Para obter uma barriga negativa é necessário diminuir o percentual de gordura corporal abaixo dos níveis aceitáveis, isso significa que este valor será inferior a 10%. O endocrinologista Filippo Pedrinola conta que esse baixíssimo índice pode acarretar danos ao organismo em função dos meios usados para conquistá-lo. "Na maioria das vezes a restrição alimentar é a primeira etapa após a decisão de alcançar a barriga negativa, a pessoa chega a fazer apenas duas refeições por dia comendo alimentos que não fornecem aporte nutricional necessário". Na desnutrição, os problemas de saúde podem variar desde uma anemia, por falta de ferro no organismo, devido à limitação de nutrientes que essa pessoa ingere, até problemas mais graves como coma e morte por anorexia se a situação não for identificada e revertida.
A associação de alimentação deficiente e exercícios para emagrecimento em excesso causará a perda de massa muscular. A ausência de outras fontes de energia para a atividade física, como a gordura e a glicose, fará com que o corpo lance mão do glicogênio - molécula que faz parte da composição do músculo - para conseguir dar andamento à atividade física. "O resultado é que o praticante perderá massa muscular, inclusive na região abdominal", explica Filippo Pedrinola. "A perda de massa muscular e a baixa quantidade de gordura corporal - associadas a padrões genéticos - são os fatores que permitirão a formação da barriga negativa". Vale lembrar que músculos fortes não são apenas uma questão de estética: eles sustentam o corpo, reforçam as articulações e são essenciais para evitar dores e problemas de saúde, principalmente no campo da ortopedia, como hérnias de disco e fraturas.
"A persistência em conseguir a barriga negativa pode virar uma obsessão e único objetivo da vida de um indivíduo e, com isso, vir a se expressar em transtornos psicológicos e distúrbios alimentares, como depressão, anorexia, bulimia", explica o endocrinologista Filippo Pedrinola. "Para ter saúde adequada é essencial ter uma boa imagem de si e estar em equilíbrio, o que não ocorre nesses casos". O especialista recomenda que parentes e amigos fiquem atentos aos quadros que envolvam exercícios extenuantes e dietas muito rigorosas, seja a meta a barriga negativa, o emagrecimento ou a busca por um padrão de beleza inatingível. Descobrindo cedo esse comportamento é possível encaminhar a pessoa para o tratamento adequado e revertendo o problema antes que surjam consequências mais graves.
O endocrinologista João Eduardo Salles, vice-presidente da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (ABESO), explica que chegar ao baixo peso significa um grande risco para a atividade hormonal. "A mulher terá grandes chances de deixar de ovular, portanto menstruar, em função da baixa liberação do hormônio leptina", explica. "A leptina é produzida pelo tecido adiposo e seus níveis caem drasticamente em resposta ao jejum". Uma das funções da leptina é a estimulação ovariana, logo, mulheres com baixo peso podem ter a ovulação e a menstruação interrompidas. A gestação nesse caso é impossível.
O endocrinologista João Eduardo explica que as mamas são compostas, principalmente, por glândulas e gordura. A magreza excessiva causará a diminuição destas duas estruturas mamárias. O hormônio estrogênio é derivado do colesterol, um tipo de gordura, logo, mulheres com baixo percentual de gordura terão níveis igualmente reduzidos de colesterol, a ponto de inibir as glândulas mamárias. "Para que os seios cresçam ou mantenham seu tamanho, eles precisam ser continuamente estimulados pelos hormônios femininos", explica o endocrinologista João Eduardo. "Sem esse estímulo, diminuído em mulheres com baixo peso, o tecido mamário ficará atrofiado". O especialista explica ainda que a redução de gordura corporal também será percebida nesta região: os seios ficaram menores e mais flácidos, uma vez que perderão boa parte do material responsável pela sustentação, a gordura.
A formação dos ossos nas mulheres é dependente do estrogênio, hormônio que age auxiliando na incorporação de cálcio, no desenvolvimento e na manutenção da massa óssea. O baixo peso corporal pode diminuir os níveis de estrogênio. "O pico de massa óssea entre as mulheres acontece até os 35 anos, dos 35 aos 45 anos a mulher apenas manterá a massa óssea, em seguida ela será diminuída", explica o endocrinologista João Eduardo. "Portanto, pode ser que a mulher muito magra não esteja sentindo os efeitos do baixo peso sobre os ossos agora, porém mais tarde eles aparecerão como osteopenia - diminuição primária da massa óssea - e osteoporose, quando os ossos já estão fracos e mais suscetíveis a fraturas". A recomendação do endocrinologista João Eduardo é manter-se sempre dentro do índice de massa corpórea considerado normal: entre 18,5 e 25 para adultos.
O endocrionologista Filippo Pedrinola explica que enfraquecimento abdominal, desvios posturais e dores na coluna também podem ser complicações da barriga negativa. A musculatura tem a função de proteger e dar sustentação aos ossos. O músculo abdominal fraco não consegue sustentar a coluna, com isso, ela fica mais suscetível a desenvolver curvaturas anormais - como a hiperlordose e a escoliose - a adotar posturas viciosas, como manter-se curvado na cadeira do trabalho e até a desenvolver problemas como hérnia de disco.(Minha Vida).
Créditos: WSCOM
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