenso na ciência é um paradoxo. “É o debate que move a ciência adiante”, reforça.
Ele já coordenou o Setor de Epidemiologia do Instituto Ludwig em São Paulo e fala com segurança sobre a realidade do Brasil em relação à pesquisa científica e adoção de programas de prevenção de câncer. No currículo de Franco está também passagens pelo Centro de Controle de Doenças (CDC), em Atlanta; pela Agência Internacional de Pesquisas sobre o Câncer (IARC), em Lyon, e pelo Instituto Nacional do Câncer dos Estados Unidos (NCI).
De Montreal, o especialista conversou com o Saúde Plena e não se furtou em criticar alguns protocolos adotados por aqui. Entre suas declarações mais contundentes está sua visão sobre o exame preventivo contra o câncer de próstata. “A prevenção não é mais recomendada como prática de saúde pública”. Franco se refere ao teste de PSA - um exame de sangue para detecção precoce desse tipo de câncer - e ao exame de toque. “Não divulgamos mais o mantra da detecção precoce”, reforça. Segundo ele, é controverso se essa descoberta é boa, já que o câncer de próstata é um tipo que evolui muito vagarosamente. “Para alguém que tem sintoma a gente faz o exame”, fala. Ele ressalta, entretanto, que para a situação particular de um homem e seu médico cujo intuito é se investigar os sintomas, então o preventivo é usado e é muito útil. “O que mudou é a crença de que todos os homens além dos 50 devem ter seu PSA feito todos os anos”, afirma.
Ele também diz que o risco do tratamento em casos de detecção precoce pode afetar a qualidade de vida do homem - incontinência urinária e dificuldade de ereção - até o risco de morte que toda intervenção cirúrgica tem.
No caso da constatação de uma lesão, ele é favorável ao tratamento expectante - acompanhar, ao invés de tratar - porque não necessariamente o câncer vai progredir. Ele diz que o risco das consequências negativas se sobrepõe aos benefícios de uma intervenção precoce e que recomenda menos ênfase à ação preventiva.
Cirurgião oncologista, diretor de Cirurgia Pélvica e vice-presidente do A.C.Camargo Cancer Center, Ademar Lopes diz que, do ponto de vista médico, não concorda com Eduardo Franco. O oncologista faz questão de ressaltar que homens que estão no grupo de risco – idade, casos na família, e pessoas da raça negra - devem iniciar o preventivo mais cedo, aos 40 anos. “No caso de homens com mais de 70 anos e que não têm sintoma, aí não tem sentido fazer PSA e toque retal. Por ser uma doença de evolução lenta, eles podem morrer de outras coisas antes que de câncer de próstata”, diz.
Para ele, o ponto de vista do epidemiologista brasileiro é de rastreamento populacional. “Procurar câncer de próstata na população inteira é controverso e não aconselho mesmo”, esclarece. O médico reforça: “diagnosticar precocemente o câncer de próstata aumenta a chance uma vida maior”.
Leia mais em UAI.COM
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Os comentários aqui publicados são de responsabilidade de seus autores.