quarta-feira, 1 de maio de 2013

Vilarejo milionário pede ideias para gastar dinheiro




Neste período de crise na Europa, em que governos municipais também são obrigados a cortar despesas, um vilarejo francês ficou "milionário” e não sabe mais onde gastar seu orçamento, quintuplicado em apenas três anos graças a um parque eólico instalado em sua área.
O orçamento anual de Arfons – pequeno vilarejo com somente 182 habitantes, situado no sudoeste da França e distante 60 quilômetros de Toulouse – passou de 400 mil euros (cerca de R$ 1,04 milhão) em 2009 para 2,3 milhões de euros (cerca de R$ 6,02 milhões) atualmente, disse o prefeito, Alain Couzinié, à BBC Brasil.
O aumento considerável da receita é decorrente dos impostos pagos pela empresa que administra o parque eólico instalado no vilarejo.
Com os novos recursos, o prefeito já renovou o salão de festas da cidade, comprou um ônibus escolar e terrenos para ampliar o cemitério. Também lançou projetos de renovação do sistema de esgoto e de água, que estão em fase avançada.
Novos armazéns para guardar equipamentos recentemente comprados, como tratores e máquinas para retirar neve, também foram adquiridos pelo governo municipal.

Consulta popular

Sem saber onde mais gastar o dinheiro sobrando, o prefeito de Arfons decidiu realizar uma consulta popular, e cerca de três semanas atrás, os moradores apresentaram em uma reunião pública suas ideias de melhorias para a cidade.
"No início, achei que as propostas seriam para fazer obras importantes, como construir uma piscina municipal ou um estádio”, disse o prefeito à BBC Brasil.
Mas os habitantes foram bem mais modestos e sugeriram apenas melhorias simples no cotidiano. A lista de sugestões inclui, por exemplo, programas de limpeza de excrementos de pombos ou para acolher gatos de rua e lutar contra vespas.
Embelezar a cidade com flores, instalar bancos públicos e um quebra-molas na estrada na entrada do vilarejo ou ainda renovar a antiga cabine telefônica feita de madeira também são algumas das ideias dos moradores para gastar o excedente orçamentário.

Bar

"No começo, fiquei decepcionado. Mas, depois, vi que são essas pequenas coisas que fazem a qualidade de vida dos moradores e são importantes para eles”, disse o prefeito à BBC Brasil.
Uma das principais reivindicações dos habitantes de Arfons foi a reabertura do único café do vilarejo.
"No começo, fui contrário à ideia porque não cabe a uma prefeitura administrar um bar, mas depois entendi que o lugar é importante para criar relações sociais”, diz Couzinié.
A prefeitura comprou os dois prédios onde funcionava o bar que, no passado, havia sido um hotel-restaurante e vai renová-los. O investimento total é de um milhão de euros, segundo o prefeito.
Couzinié conta que, primeiro, será reaberto o café, que poderá também ter uma clientela turística, já que Arfons se situa na área da Montanha Negra, que atrai muitas pessoas que fazem caminhadas na natureza.
"Depois, vamos abrir o restaurante e alguns comércios no local, como padaria e lojas de alimentos, que não existem mais em Arfons. Em uma terceira etapa, vamos criar alguns quartos para hospedagem”, disse o prefeito à BBC Brasil.

Existência e estilo

Arfons não possui nem mais padaria, algo incomum na França. É um funcionário municipal que compra pães todas as manhãs em outra cidade e os vende em um local do vilarejo.
O supermercado mais perto fica a 12 quilômetros. A compra do antigo bar e a reabertura de mercearias no prédio deverá dinamizar o comércio local e garantir a existência do vilarejo, evitando o exôdo da população mais jovem.
"O projeto principal, graças ao superávit orçamentário, é evitar que Arfons desapareça”, diz o prefeito.
"A população envelhece e esperamos manter os jovens casais com esses novos serviços na cidade”, afirma Couzinié, lembrando que, em meados do século 19, Arfons tinha 1,5 mil habitantes.
O prefeito ressalta que não fará "nenhum projeto megalomaníaco” e conta que vem recebendo inúmeras propostas empresariais oferecendo ideias para ele gastar seu orçamento.
"Queremos manter o estilo do vilarejo, com seus telhados em ardósia”, diz Couzinié.

BBC Brasil 




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