O Sistema Cantareira chegou a 17,9% de sua capacidade hoje (20), e o governo estadual já trabalha com a projeção de que os reservatórios, que abastecem cerca de 10 milhões de pessoas na região metropolitana de São Paulo, devem chegar a apenas 16% no dia 1º de março. Trata-se da pior estiagem desde o início das medições, em 1930, superando a seca de 1953-1954, utilizada como modelo no Plano Diretor de Recursos Hídricos do estado para projetar situações de emergência. Se, em janeiro de 1953, a vazão média mensal no Sistema Cantareira foi de 24,5 m³/s, no mês passado esse índice foi de apenas 14,3 m³/s. Em fevereiro, até o dia 19, a vazão média era de apenas 8,9 m³/s. "E isso com o agravante de que, naquela época, a região metropolitana tinha algo como 2 milhões de habitantes. Hoje, são 20 milhões. A situação é verdadeiramente alarmante", alerta Chico Brito (PT), prefeito de Embu das Artes e presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Alto Tietê (CBH-AT), órgão que reúne representantes de 36 prefeituras na região metropolitana, o governo estadual e organizações da sociedade civil.
"O governo do estado está muito preocupado com a situação, mas me parece muito focado em ações paliativas, imediatas. A situação é grave e exige investimento para o longo prazo", aponta Brito, que calcula um prazo mínimo de três anos para que o Sistema Cantareira possa voltar à normalidade após chegar aos níveis mais baixos de sua história. Como integrante do grupo de trabalho montado pela Agência Nacional de Águas (ANA), o Departamento de Águas e Energia (DAEE) e a Sabesp para lidar com a situação, o comitê cobra medidas da administração Geraldo Alckmin (PSDB) para enfrentar os problemas de abastecimento, como multa a quem desperdiçar água.
"O incentivo dado pela Sabesp é importante, mas, sozinho, não adianta. Acreditamos que há necessidade de estabelecer limites de consumo de água e multar quem cometer desperdício", afirma Brito. "E, ao mesmo tempo, investir em dois novos reservatórios, em Campinas e em Mogi das Cruzes, para que tenhamos um banco de águas que seja suficiente para lidar com estiagens prolongadas. Hoje, não temos reservas." As obras, com custo estimado de R$ 10 milhões, foram sugeridas ao governo estadual pela primeira vez em 2004, e, se tivessem sido iniciadas, poderiam ter ficado prontas em 2013.
Ainda de acordo com o presidente do comitê, o governo estadual já deveria ter começado a instalar novas bombas no Sistema Cantareira para captar água do "volume morto", como é chamada a reserva que está fisicamente abaixo do sistema atual de captação. "40% do potencial total da represa está abaixo das bombas. É um volume que normalmente não é captado porque apresenta mais sedimentos, mas nós vamos precisar dessa água durante a emergência atual", afirma Brito. O "volume morto" teria 400 milhões de metros cúbicos de água, dos quais cerca de 20% poderiam ser utilizados com segurança.
"Tirar a água de lá é uma medida de emergência, mas a obra, não. Leva 60 dias, no mínimo, para rebaixar as bombas. Se deixarmos para fazer quando o nível já estiver muito próximo de zero, não vamos escapar do racionamento", pondera Brito.
Na última terça-feira (18), o governador Geraldo Alckmin (PSDB) anunciou os primeiros resultados da campanha de desconto na conta de água para quem poupar mais e indicou que está satisfeito com as ações desenvolvidas para combater a falta d'água até agora. "São Paulo foi talvez o único ente federativo que estabeleceu um estímulo para quem faz o uso racional da água. A população está de parabéns", disse. "Com a campanha que estamos fazendo, a população vai participar mais ainda, e vamos ter um grande ganho em termos de uso racional de água", finalizou o governador.
Entre 9 e 16 de fevereiro, a campanha de descontos promovida pela Sabesp reduziu o consumo em 2,12 m³/s, o equivalente para o uso diário de 183 mil caixas d'água. Foto LUCIANO CLAUDINO/FRAME/FOLHAPRESS
Créditos: Rede Brasil Atual
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Os comentários aqui publicados são de responsabilidade de seus autores.