terça-feira, 2 de outubro de 2018

Férias remuneradas e 13º estão em risco com eleição de Bossonaro

A economia brasileira poderia perder, de uma tacada só, cerca de R$ 300 bilhões anuais caso fosse aplicada a medida defendida pelo candidato a vice-presidente de Jair Bolsonaro (PSL), o coronel da reserva Hamilton Mourão (PRTB), de acabar com as férias remuneradas e o 13º salário.
A forte repercussão negativa forçou o candidato da extrema-direita a desautorizar as falas do vice no dia seguinte, por meio de nota oficial redigida ainda no Hospital Albert Einstein, onde se recuperava do ataque a faca sofrido no início de setembro. O candidato, porém, historicamente se posiciona contra os direitos dos trabalhadores.
Mas o valor relativo a esses direitos trabalhistas corresponde a 5,8% Produto Interno Bruto (PIB) e, sem ele, o impacto na geração de emprego e renda seria desastroso, inclusive para os empresários que a chapa de extrema-direita diz defender.
Segundo o Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), nos últimos anos, o pagamento do abono de Natal injetou R$ 200 bilhões, em média, na economia. Só em 2017, foram 83,3 milhões de trabalhadores beneficiados. 
Em relação às férias remuneradas, pagas para cerca de 46,3 milhões de trabalhadores, o valor é de R$ 135,5 bilhões. E ainda tem o acréscimo do 1/3 do salário pago nas férias que eleva para R$ 180,7 bilhões o valor que é injetado na economia.
A batalha dos trabalhadores pelo direito ao 13º salário vem de décadas e só foi possível após muita mobilização e luta. 
Ela é uma reivindicação histórica dos trabalhadores e fez parte da pauta do movimento dos operários desde a década de 30 e foi aprovada em 1962, no auge das mobilizações em que a CGT reuniu sindicatos no Brasil inteiro organizando greves. E a gente vai ter mudanças nesta lei a partir a ditadura civil-militar. E hoje estamos numa grande encruzilhada em que setores ligados a essa ditadura que queria acabar com o 13º, mas não acabou. Agora essa ditadura militar revitalizada, com uma nova roupagem, querem tirar o 13º. É um absurdo um candidato a vice dizer uma coisa dessas. Um absurdo total", disse o historiador Bruno Mandelli.
A lei do 13º foi aprovada em julho de 1962, no governo João Goulart, mas sofreu investidas fortes dos empresários e da mídia. Com a ditadura militar, que começou em 1964, a lei do 13º foi alterada. "Já em 1965, a gente vai ter uma mudança na lei pelo presidente golpista Castelo Branco, que fez uma pequena mudança em relação ao texto anterior, dizendo que tem direito à gratificação todo o trabalhador com carteira assinada. Na lei do João Goulart, dizia que seria pago a todo trabalhador. A mudança coloca a questão da carteira assinada para limitar o pagamento do 13º", disse.
A questão do direito às férias remuneradas também tem um histórico de lutas operárias desde 1925, na República Velha, quando foi aprovada a primeira versão da lei com 15 dias de férias por ano. Entre 1931 e 1934, Getúlio Vargas revoga a lei das férias. O tempo de férias só aumentou para 20 dias em 1949. A regra atual dos 30 dias foi aprovada em 1977. Já o adicional de um terço do salários nas férias surgiu em 1988.
Acabar com as férias remuneradas e o 13º salário no Brasil seria uma tarefa muito difícil para o próximo governo, porque são duas regras que estão no artigo 7º da Constituição, dentro das cláusulas pétreas, que não poderiam ser mudadas. "Ele teria quer ter maioria no Congresso para aprovar uma emenda constitucional. Ele [o Congresso] já aprovou coisas muito impopulares, é verdade, mas tirar o 13º e as férias remuneradas é uma insanidade. É incogitável", disse Thiago Barison, advogado da Associação Brasileira de Juristas pela Democracia (ABJD).
Por outro lado, há brechas na Constituição que permitem algumas mudanças bem negativas nas regras, como a redução do número de dias de férias ou o parcelamento do período, como de fato aconteceu na reforma trabalhista defendida por Bolsonaro. Já a redução do abono de um terço para as férias não corre risco de acontecer, uma vez que essa regra está explícita no texto constitucional.  Edição: Diego Sartorato.
Créditos: Brasil de Fato

sábado, 29 de setembro de 2018

5% mais ricos do Brasil detêm a mesma renda que os outros 95%

Segundo dados do Banco Mundial apresentados no relatório ‘A distância que nos une – Um retrato das desigualdades brasileiras’, se 40% dos mais pobres crescessem 2% acima da média de renda geral anual, ainda assim o mundo chegaria em 2030 com mais de 260 milhões de pessoas em situação de pobreza extrema.
O estudo mostra que o Brasil é um dos países mais desiguais do mundo. Os 5% mais ricos da população recebem por mês o mesmo que os demais 95% juntos. O Banco Mundial registrou mais de 16 milhões de pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza no Brasil em 2017.
Durante o 2º Fórum da Rede do Bem, o coordenador de campanhas da Oxfam Brasil, Rafael Georges, falou sobre o trabalho desenvolvido pela organização. Em parceria com outras entidades, a Oxfam Brasil concentra esforços na redução das desigualdades conforme estabelecido nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.
Georges é cientista social, mestre em ciência política pela UnB e doutorando em ciências políticas na Universidade de Brasília (UnB). Além disso, é um dos autores do relatório ‘A distância que nos une’, publicado em 2017 com coordenação de Katia Maia, diretora executiva da Oxfam Brasil.
Atualmente, o brasileiro que recebe um salário mínimo precisaria trabalhar durante 19 anos para ganhar o que uma pessoa que faz parte do 0,1% mais rico ganha em um mês. É uma diferença que, segundo Georges, não existe em outro país com dados disponíveis.
A desigualdade de renda no Brasil tem sexo e cor: a Oxfam afirma que na base da pirâmide estão as mulheres, que em 2015 ganhavam 62% do que ganham os homens, além da população negra, que no mesmo ano ganhava 57% do que ganham pessoas brancas.
“Os estudiosos vão tentando justificar porque os negros compõem os pobres no Brasil (…). A investigação sobre racismo é importante, mas precisa partir do pressuposto de como solucionar o racismo no país. Desde 2011 existe uma estagnação da equiparação salarial entre negros e brancos no Brasil”, diz Georges.
O cientista social apontou a relação entre o ODS 1 (Erradicação da pobreza) e o ODS 10 (Redução das desigualdades). “É impossível reduzir a pobreza, seja no Brasil ou no mundo, sem reduzir a desigualdade”. A Oxfam acredita que ações pontuais para erradicação da pobreza e combate à fome não sejam o suficiente. Para a organização, são necessários programas estruturados a longo prazo, além de políticas de fortalecimento dos estados. As desigualdades dentro dos países e entre as nações devem ser reduzidas para que a pobreza seja suprimida.
A Oxfam trouxe um questionamento sobre a impossibilidade de erradicar a pobreza com o modelo econômico que temos hoje, apresentando a necessidade de rever o modelo econômico para redução das desigualdades, e fazer com que a economia seja mais inclusiva. Por: Adriana Brandão. Foto: Pe. Djacy.

quinta-feira, 27 de setembro de 2018

Menos de 10% dos municípios brasileiros possuem UTI

Os leitos de Unidade de Terapia intensiva (UTI) em estabelecimentos públicos, conveniados ao Sistema Único de Saúde (SUS) ou particulares estão disponíveis em somente 532 dos 5.570 municípios brasileiros. Isso significa que menos de 10% dos municípios do país possuem esse tipo de leito.
De acordo com um estudo divulgado pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), os números revelam uma realidade alarmante: hospitais siperlotados, com pacientes à espera de infraestrutura apropriada.
Ao todo, o Brasil possui quase 45 mil leitos de UTI, segundo informações do Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde. Pouco menos da metade (49%) está disponível para o SUS. A outra está reservada à saúde privada, que atende atualmente 23% da população. Embora o número de leitos de UTI tenha aumentado em 5,7 mil ao longo dos últimos oito anos, a quantidade de leitos ainda é suficiente.
O levantamento também aponta que só o Sudeste concentra 23.636 (53,4%) das unidades de terapia intensiva de todo o país. Já o Norte possui a menor proporção: apenas 2.206 (5%) de todos os leitos. Os dados revelam, ainda, que os sete estados da região Norte possuem juntos menos leitos de UTI no SUS (1.227) do que São Paulo (5.358), Minas Gerais (2.742), Paraná (1.748), Rio de Janeiro (1.626) e Rio Grande do Sul (1.506). Por: Isabela Alves. Foto:Google.

terça-feira, 25 de setembro de 2018

Papa Francisco alerta contra volta do totalitarismo


O papa Francisco fez um alerta no domingo 23 contra o revisionismo histórico e um possível avanço de ideologias totalitárias. Em viagem à Lituânia, ele lembrou o extermínio dos judeus pelos nazistas no país báltico, advertindo contra o ressurgimento de sentimentos antissemitas.
A visita do pontífice coincide com os 75 anos da destruição do gueto de Vilnius, estabelecido pela Alemanha nazista na capital da Lituânia. Milhares de pessoas morreram de fome, doenças e maus-tratos no local ou foram deportadas dali para campos de concentração. "Há 75 anos, esta nação presenciava a destruição definitiva do gueto de Vilnius. Assim, tinha fim a aniquilação de milhares de judeus que começara dois anos antes", afirmou o papa a 100 mil fiéis reunidos para uma missa na cidade de Kaunas, a segunda maior do país.
Segundo historiadores, cerca de 195 mil pessoas – o que representa quase toda a população judia da época – morreram nas mãos dos nazistas durante a ocupação alemã na Lituânia, de 1941 a 1944. Hoje vivem cerca de 3 mil judeus no país, que conta com uma população 80% católica.
Francisco pediu então "o dom do discernimento para detectar a tempo qualquer reaparecimento dessa atitude perniciosa, qualquer sopro daquilo que pode manchar os corações de gerações que não viveram aqueles tempos e podem ser enganados por cantos de sereia".
Após a missa, o papa alertou ainda contra aqueles que querem "submeter os mais frágeis, usar a força em qualquer de suas formas, impor um modo de pensar, uma ideologia, um discurso dominante, usar a violência ou repressão para oprimir".
"Quantas vezes aconteceu de um povo acreditar ser superior, com mais direitos adquiridos, com mais privilégios a preservar ou conquistar?", questionou.
Ele se despediu dos fiéis em Kaunas clamando por uma "atenção delicada aos excluídos e às minorias" e pedindo para que "se afaste das culturas a possibilidade de aniquilar o outro, de colocar o outro de lado, de continuar descartando quem nos incomoda e ameaça nosso conforto".
Seu alerta vem num momento em que movimentos políticos de extrema direita, xenófobos e neofascistas ganham força em várias partes da Europa, incluindo a Alemanha, a própria Lituânia e, mais perto do papa, a Itália.
Além de lembrar as vítimas do nazismo, o pontífice lamentou também os horrores cometidos durante a ocupação soviética. Estima-se que mais de 50 mil lituanos morreram em campos, prisões e durante deportações.
De volta a Vilnius, Francisco visitou o museu que um dia abrigou um prédio do extinto serviço secreto soviético, a KGB, onde opositores do regime foram presos, torturados e mortos. Ele visitou celas e a sala das execuções, enquanto o bispo de Vilnius, Gintaras Linas Grusas, contava algumas das terríveis histórias ali registradas.
"Neste lugar lembramos as pessoas que sofreram como resultado da violência e do ódio e as que sacrificaram suas vidas pelo bem da liberdade e da justiça. Rezei a Deus todo poderoso para dar à Lituânia o dom da paz e da reconciliação", escreveu o papa no livro do museu.
Francisco chegou no sábado à Lituânia para uma viagem que incluirá ainda a Estônia e a Letônia, em homenagem ao aniversário de 100 anos de independência dos países bálticos. As três nações se declararam independentes da Rússia ao fim da Primeira Guerra Mundial, mas acabaram sofrendo com ocupações nazistas e soviéticas nas décadas seguintes. Por Deutsche Welle. Foto: Max Rossi / Reuters.
Créditos: Carta Capital

segunda-feira, 24 de setembro de 2018

23,3 milhões de brasileiros vivem com até R$ 232 por mês

Entre 2014 e 2017, o número de pessoas vivendo em situação de extrema pobreza cresceu no Brasil. Atualmente, 23,3 milhões de pessoas (11,2% da população) vivem abaixo da linha de pobreza, com renda de até R$ 232 por mês. A miséria cresceu 33% nos últimos quatro anos. São 6,3 milhões de novos pobres. Os dados são do levantamento ‘Qual foi o impacto da crise sobre a pobreza e a distribuição de renda?’, realizado pelo FGV Social.
A pesquisa aponta avanços na redução do número de pessoas vivendo abaixo da linha de pobreza nas últimas três décadas. Dentre os momentos que diminuíram as desigualdades no Brasil estão o Plano Real, em 1994, e as políticas sociais implantadas a partir de 2003. Mas, com o retrocesso nos últimos anos, a pobreza voltou no ano passado aos níveis de 2011.
Segundo o FGV Social, a desigualdade aumentou por 11 trimestres consecutivos. Tal situação não ocorria desde 1989, quando foi registrado um recorde histórico nesse sentido. Dentre as razões para o aumento da pobreza estão a crise de desemprego, alta inflação e a redução de políticas sociais. Por: Isabela Alves.

sexta-feira, 21 de setembro de 2018

Mais da metade dos brasileiros não tem diploma do ensino médio

O Brasil é um dos países com o maior número de pessoas sem diploma do ensino médio. De acordo com o estudo Um Olhar sobre a Educação, divulgado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), mais da metade dos adultos (52%) com idade entre 25 e 64 anos não atingiu esse nível de formação. O índice de pessoas que não cursaram o ensino médio no Brasil representa mais do que o dobro da média da OCDE.
Dentre os 46 países analisados, o Brasil registrou o segundo maior nível de desigualdade de renda, ficando atrás apenas da Costa Rica.
Em proporção de adultos sem o ensino médio completo, México (62%) e Costa Rica (60%) foram os piores colocados do levantamento.
Na Colômbia, 46% dos adultos na faixa de 25 a 64 anos não concluíram o ensino médio; na Argentina, 39%; e, no Chile, 35%.
A OCDE afirma que as pessoas que deixam a escola antes de completar o ensino médio podem enfrentar dificuldades no mercado de trabalho, menores salários, além de ter competências cognitivas inferiores dos que possuem formação, como memória, habilidades motoras, atenção, entre outras.
Além disso, a organização também ressaltou o número baixo de alunos com mais de 14 anos de idade inscritos em instituições de ensino no Brasil. Apenas 69% daqueles entre 15 e 19 anos e somente 29% dos jovens de 20 a 24 anos estão matriculados. A média nos países da organização é, respectivamente, de 85% e 42%. Por: Isabela Alves. Foto: USP.
Créditos: Observatório do Terceiro Setor

quinta-feira, 20 de setembro de 2018

Uma em cada nove pessoas no mundo passa fome

Em 2017, a fome aumentou no mundo e atingiu quase 821 milhões de pessoas. Este é o terceiro ano consecutivo do aumento deste número, segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO).
Segundo o relatório ‘O Estado da Segurança Alimentar e Nutrição no Mundo 2018′, as principais causas do avanço da subnutrição foram os conflitos armados, crises econômicas e fenômenos naturais extremos, como secas e enchentes.
Outra razão foi a mudança no padrão de chuvas, com o início tardio ou precoce das temporadas de precipitações e sua distribuição desigual ao longo do próprio período chuvoso.
A agência da ONU estima que, em todo o mundo, 83% de todas as perdas e danos à agricultura foram causadas por secas em 2017. Inundações responderam por 17% desses impactos negativos sobre a produção de alimentos.
A seca foi uma das piores dos últimos dez anos e provocou reduções significativas nas safras, com perdas estimadas entre 50% e 90%. Por conta disso, mais de 3,6 milhões de pessoas precisaram de assistência humanitária. Por: Isabela Alves.