Começa nesta segunda-feira (27) a campanha para o segundo turno das eleições presidenciais uruguaias. A disputa, no próximo dia 30 de novembro, será entre os candidatos do governo, Tabaré Vasquez, e do tradicional Partido Nacional (ou Blanco), Luís Lacalle Pou.
“As eleições de domingo (26) foram as mais disputadas dos últimos 20 anos no Uruguai”, disse à Agência Brasil o cientista político Mauro Casa. “O que esté em jogo não é apenas a Presidência do Uruguai, que será definida em um segundo turno, mas também a composição do Congresso que apoiará o novo governo.”
Até o fim da noite desse domingo, só haviam sido apurados 11% dos votos. Mas todos os candidatos se basearam nos resultados de boca de urna para fazer seus discursos, agradecendo os eleitores pelo voto e lançando as campanhas para o segundo turno.
Tabaré Vasquez, 74 anos – que presidiu o Uruguai de 2005 a 2010, inaugurando uma década de governos da coalizão de partidos de esquerda, a Frente Ampla – foi o mais votado. Obteve cerca de 46,4 e 47,4% dos votos, segundo projeções feitas por três consultorias. Luís Lacalle Pou, 41 anos – o mais jovem de todos os candidatos –, obteve 30,4% e 32%, segundo as mesmas consultorias.
Não é a primeira vez que haverá segundo turno entre candidatos da Frente Ampla e do Partido Nacional. Em 2010, o ex-guerrilheiro Jose Pepe Mujica derrotou o ex-presidente Luís Lacalle de Herrera (1990-1995) – pai de Lacalle Pou - que buscava um segundo mandato. Tanto Tabaré Vasquez quanto Mujica (que foi eleito senador) têm altos índices de popularidade: nas suas gestões, o Uruguai cresceu, a pobreza diminuiu e o desemprego caiu de dois dígitos para um.
“Mas os tempos mudaram e Lacalle Pou atraiu muitos votos jovens, por causa da sua idade e de uma campanha colocando ênfase em ser positivo, sem explicar muito bem o que isso significava. Foi um discurso diferente do típico discurso politico”, disse Casa. Segundo ele, para derrotar Tabaré Vasquez no segundo turno Lacalle Pou vai precisar conquistar os votos dos demais partidos da oposição – e não será fácil.
No domingo (26), Lacalle Pou já deu o primeiro passo nesse sentido, comparecendo em público ligado ao terceiro colocado: o candidato do tradicional Partido Colorado, Pedro Bordaberry (filho do ex-ditador Juan Maria Bordaberry). Ele obteve 13% dos votos, segundo as pesquisas de boca de urna, feitas por três consultoras. Se as previsões forem acertadas, Lacalle Pou precisaria também garantir os votos do Partido Independente (de esquerda), que obteve 3% dos votos, mas cujos eleitores dificilmente se identificariam com os colorados.
Mesmo que Tabaré Vasquez assegure, em novembro, o terceiro governo consecutivo da Frente Ampla, resta saber que apoio terá no Congresso. Desde que chegou ao poder, a Frente Ampla contou com a maioria na Câmara dos Deputados e no Senado, aprovando sem dificuldades seus projetos de lei – até os mais polêmicos. Entre eles estão a legalização do aborto, do casamento de pessoas do mesmo sexo e do consumo, da produção e da venda de maconha.
“Estamos à beira de obter a maioria parlamentar”, disse Tabaré Vasquez, no discurso em comemoração à vitória no primeiro turno. Mas ele não deu certeza, pelo contrário, disse que a Frente Ampla não quer “um país de unanimidades, que não seria bom, nem possível”. Já Lacalle Pou manteve acesa a esperança de que pode derrotar Tabaré Vasquez: “Está intacta a possibilidade de ser governo”, disse. Ele comemorou a possibilidade de a oposição ter maior presença no Congresso.
Alem de ter votado para presidente, vice, deputados federais e senadores (que terão todos mandatos de cinco anos), os uruguaios participaram de um plebiscito para reduzir a maioridade penal de 18 para 16 anos. A iniciativa, do Partido Colorado, foi derrotada, mas reflete uma das maiores preocupações dos eleitores uruguaios hoje: o aumento da insegurança. As exigências são uma reforma para melhorar a educação (especialmente no segundo grau) e para a saúde.
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