Sem um programa intensivo de reflorestamento, boa parte das ações para enfrentar a crise hídrica em São Paulo vai ter efeito reduzido, e o problema tende a se repetir com o passar do tempo, segundo afirmou a coordenadora da Aliança pela Água, Marussia Whateli, hoje (12), na Câmara Municipal, em reunião promovida pela Comissão de Meio Ambiente.
De acordo com um mapeamento por satélite feito pela Fundação SOS Mata atlântica, em parceria com Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe), somente 21,5% da área que compreende o Sistema Cantareira contam com cobertura vegetal. Dos 5 mil quilômetros de extensão dos rios que formam o sistema, somente 1.190 quilômetros estão com a mata preservada. O entorno de outros reservatórios estão em situação semelhante e implicados em outros problemas, como a poluição na represa Billings.
“Nessas condições, uma área produtora de água tem muito menos condições de passar por um período de estiagem prolongado como o que estamos vivendo”, explica Marussia. Sem vegetação, a água infiltra menos no solo, reduzindo o volume de água nos lençóis freáticos, que alimentam nascentes. Além disso, sem mata ocorre erosão do solo, cuja terra vai para os rios e, consequentemente, para os reservatórios. Isso reduz a capacidade de armazenamento, além de tornar a região mais propícia a enchentes.
Malu Ribeiro, coordenadora da Rede das Águas da SOS Mata Atlântica, ressalta que os planejamentos estratégicos de saneamento, como o Plano de Ação da Macrometrópole Paulista, produzido pelo governo de São Paulo, não contam com propostas de reflorestamento. “Nós encaixotamos nossos rios, poluímos nossas águas, destruímos a mata. E só pensamos em buscar água cada vez mais longe. É claro que em algum momento ficaríamos sem água”, afirmou.
As ativistas fizeram suas ponderações após o professor e diretor do Centro Internacional de Referência em Reúso de Água da Universidade de São Paulo (USP) Ivanildo Hespanhol defender uma série de ações para enfrentar a crise, sobretudo voltadas ao tratamento de esgoto. Segundo ele, seria possível aumentar os atuais 16 metros cúbicos por segundo (m³/s) de esgoto tratado para 35m³/s sem realizar obras civis, somente com a mudança do sistema de filtragem atual para o sistema de membranas de ultrafiltração.
“Prioritariamente, podemos ampliar o processo na estação de tratamento de esgoto de Barueri, dos atuais 4m³/s para 11m³/s. E levá-los para o Sistema Cantareira por uma rede de dutos que utilize o caminho do trecho Norte do Rodoanel Mário Covas. A obra toda levaria de dois a três anos”, explicou o professor.
Hespanhol defendeu que, com a ampliação do tratamento nas demais estações, essa água seja lançada nos reservatórios para posterior tratamento e fornecimento à população. E que ao longo do tempo o sistema pode ser melhorado, para que o esgoto seja tratado a ponto de ser potável novamente. “Temos tecnologia para produzir e certificar água potável. Em condições, inclusive, para fornecer à indústria farmacêutica, que exige um grau de pureza da água ainda maior do que para consumo humano”, afirmou.
O professor também propôs que sejam pensados sistemas de captação de água de chuva na região metropolitana, utilizando construções amplas como shoppings e estádios. Isso poderia garantir uma grande reserva de água, que poderia ser utilizada para consumo não potável. “Tem chovido intensamente na área urbana e essa água acaba correndo para os rios e córregos, que estão poluídos”, ponderou Hespanhol.
Já o professor doutor da Escola Politécnica da USP Nelson Rodrigues Nucci defendeu maior controle no adensamento populacional da região metropolitana de São Paulo, além de um efetivo controle de perdas na rede da Sabesp. Segundo ele, havendo controle da demanda, o aumento na oferta de água deve ser de 13 m³/s até 2035. Caso contrário, serão necessários mais 58 m³/s, o que levaria a uma insegurança hídrica ainda maior e à necessidade de se buscar água cada vez mais longe. Hoje a Sabesp produz 69 m³/s de água tratada para a região metropolitana.
CréditoS: Rede Brasil Atual
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