Daniel López Angulo investiga o uso de gelatina, quitosana, aloe vera e do muco excretado por caracóis para produzir um novo tipo de membrana para ser colocada na pele queimada, promovendo sua regeneração e estimulação de células. O estudo é orientado pelo professor Paulo José do Amaral Sobral, cientista do Centro de Pesquisa em Alimentos (FoRC – Food Research Center).
“Muitas pessoas sofrem acidentes com água quente ou fogo, infelizmente, uma elevada percentagem destes acidentes ocorrem em famílias com recursos financeiros limitados e, além disso, a recuperação é lenta e gera grandes períodos de tempo em que a pessoa é incapaz de trabalhar, gerando um alto nível de estresse no grupo familiar. Nosso projeto busca desenvolver um material mais barato e eficaz que as membranas convencionais e enxertos”, afirma Angulo. O Brasil não tem estimativas oficiais sobre o problema, mas os cálculos mais recentes apontados pela Sociedade Brasileira de Queimaduras indicam que pelo menos um milhão de pessoas são vítimas de queimaduras no País por ano, sendo que dois terços deste total envolvem crianças.
O pesquisador propõe o uso de materiais de origem orgânica para produção do novo tipo de membrana, sendo uma alternativa para os materiais sintéticos usados hoje. A membrana é feita de uma matriz protéica, composta por gelatina suína e quitosana, fibra natural derivada da quitina, um elemento encontrado nas carapaças de crustáceos como camarão, caranguejo e lagosta. Essa matriz dá sustentação ao material biológico que estimula a cicatrização. Nela são aplicados dois componentes cujas propriedades de regeneração da pele e proliferação celular já foram demonstradas cientificamente: a aloe vera e o baba de escargot já utilizados na indústria cosmética.
A membrana, anteriormente congelada, passa pela liofilização, que consiste num processo de secagem no qual se utiliza um sistema de baixa pressão que permite uma remoção rápida e eficaz da água, resultando em um material altamente poroso e seco. A membrana fica muito porosa como uma esponja, o que permite uma matriz de poros interligados que beneficiam o crescimento celular e a integração. “O material é leve, de fácil de manipulação e muito flexível para aderir bem à pele, além de ser biodegradável e biocompatível, não gerando componentes tóxicos no processo de regeneração da pele, que consegue minimizar cicatrizes e marcas que muitas vezes permanecem por toda a vida. “, explica.
A membrana é colocada na pele ferida, estimulando a cicatrização e regeneração das células. Até o momento, Angulo trabalhou na caracterização física, mecânica, e biodegradabilidade in vitro do novo material que está desenvolvendo. Nesse estágio da pesquisa não é possível afirmar quanto mais barato será essa membrana em relação às peles biossintéticas de colágeno misturado com materiais sintéticos existentes hoje no mercado. Como próxima etapa, Angulo fará os testes de crescimento de fibroblastos (células que migram e proliferam durante a cicatrização de feridas, estão alojados no tecido conjuntivo e são responsáveis pela síntese de colágeno) incubados in vitro; escolherá um modelo biológico animal a ser aplicado, ainda este ano e, posteriormente, em humanos, se tudo correr conforme o planejado. O projeto deve ser concluído em 2017.
Créditos: Jornal da USP
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