Diferenças socioeconômicas provocam diferenças cognitivas, o que não se sabe é exatamente como e por que isso acontece. Um estudo publicado na revista Nature Neurosciense de maio confirma essa triste realidade. Coordenado pela doutora Kimberly Noble, o estudo avaliou o cérebro de 1.099 crianças e jovens de 3 a 20 anos e descobriu que essa associação é logarítmica, tornando o abismo entre as proles de famílias ricas e pobres ainda mais profundo.
Entre as crianças pobres, uma pequena diferença na renda familiar provoca uma diferença enorme na estrutura cerebral, enquanto nas famílias ricas diferenças de renda pouco significaram no desenvolvimento cerebral, sugerindo, este estudo, que realmente existe uma renda mínima para um bom desenvolvimento do cérebro, principalmente nos dois primeiros anos de vida.
As maiores diferenças estavam nas áreas do cérebro responsáveis pela linguagem, leitura, noção de espaço e capacidade para resolver problemas.
Sabemos que o cérebro é extremamente plástico e adaptativo, e essa propriedade se mantém durante toda a vida. Porém é mais intensa do nascimento até o fim da puberdade, e nesse período todo estímulo que recebemos resulta em aprendizado, tornando funções cerebrais superiores como memória, lógica e senso moral mais desenvolvidas.
Estudos anteriores levavam em conta o volume do córtex, que é a camada mais superficial do cérebro e responsável por todas as funções cognitivas, ditas superiores, do cérebro. Desde o nascimento até o início da idade adulta, os neurônios vão se ramificando e formando mais conexões, adquirindo uma capa de proteína – a mielina – nesses prolongamentos, o que torna a condução elétrica mais rápida.
Com o aumento da mielina, o córtex vai se expandindo e se adelgaçando; a redução na espessura do córtex acaba interferindo relativamente nos dados de volume por idade, tornando-os difíceis de interpretar, mas com melhor resolução da ressonância magnética foi possível mapear todo o cérebro e medir com razoável precisão toda a sua superfície. Com esse novo método pode-se notar que a superfície do cérebro aumenta desde o nascimento até atingirmos o fim da idade adulta.
A inteligência está diretamente relacionada ao volume e à superfície do cérebro. As crianças mais inteligentes aos 10 anos, por exemplo, têm os córtices mais finos, mas a superfície do cérebro é maior, pois possuem neurônios com mais conexões. Esse crescimento é modulado por alguns fatores predominantes, um pouco pela genética e muito pela exposição a novas experiências. Crianças com pais com nível de educação mais alto têm o córtex maior.
Riqueza seria, então, o resultado material de um nível educacional maior? Não: riqueza e nível de educação dos pais atuam de forma independente. Em famílias em que a educação é prioritária, as crianças adquirem melhor desenvolvimento cognitivo.
Pelo estudo, as intervenções dos pais e da escola interferem muito na evolução cerebral. Portanto, em países onde a pobreza reina, o único jeito de evitar a criação de um exército de idiotas é universalizar a educação e as boas experiências. Infelizmente, pelos padrões de nossa educação pública estamos nos distanciando cada vez mais dessa possibilidade.
Créditos: Carta Capital
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