A força-tarefa que investiga a Operação Lava Jato encontrou movimentações financeiras em nome da multinacional canadense Bombardier nas contas usadas pelo doleiro Alberto Youssef na Suíça. É mais uma peça no quebra-cabeças de indícios e provas que o Ministério Público paulista tem de montar sobre o esquema de corrupção no Metrô, chamado pomposamente de cartel pela imprensa tucana, onde empresas combinavam preços nas licitações e pagavam propinas a autoridades do governo tucano de São Paulo nas gestões de Mário Covas, José Serra e Geraldo Alckmin.
A Bombardier é fornecedora dos trens do monotrilho da Linha 15-Prata do Metrô paulista e investigada por supostamente integrar o cartel. Nesta linha do Metrô está a estação Vila Prudente, listada na planilha apreendida com Youssef em março pela Polícia Federal, ao lado da cifra de R$ 7,9 milhões, suspeita de referir-se a propina.
A movimentação com o nome da multinacional canadense aparece na conta suíça do banco PKB, da empresa offshore Santa Tereza Services Limited Partnership, criada na Nova Zelândia e controlada por João Procópio Junqueira Pacheco de Almeida Prado, preso desde julho de 2014 apontado como alto membro da suposta organização criminosa de Youssef.
“Apurou-se que dentro da conta da offshore Santa Tereza, na Suíça, há quatro subcontas (denominadas Fiança, C/C, Premier e Sanko), todas controladas pela organização criminosa de Youssef e utilizadas para as práticas delitivas. Assim, por exemplo, no extrato da subconta Sanko Sider aparecem depósitos que também aparentam ser relacionados à corrupção de funcionários públicos brasileiros: Bombardier, OAS Investments, Cimentos Tupi (…)”, afirma o MPF em relatório.
O Ministério Público Federal, em um de seus ofícios da Lava Jato, definiu Almeida Prado como: “(...) de sua longa experiência no setor bancário e na área de câmbio, a função de João Procópio era, em síntese, ser o operador das contas de Youssef, sobretudo no exterior. Assim, era sua incumbência abrir as contas de empresas offshore no exterior, em seu próprio nome ou em nome de laranjas, bem como movimentá-las no interesse da organização criminosa”.
De acordo com o MP, Prado enviou ao menos 78 milhões de dólares para o exterior por meio de 1.114 contratos fraudulentos intermediados por essas empresas.
Youssef é o segundo doleiro da Operação Lava Jato que aparece ligado ao escândalo das propinas nos trens paulistas. O outro, Raul Henrique Srour, movimentou dinheiro irregular da Siemens, também suspeito de tratar-se de intermediação de propinas, no paraíso fiscal das Ilhas Virgens Britânicas, conforme outra investigação internacional feita pela Procuradoria de Luxemburgo.
A Bombardier afirmou em nota que "jamais manteve contato com a empresa Santa Tereza ou qualquer outra companhia pertencente ao Sr. Alberto Youssef".
Em 2013, a Bombardier Inc. realizou uma emissão de títulos para captação de recursos na forma de bonds, em uma operação absolutamente transparente e de acordo com a legislação financeira. Como a venda dos referidos títulos é intermediada por corretoras e instituições financeiras (como atestam os extratos do banco PKB), a empresa emissora não mantém contato direto com o comprador/beneficiário final.
O Ministério Público Estadual de São Paulo abriu investigação prévia dos fatos que apareceram recentemente durante a investigação federal da Lava Jato que apontam para crimes na esfera estadual. É possível que o órgão paulista chegasse aos mesmos fatos bem antes se tivesse dedicado mais atenção ao escândalo da Alstom e da Siemens, denunciado no exterior desde 2008. A cerimônia cheia de não me toques com que alguns procuradores paulistas tratam autoridades tucanas tem feito muito mal à proteção dos cofres públicos paulistas.
Mesmo depois de ter uma conta bloqueada na Suíça, e de ser acusado de receber propina da Alstom, o ex-conselheiro do Tribunal de Contas do Estado, Robson Marinho, ex-companheiro do governador Alckmin no PSDB, continuou no cargo até recentemente aprovando as contas do governo tucano, inclusive relativas aos trens investigados. Se houvesse maior rigor dos procuradores e magistrados que cuidaram do caso, considerariam a recusa em se afastar deste cargo de controle enquanto investigado uma forma de colocar obstáculos às apurações, motivando até mesmo pedido de prisão preventiva. Por Helena Sthephanowitz.
Créditos: Rede Brasil Atual
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