A Organização Mundial de Saúde (OMS) advertia há muito que na Síria pudesse deflagrar um surto de poliomielite, tendo confirmado no fim de outubro do ano em curso dez casos desta doença perigosa, que pode provocar paralisia parcial ou total e até a morte de pessoas infetadas, a maioria das quais são crianças com idades até aos dois anos de idade. Testes de laboratório adicionais estão sendo efetuados em relação a mais 12 crianças. A atual epidemia, a primeira nos últimos 14 anos, é um resultado direto da complexa situação política no país e na região, afirma o diretor do Instituto Internacional de Novos Estados, Alexei Martynov.
Não há nada de surpreendente que as mais diversas epidemias surjam na situação de catástrofe humanitária em que hoje se encontra a Síria. O país, provavelmente, pode se vir a deparar com outras doenças e não apenas com a poliomielite. O país está sendo assolado pela violência, não tendo condições higiénicas elementares para os habitantes e refugiados. Sem dúvida, o fluxo de refugiados provenientes da Síria, que não cessa há mais de dois anos, a acumulação de pessoas na fronteira com países vizinhos, os campos de refugiados repletos e muitos outros fatores não contribuem para melhorar a situação epidemiológica na região. As péssimas condições sanitárias e o clima quente são um solo perfeito para a propagação de infeções.
Segundo os dados da ONU, cerca de 500 mil crianças sírias não foram vacinadas. Com tal envergadura, o vírus pode propagar-se não apenas na região do Oriente Médio, mas também em todo o planeta. Por isso, a tarefa principal da comunidade médica mundial consiste em não admitir que a doença perigosa se difunda. Tal ameaça é bastante grande visto que todos os dias, cerca de seis mil refugiados abandonam a Síria. Muitos deles vão para a Turquia e o Egito, principais centros turísticos frequentados por europeus. Nos últimos anos, em resultado da diminuição de casos de poliomielite em muitos países europeus, o esquema de vacinação e os tipos de vacinas foram alterados, de forma que, no caso de uma epidemia, não poderão proteger o organismo humano, diz Nelli Sossedova, médica especializada em Biofísica.
Há algum tempo, a OMS colocou uma tarefa global perante todos os países: a humanidade deve entrar sem poliomielite no terceiro milênio. Apesar de em 2006 ainda ter havido países em que foi fixado o vírus da chamada poliomielite selvagem, uma infeção aguda de segundo tipo não se registava desde 1999. Ao mesmo tempo, a partir de 2005, o poliovírus de terceiro tipo circulava apenas em quatro países do mundo. Por isso, os países que se proclamam periodicamente como livres de poliomielite deixaram de utilizar a vacina viva, que produz a mais segura imunidade contra o vírus selvagem, passando a administrar a vacina inativada, que é mais fraca.
Muitos países europeus e os Estados Unidos utilizam hoje a vacina enfraquecida, isto é “morta”. A vacinação não é controlada em alguns países onde muitos pais renunciam a vacinar crianças, considerando que a poliomielite é uma doença do passado. Assim acontece, por exemplo, na Bósnia e Herzegovina, na Ucrânia e na Áustria. Para proteger já hoje tanto as crianças, como os adultos contra a ameaça pandémica de poliomielite, todos os países do mundo devem voltar à vacinação obrigatória, utilizando a vacina “viva”, afirma Nelli Sossedova.
É necessário efetuar uma vacinação maciça e não se pode renunciar hoje a ela. Esta produz uma imunidade estável para toda a vida. Muitos cientistas na Rússia e no estrangeiro lutaram contra esta infeção e, finalmente, encontraram métodos de localizá-la e, posteriormente, de a controlar. Se a vacina fosse administrada sem exceção a todas as pessoas, a todas as crianças recém-nascidas, poderíamos retirar o vírus de circulação, deixando-o apenas em estirpes de laboratório para o desenvolvimento de vacinas para casos extraordinários. Hoje, a vacinação maciça sem exceções é o único método de luta contra a poliomielite.
Na Rússia, todas as crianças são vacinadas obrigatoriamente contra a poliomielite. E não é em vão. O último caso de doença foi registrado no território do país no ano passado. Naquela altura, o vírus fora proveniente do Tajiquistão.
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